Têm filmes que não passam — permanecem.
“Mais Estranho que a Ficção” é um deles. Talvez seja a melancolia doce de Harold Crick, talvez a excentricidade da narradora, ou ainda o jeito como todos os personagens orbitam em torno de escolhas mínimas, quase invisíveis… Mas, sempre que revisito, ele me pega de novo.
É um filme sobre rotina, destino e liberdade. Mas também é sobre algo impossível de medir: a graça das pequenas coisas. O toque. O gesto. O bolo ruim. A música inesperada. O abraço que chega sem pedir licença. Coisas que parecem detalhes — mas que, no fundo, podem salvar vidas.
Assistir a “Mais Estranho que a Ficção” é como se lembrar de que não existe uma engrenagem invisível controlando tudo. Sempre há espaço para uma guinada, para uma desobediência, para um sopro de vida. E é estranho mesmo — porque não deveria fazer tanto sentido, mas faz.
E então, no final, vem aquele trecho. O que me pega todas as vezes. O que transforma um filme em lembrança, e lembrança em algo maior que nós mesmos:
*"Algumas vezes, quando nos perdemos no medo e desespero, na rotina e constância... na falta de esperança e drama... podemos agradecer a Deus por biscoitos de açúcar da Bavária.
E felizmente, quando não existem biscoitos, ainda podemos encontrar segurança em um toque familiar na nossa pele...
...ou em um gesto gentil e amoroso...
...em um sutil encorajamento...
...um abraço amoroso...
...ou numa oferta de conforto.
Sem falar das macas de hospital...
...e protetores de narinas...
...e um bolo dinamarquês incomível...
...e segredos sussurrados...
...e Fender Stratocasters...
...e talvez, um ocasional pedaço de ficção.
Precisamos lembrar que todas essas coisas... as nuances, as anomalias, as sutilezas, as quais presumimos que são apenas acessórios dos nossos dias, estão de fato aqui por uma causa muito maior e mais nobre...
...estão aqui para salvar nossas vidas."*
Estranho? Talvez.
Ficção? Nem tanto.
✨ Epígrafe:
“Entre uma rotina e outra, sempre cabe um pedaço de ficção.”