Declus

Tentando tapar os buracos na minha cabeça...

terça-feira, agosto 12, 2025

Deméter e o Cansaço do Ciclo Infinito

 
🌾 Deméter sabia o que era perder.

Quando sua filha Perséfone foi levada ao submundo, a deusa da colheita entrou em luto — e o mundo sentiu.
📎 As plantas murcharam, o frio tomou conta e, assim, nasceu o inverno.

A mitologia grega usou essa dor para explicar algo que todo mundo conhece: a vida é feita de ciclos.
A perda dá lugar ao retorno.
A primavera sempre vem… mas só depois de um inverno longo e silencioso.


🔄 Ciclos modernos (e igualmente cansativos)

Hoje, não dependemos de colheitas para sobreviver, mas nossos ciclos são outros:

  • Trabalhar, pagar contas, descansar um pouco, repetir.

  • Se apaixonar, perder, superar, tentar de novo.

  • Animar-se no começo do ano e, em agosto, já sonhar com as férias.

📎 Assim como Deméter, carregamos uma exaustão silenciosa: o peso do recomeço inevitável.


🕰 O lado bom (e o lado cruel) do eterno retorno

Há quem ache conforto no previsível: o que desce, sobe; o que morre, renasce.
Mas há dias em que parece que o ciclo não é renovação — é prisão repetitiva.
📎 Como um despertador sem botão de soneca: acordar, repetir, fingir surpresa quando o dia termina igual.

Será que somos todos pequenos Deméter, tentando forçar a primavera com as mãos?


🌱 O descanso da terra (e o nosso)

Na mitologia, o inverno de Deméter não era punição. Era pausa.
O solo precisava parar para depois florescer de novo.
Talvez seja isso que esquecemos: até o mito deu um tempo.

📎 Se a deusa da colheita pôde desacelerar, por que nós não?
Quem sabe, em vez de lutar contra os ciclos, devêssemos aprender a descansar dentro deles.


💭 E se aceitássemos os invernos pessoais como parte da história?

Pode soar estranho, mas às vezes o frio é necessário para preparar o calor que vem depois.
Deméter, no fundo, nos lembra:
📎 não há primavera sem pausa, nem colheita sem semente enterrada.

segunda-feira, agosto 11, 2025

📌 Post Extra — O Sagrado e o Humano

Se a religião fosse apenas um hobby, como colecionar selos ou aprender violão, não teria atravessado milênios, nem sobrevivido às guerras, às revoluções científicas e à internet.

Desde que o ser humano aprendeu a enterrar seus mortos, parece incapaz de viver sem tentar costurar uma narrativa maior que explique a própria existência. É aí que entra a religião: como sentido pronto, conforto imediato, e linguagem para o inexplicável.

Sigmund Freud, em O Futuro de uma Ilusão (1927), descreveu a religião como uma “ilusão necessária”, nascida do desejo por proteção e consolo diante da insegurança e da morte. Para ele, trata-se quase de uma “neurose coletiva” — não como ofensa, mas como um mecanismo psíquico natural, uma forma de nos acalmar diante do caos.

Já Émile Durkheim, pai da sociologia, via a religião como cimento social. Em As Formas Elementares da Vida Religiosa (1912), argumenta que ela nasce da necessidade de unir o grupo em torno de valores e símbolos comuns. A religião, para ele, é menos sobre adorar deuses e mais sobre a própria sociedade se venerando.

Carl Gustav Jung foi além: para ele, a religião expressa arquétipos do inconsciente coletivo. Não é opcional, como um passatempo; é manifestação inevitável de padrões profundos da psique humana — especialmente na busca por sentido.

Mircea Eliade, historiador das religiões, via o “sagrado” como dimensão fundamental da experiência humana. Para ele, somos homo religiosus por natureza: desde as primeiras pinturas rupestres até as catedrais, sempre marcamos o mundo com símbolos e rituais para lembrar que existe algo “além”.

E Viktor Frankl, criador da logoterapia e sobrevivente de campos de concentração, resumiu de forma talvez mais humana: a maior necessidade do homem é encontrar sentido. Para muitos, a religião cumpre exatamente esse papel — oferecer uma narrativa para a vida e para a morte.

Talvez por isso discutir religião seja tão difícil. Não é só sobre dogmas, ritos ou livros sagrados, mas sobre uma parte íntima da arquitetura mental humana. Um espaço onde, mesmo no silêncio, sempre ecoa a pergunta: por quê?

💭 Epígrafe:

"O homem pode viver sem muitas coisas. Mas até hoje ninguém viveu sem uma história para acreditar." 

🩷 Paulinha

🎶 “I just remembered that time at the market
Snuck up behind me and jumped on my shopping cart
And rolled down aisle five
You looked behind you to smile back at me
Crashed into a rack full of magazines
They asked us if we could leave”

— John Mayer, Comfortable


🎈 Hoje minha amiga faria aniversário.🩷

Penso nela todos os dias.
Depois de cinco anos, a saudade se aconchegou num canto,
e a tristeza diminuiu… mas nunca foi embora.

Sinto falta de todas as nossas conversas.
E sentirei pra sempre.

🧠 Reflexo Filosófico — O que você resiste… assiste (Jung e o monstro no porão)

 
"Aquilo que você resiste, persiste."

Carl Gustav Jung

O problema de fingir que não há um monstro no porão é que ele começa a arrastar móveis lá em cima. E, mais cedo ou mais tarde, ele sobe pra tomar café com você.

Jung não falava de monstros mitológicos, mas de algo muito mais próximo: nossos medos, traumas, frustrações e desejos inconfessáveis. Tudo aquilo que a gente empurra pro fundo da mente achando que desaparece. Só que não desaparece. Vira sintoma.

A frase resume um dos pilares da psicologia junguiana: recalcar não resolve, só transforma o problema em outra coisa. Aquilo que você evita olhar de frente acaba se infiltrando por trás — nos sonhos estranhos, nas escolhas erradas, nos estalos de raiva sem aviso.

O que você resiste não apenas persiste: ele se disfarça. E às vezes se veste de trabalho excessivo, de distração constante ou de um otimismo exagerado. O porão psicológico vira palco para uma peça cujo roteiro você esqueceu que escreveu.

Jung defendia o encontro com a sombra: reconhecer o que é incômodo em si mesmo, sem fugir, sem idealizar. Porque só quem reconhece sua sombra pode integrar-se de verdade. O resto é pose.

Talvez seja hora de descer as escadas. Levar uma lanterna. E, com sorte, descobrir que o monstro só queria ser escutado.

Por que a humanidade inventou o fim do mundo?

 

Desde que contamos histórias, contamos também sobre o fim delas.

Do apocalipse bíblico às previsões de TikTok, do calendário maia ao meteorito que (supostamente) vem nos visitar, parece que a humanidade tem um caso de amor com o colapso.
Não é só medo — é fascínio.
📎 Afinal, por que tanta gente gosta de imaginar como tudo pode acabar?


📜 Os primeiros “fins”

Os antigos já temiam a fúria divina.
Os vikings falavam do Ragnarök, um fim sangrento seguido por um mundo renovado.
Os hindus descrevem ciclos de destruição e renascimento.
📎 Mesmo as civilizações que viam o tempo como algo circular criaram um ponto de quebra, como se precisassem de uma catarse cósmica para começar de novo.


📺 Do cinema às redes sociais

Hoje, nossa imaginação de fim do mundo ganhou novas plataformas:

  • Zumbis invadindo cidades.

  • Meteoros “confirmados” (só que não).

  • Vídeos curtos prevendo catástrofes ambientais, tecnológicas ou sociais.

E, curiosamente, faz sucesso.
📎 Talvez porque o fim do mundo seja um grande exercício de “e se?”.
O que faríamos? Quem salvaríamos? O que realmente importa?


🧠 Medo, controle e esperança

Psicólogos sugerem que imaginar o fim ajuda a lidar com a ansiedade do presente.
Se tudo acabar, pelo menos teremos uma explicação.
E se houver sobrevivência, um recomeço limpo, sem boletos acumulados nem reuniões no calendário.

📎 O apocalipse, no fundo, tem uma estranha dose de esperança: se o mundo acaba, podemos começar de novo.


📖 E se o fim não for o fim?

Talvez a humanidade tenha inventado o fim do mundo para lembrar de uma coisa simples:
nada é garantido, mas quase tudo pode ser reconstruído.
E, enquanto houver alguém para contar uma história — seja num pergaminho antigo ou num vídeo vertical de 15 segundos — sempre haverá um próximo capítulo.


Fim do mundo ou início de outra história?
Talvez a pergunta real seja: qual história você quer começar depois que tudo acabar?

domingo, agosto 10, 2025

Quando a arte enganou a ciência

🎨 Às vezes, a arte não apenas engana os olhos — ela engana a própria ciência.

Museus respeitados, especialistas com décadas de experiência e até prêmios de prestígio já foram conquistados por obras que, no fim das contas, não eram o que pareciam ser.
Pinturas atribuídas a mestres renascentistas que saíram de oficinas modernas. Esculturas “antigas” moldadas na semana passada. Fotografias “históricas” produzidas com retoques digitais engenhosos.


🖌 O poder da falsificação brilhante

Um dos casos mais famosos é o de Han van Meegeren, um pintor holandês que, nos anos 1930 e 40, falsificou quadros no estilo de Johannes Vermeer.
Seus trabalhos enganaram críticos, colecionadores e até o governo nazista, que comprou uma de suas “obras raras”.
📎 Só foi desmascarado quando ele mesmo confessou — para não ser acusado de colaborar com os nazistas vendendo patrimônio cultural.


🏺 Quando o museu vira cúmplice involuntário

Em 2011, o Museu de Belas Artes de Boston anunciou com orgulho a aquisição de uma escultura romana…
que acabou sendo de 2007.
O que enganou os especialistas?
📎 A habilidade técnica impecável e a “pátina” cuidadosamente envelhecida pelo falsário.

E esses não são casos isolados:


🔬 Quando o olhar se apaixona… a lógica falha

A ciência do diagnóstico artístico envolve espectroscopia, carbono-14, microscopia de pigmentos.
Mas, antes disso tudo, vem o olhar humano — e ele é, por natureza, emocional.
📎 Quando a obra “parece certa”, ela se torna verdade… até que alguém prove o contrário.


💭 O que é verdade quando o olhar se apaixona?

Talvez o problema não seja só a falsificação, mas o desejo de acreditar.
Queremos tanto descobrir uma obra perdida, um tesouro escondido, um gênio secreto, que vemos o que queremos ver.
E a arte, que já nasceu para provocar emoção, aproveita essa brecha como ninguém.


No fim, talvez a pergunta não seja “como não cair em falsificações”, mas sim:
o quanto importa se algo é falso… se ele realmente te tocou?

sábado, agosto 09, 2025

O dia em que a Terra engoliu uma cidade

 

🌍 Imagine acordar e descobrir que a sua cidade… sumiu.

Pode parecer roteiro de filme-catástrofe, mas aconteceu em Bayou Corne, uma pequena comunidade no estado da Louisiana, EUA.
Em 2012, um sumidouro — um desses colapsos súbitos do solo — engoliu árvores, estradas, casas inteiras… e o senso de segurança de todo mundo que vivia ali.

De repente, o que era quintal virou lago.
O que era terra firme virou um aviso brutal: nem tudo que parece sólido realmente é.


🕳 O que é um sumidouro?

Sumidouros (ou dolinas) ocorrem quando o solo cede sobre cavernas subterrâneas naturais ou causadas por atividade humana, como mineração ou perfuração.
No caso de Bayou Corne, uma falha em uma caverna de sal, usada para extração industrial, fez o terreno simplesmente desaparecer.

📎 Resultado: um buraco com mais de 30 hectares de área — e uma comunidade evacuada para sempre.


🏚 Quando o chão desaparece (literalmente)

Para quem vive ali, não foi só um acidente geológico.
Foi o fim de uma história: vizinhos separados, memórias abandonadas, mapas redesenhados.

E a lição é incômoda:
📎 Às vezes, o que parece eterno pode sumir da noite para o dia.
Seja uma cidade, uma relação, uma certeza.


🌐 Outros buracos que engoliram a rotina

Bayou Corne não está sozinho no catálogo das falhas inesperadas:

  • Cidade da Guatemala (2010): um sumidouro abriu um buraco quase perfeito de 30 metros de largura e 60 de profundidade — engolindo um quarteirão inteiro.

  • Mar Morto (Israel/Jordânia): centenas de sumidouros surgiram nas margens por causa da exploração mineral e do recuo das águas.

  • Flórida (EUA): um sumidouro em 2013 engoliu um quarto de uma casa enquanto um homem dormia (seu corpo nunca foi recuperado).

📎 O que essas histórias mostram? Que a Terra está em movimento, mesmo quando parece parada.


🌐 A metáfora que não é metáfora

Muita gente tenta usar o caso como metáfora: “o chão sumiu sob os pés”.
Mas o que aconteceu em Bayou Corne não é metáfora — é geologia pura, mostrando que a estabilidade é uma ilusão confortável.

📎 E se a gente pensar bem, quantas coisas na vida não são assim?
A gente constrói sobre terrenos — emocionais, profissionais, sociais — que parecem seguros… até não serem mais.


💭 No fim, a Terra só nos lembra que ela tem seus próprios planos.

📎 E que, às vezes, tudo o que podemos fazer é nos adaptar.
Ou, como disseram alguns moradores, “começar de novo, em outro lugar, com um olho a mais no chão.”

🔎 Olhar Curioso — A Peça de Teatro Onde Lincoln Morreu (e Outras Obras Que Viraram Ninguém)

Em 14 de abril de 1865 , no Ford’s Theatre em Washington, a plateia assistia a uma comédia leve chamada Our American Cousin . Era uma noite...