Declus

Tentando tapar os buracos na minha cabeça...

segunda-feira, setembro 08, 2025

🌿 O Lugar Onde a Vida Acalma

 
Esses dias ouvi uma atriz contar que visitou o pai em outro país. Ele vive no interior, cultivando quase tudo que consome: hortaliças frescas, frutas, até queijo feito com o leite das cabras da propriedade. Uma vida quase autossuficiente, idílica, dessas que parecem saídas de um livro antigo — simples, mas cheia de sentido.

E eu, aqui, divido uma casa com meu pai e meus irmãos. Nosso “sítio” cabe em vasos: flores, temperos, alguns chás e frutíferas tímidas. No inverno, colhemos morangos. Agora, amoras. Plantamos sementes de tomate que daqui uns 90 dias vão virar salada. E, pasme: até um pé de café resiste firme na calçada, dando frutos como quem insiste em lembrar que a vida também nasce do inesperado.

Nada de cabras, é verdade. Mas temos visitantes mais livres: cambacicas, beija-flores, sanhaços, sabiás, rolinhas. Cada aparição deles é quase uma epifania silenciosa, um presente do universo entregue sem bilhete.

Aos 51, só consigo pensar que meu futuro ideal não é tão diferente daquele pai da atriz: um sítiozinho tranquilo, plantar na terra, conviver com alguns animais — não pelo consumo, mas pela companhia. Um lugar onde ainda caibam meus mais de 600 livros e, quem sabe, uma cadeira de balanço que me ensine a ver o tempo passar sem pressa.

Porque no fundo, descanso não é ausência de movimento — é presença de sentido. Para uns, é viajar o mundo. Para outros, é se perder na agitação da cidade. Para mim, talvez seja apenas o canto de um sabiá, uma fruta colhida da árvore e a paz de saber que a vida, enfim, encontrou um compasso mais sereno.

📌 Epígrafe:
“Cada um sonha o seu paraíso. O meu tem árvores, livros e silêncio.”

domingo, setembro 07, 2025

📌 Post Extra — “Nada Importante Aconteceu Hoje”

 
A frase já foi atribuída a reis diferentes, em dias que mudaram o mundo.

Dizem que Luís XVI, rei da França, teria escrito em seu diário, em 14 de julho de 1789:

“Nada importante aconteceu hoje.”
O mesmo dia em que a Bastilha caiu e a Revolução Francesa começou.

Dizem também que George III, rei da Inglaterra, teria registrado no diário em 4 de julho de 1776:

“Nothing of importance happened today.”
O mesmo dia em que os Estados Unidos declararam sua independência.

Historiadores discutem a veracidade. Talvez nunca tenham dito. Mas não importa: o mito já basta. A frase virou símbolo de ironia histórica — o lembrete de que o hoje, tão banal, pode ser o ontem grandioso de amanhã.

E, cá entre nós, quem nunca teve vontade de usar a mesma frase?
— Quando o mundo comemora uma eleição que você vê como desastre.
— Quando um amor antigo aparece com alguém novo.
— Quando a vida insiste em mudar de rumo, e tudo o que você queria era um botão de skip.

O “nada importante aconteceu hoje” é, no fundo, um mecanismo de defesa. Uma forma de tentar desbotar a dor, minimizar a perda, negar a mudança. Um jeito de dizer: “Se eu fingir que nada aconteceu, talvez doa menos.”

Mas a história ensina outra coisa: por mais que alguém declare que nada importa, os dias não pedem licença. A Bastilha cai, a independência é proclamada, o coração se quebra. E, ainda assim, o tempo segue registrando.

Talvez a frase seja menos sobre negar os acontecimentos e mais sobre reconhecer nossa pequenez diante deles. Porque, no fundo, sempre há algo acontecendo — seja no palco da história, seja no palco íntimo da vida.

Epígrafe:
“Às vezes, dizer que nada aconteceu é só outra forma de confessar que tudo mudou.”

🍊 A Metade da Laranja e Outras Metáforas Que Azedam

 Existe mesmo “a pessoa certa”?

A cara-metade, a alma gêmea, a tampa da panela (ou da frigideira esquecida no fundo do armário)?
Crescemos cercados dessas metáforas como se o amor fosse um quebra-cabeça, e cada um estivesse condenado a procurar pela peça que falta.

Mas talvez o amor seja menos sobre encaixe perfeito e mais sobre dois absurdos tentando funcionar juntos. Porque, sejamos honestos: ninguém é tão redondo assim. Somos todos cheios de rachaduras, arestas, manias. O que chamam de “compatibilidade” pode ser, no fundo, só uma boa negociação entre as nossas loucuras.

A ideia da metade da laranja soa romântica, mas também carrega uma armadilha: a de acreditar que somos incompletos sozinhos. E não somos. Pelo contrário: só quando aprendemos a ser inteiros é que conseguimos realmente dividir algo com alguém. Metade + metade não dá um inteiro. Dá duas metades carentes tentando se completar em vão.

O problema é que a cultura nos treina a esperar esse encaixe mágico. Filmes, músicas, novelas, apps de namoro — todos vendem a fantasia de que “lá fora” existe alguém feito sob medida para nós. Quando, na prática, o que existe são encontros improváveis entre pessoas reais, cheias de falhas e histórias inacabadas.

No fim, talvez a questão não seja achar a tampa perfeita para a panela, mas aprender a cozinhar com o que se tem — às vezes até queimando a borda, mas rindo junto no processo.

E é nesse ponto que a metáfora azeda dá lugar a algo mais honesto: o amor como parceria, não como salvação. O encontro de dois inteiros que sabem caminhar sozinhos, mas escolhem — e isso é essencial — caminhar juntos.

Epígrafe
“Amar não é completar-se. É transbordar ao lado de quem também já aprendeu a ser inteiro.”


sábado, setembro 06, 2025

Loki: O Deus da Mentira, da Égua e do Lobo

 Na mitologia nórdica, deuses não são heróis perfeitos. São intensos, contraditórios, falhos — e nenhum deles encarna melhor essa mistura que Loki.

Ele é o trapaceiro por excelência: ora salva os deuses com suas astúcias, ora coloca todos em risco com suas travessuras. É também pai (e, em um episódio nada discreto, mãe) de algumas das criaturas mais bizarras do mito: o lobo Fenrir, a serpente Jörmungandr e até Sleipnir, o cavalo de oito patas que ele mesmo pariu depois de se transformar em égua.

Loki é o deus que ri no meio da tragédia e que provoca a catástrofe só para ver o que acontece. Um personagem que transita entre a comédia e o apocalipse, lembrando que nem sempre o caos é inimigo: às vezes é o empurrão que quebra estruturas velhas e obriga o mundo a se reinventar.

Talvez seja por isso que ele fascina tanto até hoje — dos poemas antigos à Marvel. Loki é instável, imprevisível e humano demais. Ele é a personificação de nossas falhas: do impulso que atrapalha, da mentira contada sem pensar, da piada fora de hora, do erro que vira avalanche. Um lembrete de que não somos feitos para ser perfeitos, mas para oscilar — e, mesmo assim, seguir.

Epígrafe:
“O caos não pede desculpas. Ele só sorri — e segue em frente.”


🌞 Post Extra — O Que Você Faria Se o Sol Desaparecesse?

 Imagine o cenário: o Sol desaparece. Simples assim.

A Terra está a 150 milhões de quilômetros dele. A luz que nos aquece demora pouco mais de oito minutos para chegar até aqui. Isso significa que, se o Sol sumisse agora, ainda teríamos esse tempo de vida antes de sermos lançados ao frio do espaço infinito.

O que você faria nesses oito minutos?

Ligaria para alguém (se fosse possível)?
Pensaria em quem mais importa?
Rezaria?
Ou apenas ficaria em silêncio?

Eu sei o que faria.
Provavelmente me sentaria em um banco qualquer e admiraria o fim.
Porque um dos meus maiores medos não é morrer, mas partir sem ter entendido direito o porquê de tudo. Não perderia tempo amaldiçoando o destino nem tentando buscar explicações sobre a razão de o Sol ter desaparecido. Apenas olharia. Estaria presente.

Tentaria perceber o mundo, sentir a realidade.
Um último respiro consciente.

Mas aqui vai o segredo: é muito improvável que o Sol desapareça antes de nós. O estranho mesmo é que, apesar dessa segurança cósmica, raramente paramos para olhar o mundo como ele é — agora.

A vida nos empurra para frente e para trás, entre passado e futuro, mas o único lugar real sempre foi este: o instante presente.

Então, faça o exercício:
Encontre um lugar tranquilo (o melhor que puder).
Sente-se, deite-se, respire.
Por alguns minutos, esqueça os boletos, os problemas, as comparações.
Apenas esteja. Apenas seja.

E depois, agradeça.
Porque o Sol ainda estará lá.
E você, por mais improvável que seja, também.

✨ Epígrafe:
“Não precisamos esperar o fim do Sol para aprender a estar aqui. O presente já é milagre suficiente.”

sexta-feira, setembro 05, 2025

☕ Três Goles de Café — O que é o Número de Ouro?

 ☕ Primeiro gole:

O Número de Ouro, também chamado de proporção áurea, é uma constante matemática que aparece quando uma linha é dividida de forma “perfeita”. É aquele famoso 1,618… que muita gente já viu sem perceber.

Segundo gole:
Da arte grega às catedrais góticas, de Leonardo da Vinci ao design moderno, essa proporção aparece como sinônimo de equilíbrio e harmonia. Até conchas do mar e galáxias parecem obedecer ao mesmo padrão — como se a matemática fosse a arquiteta secreta do universo.

Terceiro gole:
No fim das contas, o Número de Ouro é mais uma lente do que uma lei. Serve para lembrar que beleza não é só gosto: há também medidas invisíveis que nos atraem. Mas cuidado: nem tudo que parece perfeito precisa ser áureo — às vezes o encanto está justamente na assimetria.

📜 Epígrafe:
“Entre a ordem e o caos, o infinito encontra seu desenho.”

✍️ Post Extra — A dor de se manter “reto” (ou quase isso)

 Às vezes sinto que faço papel de bobo.

Seja quando deixo alguém passar na frente, quando entrego umas moedas para alguém na rua, ou até quando penso que não mereço o amor ou a amizade de certas pessoas. Nessas horas, me convenço de que “deixar a pessoa em paz” é a escolha mais sensata. E, por algum motivo, esse tal “caminho do meio” dói.

Não é que eu esteja nele o tempo todo — pelo contrário. Passei anos justamente tentando chegar perto dele. Me recuso a levar vantagem indevida, mesmo quando ninguém descobriria. Mesmo quando a vida parece quase me convidar a trapacear. Já fiz isso no passado, e às vezes me dei bem — muito bem, por sinal. Mas a sensação que ficou não foi vitória, foi dívida.

Hoje engulo o choro, me resigno, sigo. Tento acertar, tento me redimir. Mas, no fundo, a pergunta continua cutucando: será que deveria ter aproveitado aquela brecha, aquele “atalho”? Talvez. Só que, em algum ponto, percebi que não quero isso há muito tempo.

Vejo os amigos rirem quando enganam alguém, quando “passam a perna” como se fosse troféu. Eu já ri disso também. Hoje, aprendi a não criticar e a não dar lição de moral — não sou perfeito. Ninguém sabe quando vou escorregar de novo. A única diferença é que, quando esse próximo deslize vier, espero que não seja premeditado.

Talvez seja isso o que sobra de consolo: não a perfeição, mas a escolha insistente de continuar tentando. Mesmo que doa. Mesmo que eu me sinta meio idiota. Porque, no fim, ser “reto” é quase sempre perder no curto prazo. Mas talvez seja o único jeito de não se perder de si mesmo.

Epígrafe:
“Não é sobre nunca cair. É sobre saber por que ainda tento andar em linha reta.”


🏟️ A Política do Pão e Circo e Por Que Não Gosto de MMA

  Epígrafe: "O instinto nos força a treinar para a guerra, mas a evolução nos obriga a torcer pela paz." Do Roteiro ao Sangue Rea...