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Tentando tapar os buracos na minha cabeça...
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sexta-feira, novembro 21, 2025

🖤 A Tirania do Pêndulo (Por Que a Vida é Tão Ruim e o Tédio Tão Pior)

Epígrafe: "A vida é um pêndulo que oscila entre a dor e o tédio." — Arthur Schopenhauer

O Profeta do Pessimismo e a Vontade Cega

Em um mundo que insiste em vender a felicidade como um estado de espírito atingível, Arthur Schopenhauer surge como o filósofo que te manda de volta para a cama. Para ele, a existência humana é regida pela Vontade — um impulso cego, irracional e insaciável que nos força a querer, sem propósito.

E é essa Vontade que nos condena ao Pêndulo Existencial. Nossa vida inteira é passada em um movimento incessante entre dois estados de sofrimento:

1. O Lado da Dor: A Vontade Insatisfeita

A dor não é apenas física; é a dor do desejo não cumprido.

Todo querer é, por definição, uma falta. Querer passar no concurso da SEFAZ SP; querer pagar uma dívida; querer o amor de alguém. Enquanto a Vontade aponta para um alvo que você não tem, você vive sob a tensão da Luta.

Este é o lado ativo do pêndulo. É onde há propósito. É onde você se sente vivo, pois está ativamente sofrendo pela sua não-conquista. A dor, neste caso, é o motor: a gasolina do sofrimento.

2. O Lado do Tédio: A Vontade Satisfeita

Eis a tragédia suprema: quando você finalmente alcança o que a Vontade exigia, o sofrimento cessa... e você cai no Tédio.

O Tédio é a morte lenta da alma. É o momento em que a Vontade, momentaneamente saciada, não tem um novo alvo imediato.

É o dia seguinte à posse no concurso; é a segunda-feira após a tão sonhada viagem; é o vazio após a conquista. O Tédio, para Schopenhauer, é a prova de que a vida não tem sentido intrínseco. Quando paramos de lutar, percebemos que não tínhamos para onde ir, e a falta de propósito é um sofrimento ainda mais aterrador que a luta.

O Humor Ácido da Auto-Sabotagem

Se a vida é essa dança inevitável entre a dor da falta e o tédio da saciedade, o que nós, humanos modernos, fazemos para nos mantermos sãos?

Nós nos tornamos mestres em inventar sofrimento para evitar o vácuo do tédio:

  • Gerar Nova Dor: Assumir novas dívidas, começar um novo projeto complexo, entrar em um relacionamento impossível. Precisamos do próximo grande obstáculo para evitar o perigo de ficarmos quietos.

  • O Drama Desnecessário: O tédio existencial é tão grande que procuramos o conflito alheio (o drama nas redes sociais, as fofocas corporativas). É a Vontade buscando um alvo, qualquer alvo, para fingir que está em batalha.

  • O Tédio Enlatado: Consumimos entretenimento incessante (séries, redes sociais) para preencher a lacuna da Vontade satisfeita. É uma negação desesperada do vazio, um esforço constante para manter o pêndulo em movimento, mesmo que artificialmente.

A sabedoria dark de Schopenhauer não reside em quebrar o pêndulo, mas em entender sua mecânica. A felicidade, se é que existe, é um mero e fugaz ponto morto entre o desespero de querer algo e o desespero de não ter mais nada para querer.


quinta-feira, novembro 20, 2025

🧠 O Advogado das Paixões (A Ilusão da Racionalidade Segundo David Hume)

 Epígrafe: "A razão é, e deve ser, escrava das paixões." — David Hume

O Mito da Decisão Lógica

Nós fomos ensinados a valorizar a Razão como o juiz supremo, o motor frio e lógico que deve nos guiar. A Paixão (o afeto, o desejo, o impulso) é vista como a força caótica a ser contida.

O filósofo escocês David Hume jogou essa estrutura pela janela. Ele não disse apenas que a razão é escrava das paixões; ele disse que ela deve ser escrava.

O que Hume chama de "paixões" não são apenas ataques de raiva ou luxúria. São toda a nossa motivação: nossos desejos fundamentais, nossas ambições, nossos valores morais e, sobretudo, as nossas vontades.

O cerne da tese é brutal: Nós não usamos a razão para decidir o que queremos; usamos a razão para justificar o que já decidimos querer.

A Razão Como Advogada de Defesa

Se você prestar atenção nas suas grandes decisões, perceberá que a paixão sempre dá o pontapé inicial. A razão entra em cena depois, apenas para fazer o marketing da escolha:

  • Comportamento de Consumo: Você vê um objeto que deseja (a Paixão). Você o compra (o Ato). A Razão, então, trabalha horas extras para justificar a despesa: "Eu precisava dessa ferramenta para o trabalho," ou "Foi um investimento de longo prazo," ou "Eu mereço."

  • Escolhas de Carreira: A Paixão te move para a estabilidade (concurso) ou para o risco (empreender). A Razão, então, monta a planilha de custos e benefícios para provar que o caminho escolhido é o mais sensato.

A razão não gera a vontade de passar na SEFAZ SP; ela apenas calcula a rota, o número de questões por dia e a estratégia para o 28/02. O desejo de uma vida melhor (a Paixão) é quem apertou o botão "iniciar estudo" há 10 anos.

O Perigo da Ilusão Racional

O maior perigo em negar Hume é a hipocrisia.

Quando tentamos convencer a nós mesmos e aos outros de que agimos puramente pela lógica, transformamos nossas paixões (nossos verdadeiros motores) em um inimigo a ser escondido. Isso nos impede de entender por que realmente fazemos as coisas.

A vida não é um silogismo; é um desejo em movimento. E o sábio é aquele que admite que a Paixão é o capitão do navio (ela define o destino), e a Razão é o navegador (ela traça a rota mais segura para chegar lá).

A aceitação da escravidão, nesse caso, é a própria libertação.

🎧 O Eremitismo Mental Produtivo (A Arte de Ligar o Botão Fd-$)

  Epígrafe: "O mundo é como uma notificação irritante: você precisa silenciá-lo para conseguir ler o que está escrito dentro de si....