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Tentando tapar os buracos na minha cabeça...
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sábado, outubro 11, 2025

💭 O Cansaço da Empatia: Quando Sentir Demais Também Dói

 "Quem sente tudo o tempo todo acaba esquecendo de sentir a si mesmo."

O Preço do Coração Aberto

Empatia é linda nos livros e nos discursos motivacionais — e exaustiva na vida real.

É o dom e a maldição de quem enxerga o mundo através de um coração aberto demais. Você escuta, acolhe, entende as nuances e, conscientemente ou não, carrega as dores e as incertezas dos outros como se fossem suas. Tenta ser o porto seguro, o ouvido que nunca julga, o ombro sempre disponível.

E um dia acorda exausto — não do mundo ou da pessoa que você ajudou, mas de si mesmo.

Esse é o cansaço da empatia, um tipo de fadiga emocional que surge quando a compaixão se torna rotina e o "sentir junto" deixa de ter limite. Não é falta de amor. É excesso de investimento emocional. E, como qualquer excesso, ele cobra um preço de saúde mental e física.

A Dor como Conteúdo

Vivemos numa época em que a dor virou conteúdo, a tristeza virou feed e o sofrimento é comentado, curtido, e compartilhado numa escala global.

E quanto mais expostos a essa torrente de notícias e dramas, mais parece que precisamos sentir tudo em tempo integral: indignar-se, chorar, abraçar todas as causas, salvar o mundo com a nossa atenção.

Mas ninguém, absolutamente ninguém, aguenta salvar o mundo todos os dias. Essa é uma expectativa tóxica que a sociedade impõe aos mais sensíveis.

A Chama e o Oxigênio

Ser empático não é sentir tudo — é saber quando e como sentir.

É reconhecer o próprio limite sem se culpar por isso. É entender que não é desumanidade se preservar; é simplesmente humanidade com horário de descanso. Você não é menos bondoso por proteger o seu próprio reservatório de energia.

A empatia é uma chama bonita e essencial para a conexão humana. Mas, assim como qualquer chama, ela precisa de oxigênio para respirar e de vez em quando, de um pouco de escuridão para descansar e continuar brilhando com intensidade no momento certo.

Reserve sua luz.

quinta-feira, outubro 02, 2025

💔 Miss You Love: Quando a Canção de "Amor" É Sobre Depressão e Ódio

 "É mais fácil aceitar a melancolia disfarçada de amor do que a melancolia pura e simples."

O Engano da Melodia

Já vinha eu com metade da idade que tenho hoje quando a ouvi, e tive certeza: "Miss You Love", do Silverchair, era uma música romântica. Um hino sobre saudade, amor intenso e sofrido. Como eu estava enganado (e, felizmente, não estava sozinho nessa leitura superficial).

Daniel Johns, vocalista e compositor, já explicou que a intenção era perversa: escrever uma canção que soasse amorosa, mas que por dentro fosse raivosa, amarga e profundamente confusa. E, de fato, a letra é exatamente isso.

O que parece uma declaração de afeto, na verdade, é o desabafo de alguém afogado em depressão severa — um retrato do vazio emocional e da incapacidade de se conectar.

A Dualidade da Angústia

A música expõe a mais cruel das contradições: o eu lírico está dividido entre o desejo de amar e a incapacidade de corresponder. Ele sente a falta da conexão ("I miss you love"), mas ao mesmo tempo demonstra falta de respeito e uma desconfiança brutal em relação à superficialidade das paixões que o cercam.

O verso central, o soco no estômago disfarçado de confissão, resume a luta:

"I love the way you love, but I hate the way I'm supposed to love you back." (Amo o jeito que você ama, mas odeio a forma como deveria te amar de volta.)

Johns via o amor mais como um terreno fértil para dor e ódio ("a breeding ground for hate") do que como um refúgio. Ele sentia-se um espectador da própria vida, incapaz de processar emoções, frustrado por não conseguir vivenciar o amor de forma saudável.

Por que Lemos a Letra Errada?

No fim, "Miss You Love" não é sobre um relacionamento fracassado. É sobre a dificuldade de viver quando até o amor parece um peso, uma obrigação insuportável. É sobre a luta de uma pessoa contra seus próprios demônios internos em busca de autenticidade.

Talvez seja por isso que tantos de nós tenhamos lido a letra erroneamente. Porque é mais confortável para a nossa mente acreditar que uma canção melancólica fala de um drama romântico — do que encarar que, às vezes, ela fala de dor e da mais profunda crise de identidade. É mais fácil consumir o mito do que encarar a realidade da depressão.

segunda-feira, agosto 11, 2025

🧠 Reflexo Filosófico — O que você resiste… assiste (Jung e o monstro no porão)

 
"Aquilo que você resiste, persiste."

Carl Gustav Jung

O problema de fingir que não há um monstro no porão é que ele começa a arrastar móveis lá em cima. E, mais cedo ou mais tarde, ele sobe pra tomar café com você.

Jung não falava de monstros mitológicos, mas de algo muito mais próximo: nossos medos, traumas, frustrações e desejos inconfessáveis. Tudo aquilo que a gente empurra pro fundo da mente achando que desaparece. Só que não desaparece. Vira sintoma.

A frase resume um dos pilares da psicologia junguiana: recalcar não resolve, só transforma o problema em outra coisa. Aquilo que você evita olhar de frente acaba se infiltrando por trás — nos sonhos estranhos, nas escolhas erradas, nos estalos de raiva sem aviso.

O que você resiste não apenas persiste: ele se disfarça. E às vezes se veste de trabalho excessivo, de distração constante ou de um otimismo exagerado. O porão psicológico vira palco para uma peça cujo roteiro você esqueceu que escreveu.

Jung defendia o encontro com a sombra: reconhecer o que é incômodo em si mesmo, sem fugir, sem idealizar. Porque só quem reconhece sua sombra pode integrar-se de verdade. O resto é pose.

Talvez seja hora de descer as escadas. Levar uma lanterna. E, com sorte, descobrir que o monstro só queria ser escutado.

segunda-feira, julho 21, 2025

Cartas de suicidas que mudaram o mundo

 📜 Às vezes, o que resta são palavras.

Rabiscadas às pressas.
Escritas com calma cirúrgica.
Deixadas em envelopes, bilhetes, folhas soltas.

Cartas de despedida.

Nem sempre lidas a tempo.
Nem sempre compreendidas.
Mas, em certos casos, palavras que sobreviveram ao gesto.
E que, mesmo escritas à beira do fim,
mudaram o mundo.


🕯️ Quando escrever é o último pedido de escuta

As cartas deixadas por pessoas que tiraram a própria vida não são todas iguais.
Algumas explicam.
Outras não.
Algumas acusam.
Outras pedem perdão.
Há cartas que são poemas.
Outras, silêncio pontuado com vírgulas.

📎 O que todas parecem ter em comum é o desejo de ainda dizer algo.
De, mesmo na saída, ser compreendido.


📚 Casos que viraram história — ou literatura

📎 Virginia Woolf, por exemplo, deixou uma carta ao marido antes de entrar no rio com os bolsos cheios de pedras:

“Tenho certeza de que enlouquecerei novamente. (…)
E não posso continuar estragando sua vida.”

📎 Kurt Cobain, em sua carta final, misturou referências a Neil Young, pedidos de perdão e cansaço:

“É melhor queimar do que se apagar aos poucos.”

📎 Getúlio Vargas, no Brasil, deixou palavras que ecoam até hoje em discursos políticos:

“Saio da vida para entrar na história.”

Cada uma dessas cartas virou mais do que um desabafo.
Virou símbolo.
Eco.
Memória coletiva do que foi insuportável — e do que ainda dói.


🧠 O que se tenta dizer quando não se vê mais saída?

A resposta não é simples.
Nem deveria ser.

Mas talvez o ponto não esteja em entender completamente —
e sim em escutar com mais atenção antes que chegue a última página.

📎 Muitas dessas cartas pedem, no fundo, o que já deveria ter sido oferecido em vida:
acolhimento.
tempo.
menos pressa.
menos silêncio.


💔 Ler cartas de suicidas é como tocar um eco

É um ato de coragem — e de humildade.
Coragem porque nos aproxima do abismo.
Humildade porque nos lembra de que nem sempre vamos entender o que sentimos — e muito menos o que o outro sente.

📎 Mas há algo importante ali:
Um rastro.
Um pedido de escuta.
Um testemunho de que até a dor extrema quer, antes de tudo, ser reconhecida.


📬 E por que essas palavras continuam a nos impactar?

Porque são últimas palavras.
Porque carregam uma densidade que raramente aparece em conversas diárias.
Porque revelam o quanto é possível gritar em silêncio.

📎 E também porque, paradoxalmente,
nos lembram de viver.
De escutar.
De perguntar “tá tudo bem?” — e esperar pela resposta.


🧩 Nem toda carta de despedida é lida — mas toda dor quer ser escutada

Este post não é sobre glamourizar o fim.
Nem sobre fetichizar a tragédia.

É sobre lembrar que palavras têm peso.
E que, às vezes, o que falta não é força — é tradução.

Que a carta final pode ser o fim de alguém —
mas talvez, para quem lê, seja o começo de um novo entendimento sobre como cuidar.

🎧 O Eremitismo Mental Produtivo (A Arte de Ligar o Botão Fd-$)

  Epígrafe: "O mundo é como uma notificação irritante: você precisa silenciá-lo para conseguir ler o que está escrito dentro de si....