AVISO DE SPOILER: O texto abaixo aborda o destino de Satoru Gojo no mangá de Jujutsu Kaisen.
Epígrafe: "O problema de ser o mais forte é que você é forçado a viver em uma realidade que só existe para você."
O Enigma da Perfeição Irritante
Satoru Gojo é o enigma de Jujutsu Kaisen. Ele é a personificação do Poder Absoluto e, por isso mesmo, o maior catalisador de adoração e antipatia entre os fãs.
A aversão por ele é amplamente justificada: o Complexo de Deus, a atitude debochada em momentos sérios e o poder avassalador que torna as lutas previsíveis. Mas a nossa apreciação (a sua e a minha) nasce de uma lente mais rara: a Alteridade.
Não podemos ter empatia por Gojo, pois jamais estaremos em seu lugar. Mas podemos exercer a alteridade: reconhecer que a sua realidade é fundamentalmente outra.
A Defesa da Arrogância (Uma Questão de Realismo)
O principal motivo para a antipatia é a arrogância. Gojo não tem medo de se autoproclamar o mais forte.
Mas o que é arrogância para nós é realismo para ele. Quando se tem os Seis Olhos (Rikugan) e o Ilimitado (Mukagen), o mundo é percebido de uma maneira que ninguém mais consegue. Sua existência é a de um ponto de ruptura na lógica do universo Jujutsu.
O Comportamento: Seu senso de humor sarcástico e a atitude despreocupada são, na verdade, um mecanismo de defesa. Gojo carrega o peso de ser o único capaz de proteger o mundo; o deboche é a única forma de evitar o burnout existencial. Sua frieza calculista é o preço de seu poder; ele não pode se dar ao luxo do desespero.
O Juízo de Valor: O fã comum julga Gojo pela régua de um shounen clichê (onde o herói deve ser humilde e esforçado). Mas Gojo não é o esforçado; ele é o ápice genético, o acidente cósmico. Julgá-lo por não ser humilde é como julgar um raio por não ser apenas uma lâmpada.
O Problema do Overpowered (OP)
O poder excessivo de Gojo era o problema e, ao mesmo tempo, o motor da narrativa.
Sua presença ou ausência define os riscos da história. Enquanto ele está por perto, a ameaça é mitigada. Quando ele é selado (o momento de virada do mangá), o mundo desmorona. O autor, Gege Akutami, não podia contar uma história de alta tensão com Gojo permanentemente em campo. Ele era a cheat code que precisava ser removida.
O Desfecho Controversíssimo e Necessário
E aqui chegamos ao grande spoiler e ponto de controvérsia: a morte de Gojo pelas mãos de Sukuna, executada por uma técnica que "cortou o espaço" ao invés de focar no feiticeiro em si.
Houve quem chamasse de "birra do autor" por Gojo ser popular demais. Mas o desfecho era uma necessidade narrativa e lógica:
A Escala de Poder: Não existia uma técnica comum que pudesse derrotar o Mukagen de Gojo. Para matar o OP, era preciso uma solução igualmente OP e metafísica (cortar o tecido da realidade).
A Validação de Sukuna: A morte de Gojo valida, de forma brutal, a ameaça de Sukuna. O antagonista só se torna o rei absoluto se derrotar o único ser que poderia pará-lo.
O desfecho de Gojo é triste, controverso e indigesto, mas é a medida exata de seu poder. Sua história termina onde o mangá precisava que terminasse para que todos os outros personagens tivessem espaço para brilhar e lutar pelo futuro.
No fim, Gojo nos ensinou sobre a alteridade do poder: aceitar que a nossa régua de normalidade não se aplica àqueles que tocam a perfeição.
