Declus

Tentando tapar os buracos na minha cabeça...

segunda-feira, julho 28, 2025

📌 Post Extra — O Coreano Que Lutou Por Todo Mundo (Literalmente)

 
Dizem que na Segunda Guerra houve um coreano que serviu a três exércitos diferentes — e nenhum por vontade própria.

Capturado pelos japoneses, depois pelos soviéticos, depois pelos nazistas, e por fim pelos americanos, Yang Kyoungjong virou quase um Forrest Gump da guerra moderna.
Historiadores ainda discordam se ele realmente existiu ou se virou lenda com o tempo.
Mas, sinceramente, quem precisa de confirmação quando a metáfora é tão poderosa?


A vida como fronteira

Se for verdade, Yang Kyoungjong atravessou fronteiras, idiomas e ideologias sem escolher nada disso.
Foi jogado de um lado para o outro por uma história maior do que ele.
Não lutava por um ideal, mas por sobrevivência — algo que soa menos heroico... mas muito mais humano.


Metáfora de um século

Se for lenda, ela também diz muito sobre nós:
quantas vezes somos empurrados para guerras que não são nossas?
Não necessariamente bélicas, mas emocionais, profissionais, familiares.
Mudam-se os uniformes: crachás, hashtags, opiniões políticas — e seguimos tentando não morrer por dentro.


Sobreviver também é ato de resistência

Às vezes, não lutar é impossível.
Mas sobreviver pode ser a forma mais silenciosa de resistência.
Como disse um historiador certa vez: “Nem todo soldado é um combatente. Muitos são só sobreviventes em campo inimigo.”


Epígrafe:

“Não importa o uniforme: alguns só querem voltar pra casa.”

🧠 Reflexo Filosófico — A Angústia de Kierkegaard e o Café Frio da Segunda-feira

 

"A angústia é a vertigem da liberdade."
Søren Kierkegaard

Segunda-feira. Café morno na caneca, os olhos vidrados no nada e a alma debatendo-se entre levantar da cama ou renunciar à humanidade. É aí que Kierkegaard sussurra no ouvido: “a angústia é a vertigem da liberdade” — e você, ainda de pantufas, sente-se ofendido por um dinamarquês do século XIX.

É que essa tal liberdade, no fundo, nunca foi tão assustadora quanto agora. Temos mil caminhos possíveis, cursos online de tudo, dez aplicativos de paquera e 15 jeitos diferentes de aquecer o mesmo café. E ainda assim, escolher parece doer mais do que não ter opção.

Kierkegaard via a angústia não como um defeito do ser humano moderno, mas como condição existencial inevitável de quem está consciente. A criança no alto da torre sente tanto medo de cair quanto de poder se jogar. A liberdade não é leveza — é abismo.

E veja bem, ele não era pessimista. Ele acreditava que era preciso atravessar a angústia para chegar à fé, ou a algum sentido que não fosse apenas distração. Mas hoje a gente costuma tapar essa vertigem com notificações, café quente e vídeos curtos que duram menos que uma crise existencial.

A pergunta que fica é: será que a angústia vem porque não sabemos o que fazer...
ou porque sabemos demais?

Enquanto isso, o café esfria.
E você decide entre lavar a louça ou procurar uma nova vida no LinkedIn.

As Moiras e o Controle que Nunca Tivemos

 🧵 Elas não apareciam nos banquetes do Olimpo.

Nem empunhavam raios, tridentes ou arcos.
Mas ninguém — absolutamente ninguém — podia ignorá-las.

📎 Cloto fiava o fio da vida.
Láquesis media o seu comprimento.
Átropos o cortava.

As Moiras.
Três irmãs.
Três destinos.
E nenhum pedido de reconsideração.


🪡 Tecendo o que não controlamos

Na mitologia grega, as Moiras decidiam o curso da vida humana.
Não eram cruéis — apenas firmes.
Não julgavam. Não explicavam.
Apenas teciam.

📎 O fio da vida é uma imagem poderosa:
delicado, contínuo, e inevitavelmente finito.


📅 E então chegou o mundo moderno com seus planners

Hoje, temos planilhas, aplicativos de metas, hábitos em cadeia, blocos de horas.
Vivemos a ilusão de que tudo pode ser otimizado.

Dormir melhor.
Ler mais.
Beber água com limão às 7h05.
E, se possível, prever o que estará sentindo na terça-feira da semana que vem.

📎 Mas as Moiras observam em silêncio.
E seguem fiando.


📉 A frustração vem da falsa promessa de controle

Quantas vezes tudo saiu “como planejado”?
Quantas vezes você teve mesmo o domínio do próprio dia?
Ou da própria emoção?

📎 A cultura da produtividade prega que basta querer —
mas a realidade vive esbarrando em acidentes, cansaços, imprevistos e… Átropos.


🧶 Talvez os gregos fossem mais realistas que nós

Eles já sabiam que a vida não é previsível.
E por isso criaram um sistema simbólico onde nem os deuses podiam intervir nos fios que as Moiras fiavam.

📎 Não é sobre desistir.
Mas sobre entender que nem tudo depende de você.
E isso, às vezes, é libertador.


📍 Mas... ainda podemos fiar alguma coisa?

Sim.
Podemos escolher com que cor tecer nossos dias.
Com que pessoas emaranhar os fios.
Com que ritmo bordar os momentos.

📎 Não podemos controlar a tesoura —
mas talvez possamos escolher o bordado.


💭 E se aceitássemos a vida como tecido em andamento?

Se entendêssemos que há dias de trama firme…
e dias de linha solta?

📎 Talvez sobrasse mais paciência.
Menos culpa.
Mais tempo de respiro entre uma tarefa e outra.
Mais gratidão por cada ponto que ainda não foi cortado.


📎 As Moiras seguem em silêncio, trabalhando em bastidores.
Não são vilãs.
Nem deusas do castigo.
São apenas um lembrete antigo de algo que o mundo moderno esqueceu:

Nem tudo se controla.
Mas tudo pode ser vivido.

domingo, julho 27, 2025

📌 Post Extra — Micromégas, Senhores da Guerra e um Déjà Vu de 16 Anos

 
Hoje revisitei um texto que publiquei em 14/04/2009, minha segunda postagem no Declus.

O texto original pode ser lido aqui: O que fazem os senhores da guerra de seus "palácios".
Na época, escrevi inspirado por Micromégas, de Voltaire, e pelo clima geopolítico do momento: Barack Obama prometendo a retirada do Iraque e a Coreia do Norte expulsando inspetores da ONU.
Agora, 16 anos depois, reli esse texto e percebi que, infelizmente, algumas coisas mudaram bem menos do que gostaríamos...


O conto do mestre Voltaire fala sobre um ser de 100 km de altura vindo de Sírius que olha para a Terra e se espanta com a pequenez moral dos humanos.
Mesmo com corpos minúsculos, eles matavam uns aos outros com uma obstinação que parecia absurda ao visitante cósmico.
E quem puxava os gatilhos simbólicos? “Os bárbaros sedentários e indolentes que, de seus palácios, dão ordens para o assassinato de milhões de homens e depois, solenemente, agradecem a Deus pelo sucesso.”


2009: Obama, Iraque e uma aposta equivocada

Naquele abril, eu escrevia com um certo alívio: os EUA, sob Barack Obama, anunciavam a retirada gradual do Iraque.
Mas, no mesmo texto, citava a Coreia do Norte expulsando inspetores da ONU. E perguntava: “Alguém aí quer fazer uma aposta?”

Pois é.
16 anos depois, o mundo continuou apostando — e perdendo.
Se não foi no Iraque, foi na Síria. Se não foi na Coreia, foi em outros tabuleiros geopolíticos.
O século XXI herdou a lógica que Voltaire satirizou no século XVIII: a guerra como obra dos palácios, com o povo como estatística descartável.


2025: o que mudou?

Alguns dirão que evoluímos tecnologicamente, que temos mais informação, que há redes sociais expondo cada atrocidade em tempo real.
Mas a pergunta continua: mudou algo essencial?
Ainda há “chapéus contra turbantes” — só trocaram as cores, as bandeiras ou até os algoritmos que definem quem é o inimigo do dia.
Micromégas, se voltasse hoje, provavelmente se sentiria num déjà vu.
Talvez dissesse: “Vocês construíram foguetes para Marte, mas continuam esmagando uns aos outros com a mesma vontade de 300 anos atrás.”


Por que revisitamos isso?

Porque esse conto de Voltaire continua sendo uma metáfora poderosa.
Ele mostra o absurdo da violência quando visto de fora, de muito longe.
E nos lembra de algo incômodo: talvez precisemos de um “gigante de Sírius” imaginário para perceber o ridículo da nossa própria destruição.


Epígrafe:

“Os bárbaros sedentários e indolentes ainda estão lá, Dedé de 2009. Só trocaram a cor das paredes do palácio e as hashtags de guerra.”

Arquimedes e a Alavanca do Impossível

 ⚙️ “Me dê uma alavanca e um ponto de apoio, e moverei o mundo.”

A frase é antiga.
Atribuída a Arquimedes, matemático grego do século III a.C.,
ela parece simples — quase um desafio de feira de ciências.
Mas carrega algo muito maior:
a ideia de que tudo pode ser deslocado... se o ponto for o certo.

📎 E essa ideia não é só física.
É quase filosófica.


🛁 Um gênio de toga e espuma

Arquimedes é famoso também por outra cena:
correndo nu pelas ruas de Siracusa, gritando “Eureka!”
(“Eu encontrei!”)
Depois de resolver um problema de densidade…
enquanto tomava banho.

📎 Não era só excentricidade.
Era alguém cujo pensamento não parava nem debaixo d’água.


🔧 A força que muda tudo — com menos força

A alavanca, em termos técnicos, é um dos princípios fundamentais da física clássica.
Permite que uma força pequena mova um peso grande —
desde que bem posicionada.

📎 É um lembrete elegante de que inteligência estratégica vence força bruta.

E, fora da mecânica, essa lógica se aplica à vida inteira.


🪨 O que é sua alavanca hoje?

📎 Pode ser uma ideia.
📎 Uma conversa que muda tudo.
📎 Um “não” dito no momento certo.
📎 Um talento escondido.
📎 Um hábito pequeno, mas consistente.

O mundo se move — se você encontrar o ponto de apoio certo.


🧠 Mover o mundo pode ser mover o próprio eixo

Nem todo mundo quer ou precisa fazer revoluções planetárias.
Às vezes, mover o mundo é mexer um centímetro interno.
Sair da estagnação.
Inverter a perspectiva.
Questionar o que parecia inquestionável.

📎 Arquimedes falava de física.
Mas o que ele propôs foi quase uma filosofia da alavanca:
não é preciso ser gigante — só preciso saber onde agir.


🚪 O que você faria, se tivesse sua própria alavanca?

Tiraria um peso das costas?
Mudaria um sistema inteiro?
Levantaria alguém caído?
Ou apenas realinharia a si mesmo?

📎 A pergunta é prática —
mas também poética.
Porque cada um de nós tem um ponto de apoio escondido por aí.
Só precisa identificar.
Ou... fabricar.


🧩 E se a alavanca não for uma ferramenta — mas uma ideia?

A educação, por exemplo, é uma das maiores alavancas sociais.
A arte, outra.
A empatia, talvez a mais potente.

📎 Às vezes, a gente pensa que precisa de mais força…
mas na verdade precisa de melhor posição.
Melhor foco.
Melhor ponto de partida.


📎 Arquimedes talvez não tenha movido o mundo literalmente.
Mas com sua ideia, deslocou o pensamento humano.
E isso, de algum modo, também é engenharia.

sábado, julho 26, 2025

🔎 Olhar Curioso — O Dia em que os Crocs Viraram Profecia

 
Em 2006, o diretor Mike Judge lançou Idiocracy, uma comédia que parecia apenas um besteirol futurista: um homem médio acorda 500 anos no futuro e descobre que a humanidade, literalmente, emburreceu. Governada por algoritmos, slogans, redes sociais, fast-food, reality shows e refrigerante no lugar da água potável, a sociedade virou um grande meme distópico.

E o mais assustador? Cada ano que passa, o filme se parece menos com ficção científica e mais com o jornal das 18h.


👟 A escolha “absurda” dos sapatos

Uma das ideias mais simples — e ao mesmo tempo mais geniais — do filme era vestir todo mundo com algo tão ridículo que, só de olhar, o espectador entendesse:

“é, esse povo aqui claramente perdeu o juízo”.

E foi aí que surgiram... os Crocs.

Na época, os sapatos ainda eram praticamente desconhecidos. Plásticos, coloridos, com furos inexplicáveis e uma estética de tamanco alienígena, os Crocs foram escolhidos porque “pareciam absurdos o suficiente e ninguém jamais usaria isso na vida real”, segundo palavras do próprio Mike Judge.


💥 Spoiler: o mundo provou o contrário

Poucos anos depois do lançamento do filme, os Crocs viraram febre.
Influenciadores, celebridades, chefs, médicos e adolescentes de todos os cantos do planeta passaram a desfilar seus modelos — agora com variações, colaborações e edições limitadas — como se fossem tênis de luxo.

O que era para ser uma sátira visual do futuro, virou... tendência.


📺 Idiocracy ou documentário?

Enquanto isso, o resto do enredo do filme parece ir se concretizando aos poucos:

  • Desinformação reina.

  • Políticos viram personagens de entretenimento.

  • Especialistas são desacreditados.

  • O mundo é gerido por impulsos, algoritmos e fóruns aleatórios da internet.

Falta só substituir a água por Gatorade e colocar o Terry Crews na presidência — o que, sinceramente, talvez nem fosse a pior parte.


No fim, talvez Idiocracy não estivesse tentando prever o futuro.
Talvez só estivesse rindo de um presente que já dava sinais do colapso — e que escolheu calçar um par de Crocs e fingir que está tudo bem.


Epígrafe:

“Se o futuro é um churrasco em família com Gatorade na planta e presidente bodybuilder, talvez devêssemos ter puxado o freio antes do segundo croc.”

E se só restasse um livro na Terra?

📖 Imagine o cenário:

tudo ruiu.
As cidades viraram poeira.
A internet é só um mito antigo.
E, entre escombros, uma única estante sobreviveu.

Em meio a cinzas e silêncios,
um único livro permanece intacto.

📎 Qual deveria ser?


🪶 A pergunta não é só literária — é existencial

Porque escolher um livro é, nesse contexto, escolher o que deve continuar.
O que merece ser lembrado.
O que ainda pode ensinar, consolar, provocar, salvar.

📎 Seria um tratado filosófico?
Um romance?
Um livro sagrado?
Uma enciclopédia?
Uma fábula?

Ou simplesmente… um caderno em branco?


🔥 Alexandria arde de novo — sempre

A Biblioteca de Alexandria, com seus milhares de manuscritos,
foi um sonho de universalidade e, ao mesmo tempo,
uma lembrança permanente da fragilidade do saber.

Quando ela queimou (várias vezes, diga-se),
o mundo perdeu histórias que nunca mais seriam reescritas.

📎 Hoje, sua herdeira moderna — a Bibliotheca Alexandrina — tenta recuperar esse espírito,
mas vive sob a sombra do que foi perdido.


📚 Salvar um livro é salvar um pedaço da humanidade

Porque livros são mais que papel.
São registros de pensamento, emoção, erro, fé.
São espelhos e lanternas.
E mesmo quando o mundo desaba,
a leitura resiste como abrigo.

📎 Há quem leia pra esquecer.
Mas há quem leia pra lembrar quem é.


🌍 Qual livro você deixaria como legado?

📎 O Pequeno Príncipe, talvez, pela ternura universal.
📎 1984, como alerta.
📎 Dom Quixote, pelo sonho impossível.
📎 A República, como proposta.
📎 Um livro de receitas, como sobrevivência prática e afetiva.

Ou ainda:
📎 Construção, em forma de letra e partitura, pra lembrar que até na ruína se canta.


🧩 E se o livro fosse lido por alguém do futuro — ou de outro planeta?

O que esse único volume diria sobre nós?
Sobre nosso amor, nossa dor, nossa arrogância?
Sobre o que valorizamos… e o que esquecemos?

📎 Talvez ele não dissesse tudo.
Mas deixaria uma trilha de sentido.
Um fio de Ariadne entre os escombros.


🖋️ E se o livro fosse o seu?

E se, em vez de escolher um volume pronto,
você deixasse um caderno com a sua escrita?

Com memórias.
Receios.
Observações.
Metáforas.
Um mapa da sua humanidade.

📎 Porque no fim, todo leitor também é autor —
e todo livro, no fundo, é uma tentativa de conversa.


📎 Mesmo que o mundo desabe,
mesmo que a tinta acabe,
mesmo que a estante tombe —
enquanto houver um livro,
há fôlego.

🌱 Post Extra — Zona de Conforto (ou pelo menos tentando chegar nela)

  📌 Epígrafe: “ Fortis fortuna adiuvat ” — A sorte favorece os corajosos. (tatuagem inscrita nas costas de John Wick ) Sempre ouvi que “...