Declus

Tentando tapar os buracos na minha cabeça...
Mostrando postagens com marcador convivência. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador convivência. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, setembro 26, 2025

💔 Comunicação (Nada) Não Violenta: Quando a Teoria Acaba no Grito

 📌 Epígrafe:

“Conversamos sobre não gritar. Gritando.”

No começo, era tudo Marshall Rosenberg.
Empatia, escuta ativa, girafas e chacais como metáforas de linguagem. Um casal que lia o mesmo livro, conversava sobre sentimentos e trocava mensagens com emojis conscientes.

Um ano depois, o relacionamento acabou… com uma comunicação que faria o autor chorar em posição fetal.

A ironia é cruel: teorizar a empatia é fácil; praticá-la no calor da mágoa, nem tanto. A distância entre “escuta ativa” e “eu já não aguento mais” é bem menor do que os manuais de convivência sugerem.

No fim, as palavras perderam o peso da teoria e ganharam o peso do cansaço. O diálogo virou ruído, e a escuta virou silêncio. A comunicação não violenta “evoluiu” para a ausência de comunicação — e, talvez, esse tenha sido o melhor caminho.

📝 Nota do autor: até hoje encontro a pessoa e, no máximo, rola um “bom dia”… às vezes nem isso. A comunicação não violenta acabou se transformando em não comunicação — e talvez essa tenha sido, ironicamente, a forma mais pacífica de seguir.

Porque há momentos em que não falar já é a forma mais honesta de falar.
E às vezes, a empatia que sobra é apenas a de reconhecer que não dá mais.


sexta-feira, setembro 19, 2025

Post Extra — Armas e Verdades

 

Epígrafe:
"Nem toda ideia precisa virar bandeira. Nem toda frase precisa ser guerra."

Vivemos numa era em que a necessidade de ter opinião sobre tudo virou quase um mandamento. Não importa se você leu a pesquisa inteira ou só o título, se tem experiência prática ou apenas “ouviu falar”: o importante parece ser escolher um lado e defendê-lo como se fosse uma batalha decisiva.

O problema é que, nesse campo de guerra simbólico, as espadas raramente cortam o “inimigo” — acabam nos ferindo uns aos outros. Discutimos sem ouvir, atacamos sem refletir, defendemos sem pensar. O resultado? Ruído, desgaste, egos inflados e uma falsa sensação de vitória em debates que, na prática, não levam a lugar algum.

Talvez a raiz esteja em confundir opinião com verdade. Como se cada frase dita precisasse ser arma, estandarte ou sentença final. Mas não há espaço para diálogo quando todos acreditam já ter a resposta definitiva.

Conviver em harmonia não exige abrir mão do pensamento crítico, mas aprender a guardar nossas armas — e, principalmente, nossas “verdades”. Nem sempre é preciso disparar. Às vezes, basta ler, refletir, respirar… e seguir em frente.

Errata Ética:
Não é porque você tem uma opinião que ela precisa ser publicada, defendida ou transformada em bandeira. Às vezes, o silêncio é o maior ato de lucidez coletiva.


domingo, setembro 14, 2025

✍️ Post Extra — Quando os Extremos Apagam a Luz

 
Epígrafe:

“Nem na escuridão total, nem no clarão absoluto se enxerga com clareza.”


Há uma metáfora que me persegue: você não enxerga tanto no escuro quanto com uma luz muito brilhante no rosto. É nesse ponto que penso nos extremos — políticos, religiosos, ideológicos. Ambos cegam. E ambos afastam da temperança, esse lugar discreto onde a convivência é possível.

A teoria da ferradura já tentou explicar isso: que os extremos se tocam em sua radicalidade. Não sou fã da metáfora, mas reconheço um fundo de verdade. Quando a busca pelo “absoluto” se sobrepõe à vida, o resultado costuma ser a mesma sombra de sempre: intolerância, exclusão, violência.


Quando matar não resolve

Existe uma pergunta provocativa: se você mata um assassino, o número de assassinos no mundo permanece estável?
O paradoxo é simples: violência só recicla a violência. É o círculo que nunca se fecha, a lógica que não se sustenta.

Do outro lado, há o ditado alemão que diz: “Se há dez pessoas numa mesa, um nazista chega e se senta, e nenhuma pessoa se levanta, então existem onze nazistas à mesa.”
Aqui, a provocação é outra: silêncio diante do extremo não é neutralidade — é cumplicidade.

É nesse campo delicado que caminhamos: entre a ação violenta, que perpetua a barbárie, e a omissão confortável, que a legitima.


A banalidade do extremo

O filósofo Hannah Arendt chamou de “banalidade do mal” aquele processo em que atrocidades se tornam rotina, normalizadas, burocráticas até. Hoje, parece que vivemos outra banalização: a do extremo. O assassinato, o ódio, a eliminação do outro como solução viraram notícia repetida — até cansar.

Seja na figura do inimigo político, do adversário religioso ou do povo reduzido a estatística, o “extermínio” deixou de ser inimaginável e passou a ser uma hipótese de mesa de bar. E isso, talvez, seja o maior sintoma de decadência moral da nossa era.


Um sonho antigo, ainda válido

Lembro da infância, dos concursos de Miss. A plateia ria quando as candidatas diziam: “Eu desejo a paz mundial”. Ingenuidade, dizíamos. Hoje, sinto falta daquela ingenuidade. Não porque acreditasse numa paz total, mas porque ainda havia espaço para sonhá-la em público, sem cinismo.

A UNESCO chama de “educação para a prevenção do extremismo” esse esforço de cultivar diálogo, respeito e equidade como antídotos contra o ódio. Outras iniciativas falam de “cultura da paz”. Pode soar burocrático. Mas talvez seja só uma forma institucional de traduzir o desejo simples das candidatas de miss: um dia sem guerras, um dia sem mortes, um dia sem manchetes sangrando.


Entre a utopia e o esforço cotidiano

A paz mundial é possível? Provavelmente não da forma absoluta, sem falhas. Mas talvez seja menos sobre alcançar um ponto final e mais sobre manter o processo em movimento.

Ela depende de coisas simples e difíceis ao mesmo tempo:

  • Educação, que ensina a questionar antes de odiar.

  • Justiça social, que dá dignidade antes que a violência ocupe o vazio.

  • Coragem ética, que levanta da mesa quando o nazista senta.

  • Espaços de diálogo, que tratam o outro como humano, mesmo na discordância.

Não é utopia sonhar com isso. Utopia é acreditar que a violência resolve.


O silêncio que eu gostaria de ouvir

No fim, o que mais desejo é um dia de notícias “sem importância”. Um dia sem bombas, sem massacres, sem extremismos aplaudidos como bravura. Que possamos, como os reis distraídos do passado, escrever em nossos diários: “Nada importante aconteceu hoje.”

Porque, às vezes, nada acontecendo é exatamente a coisa mais importante que poderia acontecer.


📌 Conclusão:
Os extremos sempre parecerão mais sedutores que o caminho do meio. Eles oferecem a ilusão de clareza: ou luz ofuscante, ou sombra absoluta. Mas viver é justamente o contrário: aceitar o crepúsculo, a nuance, a negociação. Talvez nunca cheguemos à paz total — mas podemos cultivar menos extremos. E isso, no mundo de hoje, já seria uma revolução.


sábado, junho 14, 2025

O dilema do porco-espinho: entre a solidão e o afeto

🦔 "Se nos aproximamos demais, nos ferimos; se mantemos distância, sentimos frio."

Essa antiga metáfora, originalmente atribuída a Arthur Schopenhauer, atravessa os séculos e ganha nova roupagem nas mãos de Leandro Karnal em O Dilema do Porco-Espinho. Em poucas páginas, ele nos conduz por um caminho de reflexões sobre a delicada arte de conviver — onde o calor humano e os espinhos emocionais coexistem em permanente tensão.

📖 O livro, enxuto e elegante, parte de um problema simples, mas profundo: como manter vínculos sem nos machucarmos? A imagem dos porcos-espinhos tentando se aquecer numa noite fria, mas se ferindo ao se aproximarem, é uma analogia poderosa para quem já viveu (e quem não?) os dilemas das relações humanas. O medo da dor nos afasta. O medo da solidão nos aproxima. E, entre esses extremos, passamos a vida tentando encontrar o ponto de equilíbrio.

🧠 Karnal não oferece receitas prontas — e talvez essa seja uma de suas maiores virtudes. Em vez de prometer fórmulas de sucesso para o afeto, ele nos convida a pensar sobre o preço da conexão e o custo do isolamento. Em uma era marcada por redes sociais e vínculos líquidos, essa reflexão soa mais atual do que nunca. Afinal, vivemos cercados de contatos e, ainda assim, muitas vezes experimentamos uma solidão densa, quase sólida.

🔍 Ao longo do livro, o autor costura referências filosóficas e literárias com episódios da própria vida e observações do cotidiano. E é nesse ponto que O Dilema do Porco-Espinho deixou sua marca em mim. Porque, mais do que uma leitura intelectual, ele despertou memórias — das vezes em que me aproximei demais e me machuquei, ou das que me afastei por medo e acabei congelando por dentro.

💭 Uma das passagens mais marcantes é a que aborda a diferença entre estar só e sentir-se só. Karnal lembra que a solitude pode ser produtiva, criativa, até terapêutica. Mas quando a solidão vira ausência de vínculos significativos, ela pode se tornar um fardo pesado. Saber reconhecer essa linha tênue é parte do amadurecimento emocional que o livro nos convida a trilhar.

👫 Outro ponto provocador é a ideia de que os espinhos são inevitáveis. Não existe relação humana isenta de atritos, desentendimentos ou dores. Tentar evitar completamente o sofrimento é, paradoxalmente, o caminho mais certo para o isolamento. Como escreve o próprio Karnal, “a perfeição das relações só existe nos delírios da fantasia. Na realidade, o afeto é sempre um risco."

🌱 E talvez aí esteja o recado mais importante da obra: amar, conviver, se importar — tudo isso implica aceitar certo grau de vulnerabilidade. Nos aproximamos sabendo que pode doer. Mas também na esperança de que o calor do outro compense os possíveis espinhos. Viver é, no fundo, esse exercício de coragem mansa.

📚 Quando fechei o livro, não me senti com mais respostas. Mas com perguntas melhores. E isso, para mim, já é sinal de uma leitura transformadora.
Porque, afinal, quem nunca se viu como um porco-espinho emocional? Aproximando-se com cuidado, afastando-se com dor, buscando uma dança possível entre afeto e autoproteção.

O Dilema do Porco-Espinho não é um tratado filosófico, nem uma autoajuda açucarada. É um convite sincero à reflexão — e, como todo bom convite, só faz sentido se aceitamos entrar na conversa de coração aberto.

🧩 No fim, talvez a vida seja mesmo esse vai e vem de espinhos e abraços, de distâncias que machucam e proximidades que curam. E, com sorte, aprendemos aos poucos a regular essa dança com mais delicadeza, mais escuta e menos medo.

🇯🇵 O Soldado Que Lutou Contra o Fim da Guerra (e o Medo de Acreditar na Paz)

  "Nem toda paz é fácil de acreditar. Especialmente depois de tanto tempo na trincheira." A Guerra que Terminou Lá Fora, Mas Não D...