Declus

Tentando tapar os buracos na minha cabeça...
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sábado, novembro 22, 2025

⏳ O Protocolo do Banco de Jardim (A Longa Noite e a Cura do Complexo de Protagonista)

 
Epígrafe: "Lembre-se: você é apenas um homem." (Tradicionalmente sussurrado no ouvido do general vitorioso em Roma, um lembrete eterno contra a arrogância.)

A Voz do Servo e o Complexo de Protagonista

A lenda atribuída a Marco Aurélio (e que ecoa a tradição do triunfo romano) fala sobre a necessidade de um servo sussurrar ao general vitorioso: "Você é apenas um homem."

Esse sussurro não era para humilhar. Era um dispositivo de alteridade forçado, um memento mori que combatia o nosso defeito de fábrica: o Complexo de Protagonista.

Nosso cérebro é programado para que nós sejamos o centro do universo. Nossa dor, nossa luta, nosso despertador. Esquecemos que o motorista de Uber, o colega de trabalho irritado, a vizinha barulhenta — eles são os protagonistas absolutos da própria épica deles, com suas próprias batalhas (provas, filhos, dívidas).

A falta de empatia e alteridade é, simplesmente, a nossa incapacidade de sair do nosso próprio enredo para reconhecer a igualdade de luta na história alheia.

Os Dois Guerreiros da Rotina

Diante da certeza de que "a longa noite vai chegar," a humanidade se divide em dois tipos de guerreiros:

1. O Guerreiro do Piloto-automático

Este é o guerreiro que usa a rotina como um escudo. Acorda com o despertador, toma o café preto, segue a vida. O objetivo dele é evitar a reflexão a qualquer custo.

Ele combate o Tédio de Schopenhauer através da ação incessante e combate o Medo de Ser Livre (Fromm) através da distração (o entorpecimento noturno, a fuga para o drama). Ele nega a mortalidade, não por ser forte, mas por nunca olhar para cima. Ele é eficiente, mas está permanentemente no automático.

2. O Guerreiro do Banco de Jardim

Este é o guerreiro que usa a reflexão como uma ferramenta. Ele reserva o tempo para ver a grama crescer e enfrentar o fato: "um dia, tudo vai acabar."

Ele sabe que não é possível parar todos os dias para refletir sobre o propósito cósmico, mas ele faz a escolha consciente de sentar e internalizar o memento mori. Sua luta é ativa: ele luta para viver de forma significativa apesar da certeza do fim.

A Verdade e o Protocolo

Quem está certo? O que luta na rotina ou o que reflete no jardim?

Não existe uma verdade única. A verdade é que ambos estão lutando. No entanto, a sabedoria reside na escolha.

O Guerreiro do Piloto-automático gasta a vida fugindo da própria mente. O Guerreiro do Banco de Jardim gasta a vida a confrontando.

Admito que sou adepto do Protocolo do Banco de Jardim . É meu momento de alteridade suprema: é onde paro, e tento reconhecer a brevidade da minha história, e então, com essa humildade, tento enxergar o motor de luta que pulsa no peito de cada protagonista ao meu redor.

Da próxima vez que o despertador tocar, lembre-se: não é só mais um dia na sua história. É o ato final de todos os protagonistas que você cruzará. A grandeza não está em ser o centro, mas em honrar as lutas que compartilhamos.

domingo, novembro 09, 2025

🕯️ O Propósito Glorioso (Ou: A Beleza de Simplesmente Ficar)

Epígrafe: "Alguns de nós não vieram para dominar reinos — vieram só para continuar, um dia de cada vez."

A Jornada de Loki e a Virada do Destino

Uma das melhores séries do universo Marvel é, sem dúvida, Loki.

Não só pela estética ou pelo humor, mas por uma coisa que me pegou desde o início: a busca incessante do protagonista por um propósito glorioso.

No começo, ele quer dominar Asgard, o mundo, o tempo, a própria existência — um objetivo de ego gigantesco. Mas ao longo da série — e aqui vai o SPOILER — ele descobre que seu verdadeiro propósito glorioso é bem diferente: se sacrificar para proteger todas as realidades possíveis, garantindo a existência de tudo que é.

É uma das viradas mais belas que já vi numa obra de ficção.

Porque, no fundo, é sobre isso que a gente vive tentando entender: por que continuar? Qual é o sentido de tudo isso? E, sim, eu sei. É "só uma série". Mas às vezes a ficção acerta mais fundo que qualquer manual de autoajuda.

A Teimosia do Próximo Capítulo

Vira e mexe, alguém vem falar comigo sobre desistir. Não sei por quê. Talvez eu pareça confiável, ou talvez seja só porque eu não finjo que tenho as respostas.

A verdade é que eu também já pensei nisso — várias vezes. Mas fiquei.

Porque, no fim, o que me mantém não é um propósito grandioso e iluminado. É só a vontade teimosa de entender o próximo capítulo.

O mundo não nos valoriza. Na maior parte do tempo, ele nem percebe que existimos. Mas, de vez em quando, alguém cruza o seu caminho, manda uma mensagem, pergunta se você está bem — e, por um instante, você percebe que estar aqui ainda importa.

O Propósito Descomplicado

Não sou coach, nem otimista profissional. Sou só alguém que acredita que andar mais um pouco é sempre melhor que parar. Mesmo que o passo seguinte não tenha destino certo.

Se você ainda não encontrou o seu "caminho" ou o seu propósito de vida, tudo bem.

Talvez ele nem exista como uma estrada pronta e sinalizada. Talvez o propósito glorioso real seja simplesmente não desistir de procurar. Porque às vezes, só estar vivo, presente, e disposto a ouvir alguém, já é o suficiente para manter um pequeno e essencial pedaço do mundo funcionando.

Eu continuo por isso. Por mim, pelos que vieram antes, e pelos que ainda precisam de alguém que apenas ouça e permaneça.

Viver vale a pena. E já que estou aqui, vou ficar até o final.

Não sairei por conta própria. Se quiserem, que me tirem do palco.

🎧 O Eremitismo Mental Produtivo (A Arte de Ligar o Botão Fd-$)

  Epígrafe: "O mundo é como uma notificação irritante: você precisa silenciá-lo para conseguir ler o que está escrito dentro de si....