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quinta-feira, agosto 28, 2025

Deuses Americanos e os Ídolos de Wi-Fi Fraco

 

Neil Gaiman escreveu Deuses Americanos em 2001, mas sua visão parece cada vez mais atual: antigos deuses, trazidos ao continente pela fé dos imigrantes, enfraquecem à medida que as pessoas passam a adorar novos ídolos — mídia, tecnologia, mercado, consumo.
O romance virou obra de culto, um mito moderno. A série de TV tentou acompanhar, tropeçou na execução, mas ainda assim deixou imagens potentes: divindades esquecidas tentando sobreviver em um mundo onde a fé não é mais rezada em templos, mas curtida em posts e sacrificada em horas de tela.

📱 O novo panteão é digital
Hoje, os deuses não se vestem de túnicas nem exigem incensos. Eles têm interface, algoritmo e notificações.
Adoramos o feed infinito. Nos ajoelhamos diante da barra de carregamento. Fazemos promessas de “só mais cinco minutos” e ofertamos o sacrifício diário: nossa atenção.

É um panteão caótico, mas incrivelmente eficiente. Likes são orações. Compartilhamentos, procissões. Cancelamentos, fogueiras. O culto mudou de forma, mas não de essência: continuamos a projetar poder em algo maior do que nós mesmos — mesmo que esse “maior” seja um roteador de Wi-Fi fraco ou um app que insiste em travar.

🛒 Deuses de bolso
Não é apenas tecnologia: o consumo também virou altar. Smartphones são mais desejados do que relíquias. Marcas prometem transcendência em campanhas publicitárias. O shopping substituiu a catedral. E cada novo lançamento vem acompanhado de fiéis dispostos a enfrentar filas homéricas em busca de uma revelação de silício.

O curioso é que, quanto mais esses deuses entregam, mais frágeis parecem. Basta um aplicativo cair para que se revele a nossa dependência. Basta a conexão oscilar para que percebamos que, sem o sagrado da internet, ficamos órfãos — como se o mundo inteiro tivesse apagado de repente.

A fé que move o caos
Talvez seja exagero chamar redes sociais ou e-commerces de “deuses”. Mas quando olhamos para a quantidade de tempo, energia e esperança que projetamos neles, a metáfora deixa de ser tão absurda. O culto moderno não tem clero organizado, mas ainda assim tem rituais: deslizar, clicar, consumir, postar.

Gaiman sugeriu que os deuses antigos só sobrevivem enquanto recebem fé. Talvez os novos não sejam diferentes: se um dia pararmos de abrir o Instagram, ele desaparece como fumaça. O problema é: será que conseguimos parar? Ou já nos tornamos sacerdotes involuntários desse panteão?

Para pensar
Talvez a pergunta não seja se acreditamos em deuses — antigos ou novos —, mas em o que continuamos acreditando sem perceber. Nossa devoção pode estar menos no céu e mais no sinal do Wi-Fi.
E, no fundo, seguimos rezando para a mesma coisa de sempre: que não falte conexão, que não falte sentido, que não falte um motivo para seguir clicando.


Epígrafe
Os deuses nunca morrem. Eles só trocam de nome e de senha.”

🌱 Post Extra — Zona de Conforto (ou pelo menos tentando chegar nela)

  📌 Epígrafe: “ Fortis fortuna adiuvat ” — A sorte favorece os corajosos. (tatuagem inscrita nas costas de John Wick ) Sempre ouvi que “...