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Tentando tapar os buracos na minha cabeça...
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domingo, junho 29, 2025

O Wi-Fi de Apolo: Oração, Música e Sinais Fracos

 

📶 Se Apolo vivesse hoje, talvez tivesse um estúdio em casa, um microfone vintage, uma caixa de incenso sempre acesa…

E um roteador problemático.

🎵 Deus da música, da cura, da poesia e da previsão — Apolo era o tipo multitarefa olímpico. Inspirava oráculos, tocava lira, curava corpos, antecipava desastres. Tudo com estilo e uma dose de luz solar.
Mas mesmo ele, em 2025, provavelmente já teria gritado:
“Esse Wi-Fi tá uma piada.”


🌐 Conexões frágeis — com o divino e com o modem

Hoje, buscamos respostas pelo Google, pelo tarô, pelo terapeuta — ou por sinais que caem antes da frase completar.
Queremos conexão com o invisível, com a arte, com nós mesmos.
Mas o sinal vive oscilando.

🔄 O roteador pisca, a mente trava.
A fé falha, a música não baixa.
E lá estamos nós, esperando um sinal —
Celestial ou digital.


🧘 Orações também caem no spam, às vezes

Você já rezou e sentiu que ninguém respondeu?
Já pediu um sinal ao universo e recebeu só o barulho do trânsito?
Apolo saberia o que é isso.
O oráculo de Delfos, seu templo, era famoso por respostas ambíguas, truncadas, quase crípticas.
Tipo uma notificação que chega cortada:
"Você precisa..."
E o resto some.


🎧 Inspirar arte é fácil. Fazer download da inspiração, nem tanto.

Apolo também era muso. Inspirava poetas, músicos, profetas.
Mas até os artistas sabem: a conexão com a criatividade é intermitente.
Há dias em que tudo flui.
E há dias em que você só consegue abrir o bloco de notas e escrever:
"Hoje não."

💡 A espiritualidade também segue essa lógica.
Tem dias em que tudo faz sentido.
Outros em que nem a playlist favorita te salva.


🔌 E se o problema não for o sinal, mas a nossa pressa?

Talvez o Wi-Fi de Apolo esteja funcionando sim.
Talvez a música esteja tocando, mas com fones desconectados.
Talvez a resposta tenha vindo —
Só que você estava rolando o feed e perdeu.

📎 Ou talvez a lição esteja na espera desconfortável, no tempo entre as tentativas de conexão.
No silêncio antes da música.
No vazio antes da ideia.
Na prece que parece não chegar — mas que ensina só por existir.


🧩 Porque, no fundo, o que pedimos (aos deuses, à arte, à fé ou à tecnologia) é a mesma coisa:
👉 um sinal de que não estamos sozinhos.
👉 Que tem algo do outro lado.
👉 Que a nossa mensagem não foi perdida no ar.


📱 E se você ainda não recebeu resposta…
Talvez o Apolo de hoje esteja só esperando a rede estabilizar.
Ou rindo, com a lira na mão, dizendo:
“Calma. Respira. Vai chegar.”

quarta-feira, junho 25, 2025

Eco e Narciso no Instagram

 📱 Ela queria ser ouvida.

Ele, admirado.
Eco e Narciso continuam entre nós — agora com Wi-Fi, câmera frontal e filtro Valência.

📖 No mito original, Eco é uma ninfa condenada a apenas repetir as palavras dos outros. Sem voz própria. Sem resposta. Apaixona-se por Narciso, o belo jovem que só tem olhos para si mesmo — literalmente. Encantado com seu reflexo na água, ele não percebe ninguém ao redor. Nem a dor, nem o amor de Eco.
O desfecho, como sabemos, é trágico para ambos.
Mas parece mais atual do que nunca.


📸 A tragédia virou interface

Hoje, Eco grita nas redes: em comentários ignorados, áudios não respondidos, postagens que ninguém escuta de verdade. Fala, fala, fala — mas só encontra o eco do próprio feed.

Narciso, por sua vez, posta.
Reposta.
Analisa ângulos.
Corrige imperfeições com filtro e contraste.
Não quer ser apenas visto — quer ser idealizado.
E o espelho d’água virou tela de vidro.

🧠 Não é preciso muito para perceber: estamos cercados de Ecos tentando se conectar e de Narcisos tentando se admirar — mas todos em bolhas que raramente se tocam.


🔍 Mas e se Eco tivesse um perfil verificado?

Talvez Eco ganhasse seguidores, virasse tendência.
Mas será que alguém a escutaria de verdade?
Ouvir exige pausa.
E a atenção — esse bem escasso da era digital — anda sempre comprometida com o próximo story.

💡 O problema não é postar.
Nem se gostar.
O problema é quando tudo se torna reflexo — e nada mais é contato.


🧩 Narciso nunca quis se conhecer. Quis se admirar.

Há uma diferença entre autoconhecimento e autoimagem.
E o Instagram (ou qualquer rede) pode ser espaço para ambos — ou para nenhum.
Depende de como usamos.
De quanto tempo passamos olhando… sem enxergar.

🪞Quando só vemos nossa própria imagem, esquecemos que o outro existe.
Quando só falamos, esquecemos que o silêncio também comunica.
E quando tudo vira performance, o afeto vira platéia.


📎 A mitologia nunca sai de moda. Só troca o filtro.

Eco ainda quer ser ouvida.
Narciso ainda se encanta com o próprio reflexo.
E nós, espectadores e protagonistas ao mesmo tempo, seguimos tentando nos equilibrar entre o desejo de ser vistos e a vontade genuína de ver.

🌿 Talvez o desafio seja esse:
ser menos Eco, menos Narciso — e mais humano.
Escutar com presença.
Se mostrar com verdade.
E lembrar que, no fim das contas, a água do mito ainda reflete o que somos… com ou sem curtidas.

📌 Post Extra — O Dragão na Garagem e o Olho do Ceará

  Meu pai, que saiu do Ceará aos 18 e hoje já passou dos 70, gosta de contar histórias do sertão. Uma delas reapareceu na sala esses dias, ...