O Estado de Graça e a Maldição da Vibração
Existem aqueles momentos raros, quase mágicos, em que a vida parece, finalmente, entrar em sintonia com a gente. É o famoso Flow: a mente esquece o tempo, o corpo funciona no piloto automático da excelência, e o que antes era esforço, vira um prazer silencioso. Você está estudando, jogando futebol, assistindo a um show ou, na mais pura das ironias, apenas olhando para a grama crescer — e o mundo exterior desaparece.
Mas aí, a pergunta que incomoda: por que não conseguimos nos manter nesse estado de graça?
A resposta, meus amigos, é quase sempre a mesma e vibra no seu bolso. O smartphone 📵, esse vampiro de atenção com suas notificações incessantes, é o ladrão de flow mais eficiente que já inventamos. Ele nos arranca do fluxo a cada vibração. E o pior é que nem precisa ser uma mensagem de vida ou morte: basta um "Oi sumido" no grupo da família para a mente perder o compasso, interromper a sinapse e nos jogar de volta à superfície da distração.
O Sacrifício e a Rebeldia do Foco
"Ah, mas é só colocar no modo avião." É mesmo? Quem consegue? Quem tem a coragem de largar o vício de conferir a cada dois minutos, como se a vida de verdade estivesse acontecendo em outra tela e não na sua frente? No fundo, o flow é o que o mindfulness tenta ensinar: estar presente.
Só que a presença é mais difícil do que parece. O foco exige sacrifício, treino e, acima de tudo, uma certa rebeldia contra essa economia da distração que vive unicamente para sugar minutos preciosos da nossa atenção. É uma batalha diária contra o algoritmo que quer nos manter presos, conferindo, rolando.
E eu, como bom concurseiro, sei bem o preço dessa luta. O futuro que eu almejo — uma casinha simples, num lugar tranquilo, sem WhatsApp para atrapalhar o café da manhã — só pode nascer desse foco de hoje. Talvez a verdadeira aposentadoria não seja a do INSS, mas sim a das notificações.