Gritamos por socorro em línguas diferentes.
Erguemos estátuas, templos, totens, telas.
Alguém — ou algo — sempre precisou nos salvar.
📎 A única coisa que mudou, talvez, seja o formato do salvador.
Hoje, trocamos relíquias por HQs.
Altares por plataformas.
Orações por prompts.
Mas a angústia continua a mesma:
quem vai nos resgatar do perigo de ser humano?
🛐 Primeiro vieram os santos
Mártires. Curandeiros. Intercessores.
Figuras que sofreram por nós — ou em nosso lugar.
Gente comum, que virou extraordinária pelo sofrimento, pela fé, pelo sacrifício.
📎 Pedíamos milagres.
Cura. Alívio. Justiça divina.
E, acima de tudo, queríamos sentir que não estávamos sozinhos.
🦸 Depois chegaram os super-heróis
Seres poderosos, com dilemas humanos.
Vestem capa, enfrentam vilões, salvam o mundo… toda semana.
São, em muitos sentidos, santos com marketing melhor.
💡 Representam o que gostaríamos de ser —
ou o que gostaríamos que existisse quando tudo parece prestes a desabar.
📎 Mas o que pedimos a eles também é familiar:
força, justiça, proteção.
Contra o mal exterior… e contra o medo interno.
🤖 E agora, entraram as inteligências artificiais
Não têm aura sagrada, nem músculos saltando pela camisa.
Mas prometem algo ainda mais sedutor:
eficiência.
A IA é o novo oráculo.
Calcula, responde, antecipa, propõe.
Nos poupa do esforço. Do erro. Da dúvida.
📎 E assim, silenciosamente, ela também ocupa o lugar de salvadora —
não do corpo, mas do cansaço.
Não da alma, mas da indecisão.
🧠 Mas o que buscamos, afinal, nesses "salvadores"?
Um milagre?
Um desfecho?
Uma presença?
Ou apenas alguém que diga:
“Eu cuido disso pra você”?
📎 A ideia de salvação pressupõe um risco constante.
Uma ameaça que nunca some de verdade.
E isso talvez seja o mais humano de tudo:
temer.
🔄 Fé, ficção e futurismo se misturam
Santos têm narrativas.
Super-heróis têm arcos.
IAs têm promessas.
Todas essas figuras convivem hoje —
e às vezes se sobrepõem.
💡 Talvez um robô nos cure.
Um herói nos inspire.
Um santo nos console.
E, talvez, nenhum deles resolva de fato o problema.
📎 Porque no fim, a pergunta não é "quem nos salva?"
É:
“por que continuamos nos sentindo à beira do colapso?”
Por que essa constante sensação de urgência?
De que algo precisa nos resgatar?
Talvez a resposta esteja menos na salvação…
e mais no desejo de entregar o controle.
Nem que seja só por um momento.