Declus

Tentando tapar os buracos na minha cabeça...
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terça-feira, novembro 18, 2025

🏛️ O Pecado Gramatical Escolhido (E a Âncora de Mortalidade do Gênio)

 
Epígrafe: "O que nos impede de subir ao Olimpo não é a falha que não vemos, mas a falha que escolhemos ostentar."

O Perfil do Semideus Corporativo

Todos nós temos aquele colega que parece ter saído de um laboratório de otimização humana. No meu caso, o gênio é gente boníssima, e um poço de inteligência. Estamos falando de um indivíduo que consegue destruir um manual complexo em poucas horas e domina a arte da escrita de ficção a ponto de auxiliar outros na complexa alquimia narrativa. Um verdadeiro fenômeno.

Em qualquer sistema de avaliação de desempenho, ele seria o bug positivo: o único erro é não ser o chefe.

O problema de conviver com a perfeição é que ela é insuportável. E é por isso que ele precisa do seu pecado essencial.

A Rebelião do Pronome Oblíquo Átono

Apesar de toda a sua maestria intelectual, ele mantém uma falha deliberada e absurdamente teimosa: a recusa em admitir que, na linguagem culta do português brasileiro, não se iniciam frases com pronome oblíquo átono (o famoso "Me empresta," "Te ligo" da fala informal).

Eu brigo e imploro para "pesquisar no Google", e ele simplesmente não cede. É uma afronta gratuita e consciente à norma gramatical que ele, com sua inteligência, demoraria três segundos para absorver.

Essa insistência não é ignorância. É rebeldia estratégica.

O Argumentum Ad Hominem Que Falha

O mais fascinante é como ele usa essa falha como um escudo.

Cansado da teimosia, eu apelo à zoeira sem limites. Mando argumentum ad hominem pesados, ironizo a sua vida, zoando até a opção sexual — aquela zoeira de ambiente de trabalho que só é possível entre amigos.

E o que ele faz? Ele só ri. Ele me humilha do alto da sua tranquilidade olímpica.

A inteligência dele neutraliza a provocação, e a falha gramatical o torna imune. É a prova de que a nossa raiva reside na perfeição alheia, e não na falha em si.

A Âncora de Mortalidade

Minha teoria é simples: ele tem medo do Olimpo.

Se ele admitisse que essa regra gramatical existe e a corrigisse, ele se tornaria, de fato, o ser humano perfeito. Ele ascenderia à perfeição lógica e nos abandonaria, reles mortais que ainda erramos no uso das vírgulas e das concordâncias.

O erro do pronome oblíquo átono não é uma falha; é o seu Mantra da Mortalidade. É a anomalia que ele ostenta para dizer: Eu sou um gênio, sim, mas ainda cometo o erro mais básico do português brasileiro. Eu sou, portanto, humano.

A grande lição dele não está nos manuais complexos que ele decifra, mas na falha que ele se permite manter. É a última e mais sofisticada forma de humildade.

domingo, setembro 28, 2025

🚧 99: A beleza do quase e o número mais inquieto do mundo

 "Faltava um. Mas talvez seja esse ‘um’ que nos mantém vivos."

O Noventa e Nove: A Inquietação Antes do Centenário

Noventa e nove é um número que nos cerca e nos desafia. É o último passo antes da linha de chegada, o respiro antes do centenário. É a missão final de um jogo que você adia, o "quase lá" que nunca se transforma em "cheguei". No mundo digital, somos bombardeados por ele: 99 notificações, a bateria em 99% 🔋, 99 passos para a felicidade. Ele representa a promessa, a expectativa e, muitas vezes, o medo do que virá depois.

Este post era para ser o de número 99, mas a vida tem seus próprios planos e me empolguei escrevendo outros antes. E, ironicamente, essa é a prova perfeita da beleza do incompleto. A vida é cheia de desvios, de inícios que não terminam e de finais que não entregam o clímax esperado. O que acontece com o 100? Na maioria das vezes, ele simplesmente... acaba. Não há fogos de artifício ou grandes revelações. O final pode ser um anticlímax, e talvez por isso tanta gente pare no 99. É o prazer no processo, o alívio de não ter que fechar tudo com chave de ouro, o medo do fim.

O 99 é a manifestação da nossa "falta de acabativa", a expressão que sumiu dos consultórios de RH, mas que ainda nos define. É mais autêntico e humano parar no 99 em alguns casos do que forçar o 100. Há uma beleza e um alívio em não ter que concluir, em deixar algo em aberto. Talvez seja essa pequena falta que nos mantém em movimento, a busca incessante pelo próximo passo, pelo próximo desafio. Afinal, a perfeição pode ser entediante, mas o "quase" é sempre intrigante.


🎧 O Eremitismo Mental Produtivo (A Arte de Ligar o Botão Fd-$)

  Epígrafe: "O mundo é como uma notificação irritante: você precisa silenciá-lo para conseguir ler o que está escrito dentro de si....