Declus

Tentando tapar os buracos na minha cabeça...
Mostrando postagens com marcador budismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador budismo. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, setembro 11, 2025

🧘 Siddhartha, o Arroz e a Barata: Lições Budistas para Quem Não É Budista

 
Filho de um rei, cercado de luxo e protegido da dor. Esse foi o início de Siddhartha Gautama, que mais tarde se tornaria o Buda. O jovem príncipe vivia em um palácio onde doença, velhice e morte eram escondidas de seus olhos. Até que, um dia, saiu dos portões dourados e descobriu que o mundo sangrava.

A partir daí, começou a busca: abandonar o luxo, enfrentar o desconforto e tentar entender a raiz do sofrimento humano. Siddhartha se lançou em jejuns extremos, chegando a se alimentar de quase nada — contam que um grão de arroz por dia. Até perceber que a fome também era prisão. O caminho não era excesso, nem privação: era o meio.

Sob a árvore bodhi, ele alcançou a iluminação. Mas, curiosamente, o budismo que nasceu desse gesto extremo não pede que você vire monge, nem que negue o mundo. Ele ensina algo mais simples (e ao mesmo tempo mais difícil): como sofrer menos.

Desapego, presença, compaixão. Não são mandamentos sagrados, mas lembretes práticos. E aquele ditado de que budista tem “sangue de barata”? Bobagem. Eles não se anestesiam — apenas aprenderam que brigar com a realidade é o primeiro passo para perder.

✨ Epígrafe:
“O sofrimento não é opcional. O apego a ele, sim.”

🌌 Post Extra — Como viver sem céu nem inferno

 

Ser ateu, agnóstico ou simplesmente alguém que não comprou o pacote “fé, salvação e recompensa eterna” pode parecer um fardo num mundo em que a maioria ainda se guia por religiões. É como entrar em uma festa à fantasia sem fantasia: você continua sendo você, mas todo mundo olha torto, como se tivesse quebrado uma regra não escrita.

Eu mesmo sou fruto desse meio-termo: batizado, comunhão, crisma… só faltam o casamento e a extrema-unção para completar o álbum dos sacramentos (e confesso que tenho mais simpatia pelo último). Mas, na adolescência, depois de devorar toneladas de revistas de pseudociência, comecei a notar que talvez o universo não precisasse de um gerente geral para funcionar. A ciência só reforçou essa percepção: a vida segue, pulsa, se expande — tudo sem precisar de uma mão invisível.

E aí vem o dilema: como se orientar eticamente sem a promessa de céu ou a ameaça de inferno? Kant dá a pista: aja de tal modo que sua conduta pudesse ser universal. Não é preciso temer o fogo eterno para não sair atropelando os outros — basta perceber que o convívio humano depende de um mínimo de justiça, empatia e decência. A moral não precisa ser terceirizada para um livro sagrado: ela pode ser construída na carne, aqui e agora.

Mas o mundo não é só filosofia de manual. Quando o calo aperta, quando o vazio aparece, é fácil entender por que tanta gente recorre ao sagrado. Eu mesmo já me vi no limite — e, em vez de rezar, escolhi simplesmente continuar. Camus chamaria isso de enfrentar o absurdo: não pedir explicações ao universo, mas seguir respirando, por pura teimosia. A vida não precisa de um sentido cósmico para ser vivida.

Religiões, muitas vezes, oferecem uma anestesia perigosa: a promessa de recompensa futura que serve para suportar injustiças presentes. Mas viver sem dogma exige outra coragem: construir uma espiritualidade sem muros. Um pouco de budismo pode ajudar — não pelo pacote religioso, mas pela prática de atenção, aceitação e serenidade.

No fim, talvez seja isso: viver sem céu nem inferno é aprender a se contentar com o chão. É agir com ética sem esperar prêmio. É rir da própria finitude, até mesmo imaginando virar adubo (ainda que as cinzas humanas não sirvam para fertilizar nada). E, acima de tudo, aceitar que a dúvida não é fraqueza — é honestidade.

Epígrafe:
"A ausência de evidência não é evidência de ausência." — Carl Sagan


terça-feira, agosto 19, 2025

O Tempo Não Existe (Mas Chega Todo Dia)

 
Dizem que o tempo é uma ilusão.

E não é só conversa de hippie iluminado à beira de uma fogueira.
Albert Einstein, com toda a autoridade de quem praticamente dobrou o tecido do universo no papel, dizia que passado, presente e futuro coexistem — a diferença é apenas o ponto de vista do observador.

Para algumas tradições budistas, o tempo é apenas uma construção mental. O “agora” é a única coisa real — e ele nem dura, porque se dissolve no instante em que tentamos percebê-lo.

📅 Entre relógios e boletos
O problema é que, ilusão ou não, o tempo parece extremamente pontual para certas coisas. Boletos vencem. Prazos chegam. O Google Calendar não perdoa. O aniversário que você esqueceu continua esquecido, e a mensagem “Parabéns atrasado” não apaga o fato.

Talvez seja por isso que vivemos em uma relação paradoxal com o tempo: intelectualmente, podemos até aceitar que ele não é uma linha reta objetiva… mas no dia a dia, seguimos correndo atrás dele como se fosse um trem que nunca para.

A física contra o senso comum
A relatividade especial de Einstein mostrou que o tempo pode dilatar.
Se você viajar próximo à velocidade da luz, seu relógio interno vai marcar menos tempo do que o relógio de quem ficou em casa. A gravidade também entra na brincadeira: quanto mais intensa, mais devagar o tempo passa.

Na prática, isso significa que o “tempo” não é absoluto. É local. É relativo ao seu movimento e à sua posição no universo.
Ou seja: sua reunião de segunda-feira pode durar eternidades, enquanto um café com amigos passa num piscar de olhos — e a física, de certo modo, concorda.

🧘 A filosofia do instante
Para o budismo, pensar no tempo como algo linear é um dos grandes erros que alimentam nosso sofrimento. O passado é memória, o futuro é imaginação, e o presente… bom, o presente é só o que existe, e mesmo assim só enquanto não estamos distraídos com outra coisa.

Seja por meditação, respiração ou atenção plena, o objetivo é “habitar” esse agora. Não para negá-lo, mas para evitar que ele escorra entre os dedos enquanto perseguimos um amanhã que nunca chega.

💼 Cronogramas e atrasos crônicos
A vida moderna, porém, foi construída para nos manter reféns de um tempo que não existe. Cronogramas, agendas digitais, relógios inteligentes — tudo gira em torno de otimizar minutos e segundos, como se estivéssemos guardando moedas num cofrinho.

Mas essa obsessão cria o que alguns chamam de “atraso crônico existencial”: aquela sensação de estar sempre devendo algo, mesmo quando cumprimos todos os prazos. Uma dívida invisível com um credor que não existe.

🚪 Quando o tempo bate à porta
O mais curioso é que, mesmo que o tempo seja uma ilusão, não conseguimos escapar de suas consequências. Envelhecemos. Ciclos acabam. O dia termina.
E toda noite, antes de dormir, temos a prova mais silenciosa disso: mais um dia foi riscado do calendário — mesmo que, em algum canto da física teórica, ele ainda esteja acontecendo.

🔄 Talvez…
Talvez viver bem não seja lutar contra o tempo ou fingir que ele não existe, mas escolher quais “ilusões” valem o nosso investimento.
Se o relógio vai continuar girando, que pelo menos cada volta seja preenchida com algo que faça sentido.


💭 Epígrafe: “O tempo pode ser uma ilusão, mas é nele que guardamos todas as nossas histórias.”

🎧 O Eremitismo Mental Produtivo (A Arte de Ligar o Botão Fd-$)

  Epígrafe: "O mundo é como uma notificação irritante: você precisa silenciá-lo para conseguir ler o que está escrito dentro de si....