Declus

Tentando tapar os buracos na minha cabeça...
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domingo, setembro 14, 2025

🌅 Post Extra — O Bom de Acordar Cedo

 
Dizem que existem dois tipos de gente: as corujas, que funcionam melhor à noite, e as cotovias, que já acordam antes do sol, cantarolando mentalmente.

Eu sou do segundo time.

Aos 51, meu corpo já se acostumou: às 21h30, bate minha “hora da bruxa” — fico mal-humorado, pesado, pedindo cama. Mas em compensação, às 3h30, 4h, às vezes 5h da manhã, já estou desperto. E não com aquele peso dos que viraram a noite, mas com uma estranha serenidade que só o silêncio da madrugada oferece.

Li em algum lugar que essa divisão não é tão simples. Mais ou menos 25% são corujas, 25% cotovias, e a maioria flutua no meio, sem uma definição clara. Ou seja, nada de determinismo biológico absoluto. Ainda assim, o fato é que acordar cedo se tornou para mim um ritual de aconchego.

Acordo com sons que nenhum despertador reproduz: o bem-te-vi (que, curiosamente, tem vários outros cantos além do clássico “bem-te-vi”), os estalinhos rápidos dos beija-flores, o voo baixo dos morceguinhos aproveitando o néctar que deixo para abelhas e pássaros. Já aconteceu até de eu separar briga de beija-flor dentro do quarto — juro.

Esse despertar silencioso, com a janela aberta e a luz ainda tímida, é como um convite do mundo: “vem, o dia está pronto para começar devagar.”
E não é só poesia: pesquisas mostram que acordar cedo melhora a disposição mental, reduz a sensação de ansiedade e aumenta a produtividade. (Não que eu esteja aqui cronometrando eficiência às cinco da manhã — na verdade, só gosto de sentir a calma antes que o barulho do dia comece).

Mas se você é do time das corujas, não se preocupe. Nada de briga entre espécies. A gente pode até marcar um bate-papo: eu às 3h da manhã, você às 3h03. A hora exata do matuto. Um encontro improvável no relógio, mas perfeito para lembrar que, cedo ou tarde, cada um encontra seu silêncio no tempo.

📌 Epígrafe:
“Alguns acordam cedo, outros dormem tarde. O que importa é achar a hora em que a alma respira.”

terça-feira, setembro 02, 2025

📽️ Mais Estranho que a Ficção

 

Têm filmes que não passam — permanecem.
Mais Estranho que a Ficção é um deles. Talvez seja a melancolia doce de Harold Crick, talvez a excentricidade da narradora, ou ainda o jeito como todos os personagens orbitam em torno de escolhas mínimas, quase invisíveis… Mas, sempre que revisito, ele me pega de novo.

É um filme sobre rotina, destino e liberdade. Mas também é sobre algo impossível de medir: a graça das pequenas coisas. O toque. O gesto. O bolo ruim. A música inesperada. O abraço que chega sem pedir licença. Coisas que parecem detalhes — mas que, no fundo, podem salvar vidas.

Assistir a “Mais Estranho que a Ficção” é como se lembrar de que não existe uma engrenagem invisível controlando tudo. Sempre há espaço para uma guinada, para uma desobediência, para um sopro de vida. E é estranho mesmo — porque não deveria fazer tanto sentido, mas faz.

E então, no final, vem aquele trecho. O que me pega todas as vezes. O que transforma um filme em lembrança, e lembrança em algo maior que nós mesmos:


*"Algumas vezes, quando nos perdemos no medo e desespero, na rotina e constância... na falta de esperança e drama... podemos agradecer a Deus por biscoitos de açúcar da Bavária.

E felizmente, quando não existem biscoitos, ainda podemos encontrar segurança em um toque familiar na nossa pele...

...ou em um gesto gentil e amoroso...

...em um sutil encorajamento...

...um abraço amoroso...

...ou numa oferta de conforto.

Sem falar das macas de hospital...

...e protetores de narinas...

...e um bolo dinamarquês incomível...

...e segredos sussurrados...

...e Fender Stratocasters...

...e talvez, um ocasional pedaço de ficção.

Precisamos lembrar que todas essas coisas... as nuances, as anomalias, as sutilezas, as quais presumimos que são apenas acessórios dos nossos dias, estão de fato aqui por uma causa muito maior e mais nobre...

...estão aqui para salvar nossas vidas."*


Estranho? Talvez.
Ficção? Nem tanto.

Epígrafe:
“Entre uma rotina e outra, sempre cabe um pedaço de ficção.”


sábado, agosto 23, 2025

Camus e o Café Requentado da Rotina

 
Albert Camus dizia que o maior problema filosófico de todos é o suicídio. Em outras palavras: diante do absurdo da vida, por que insistimos em levantar da cama?

Talvez a resposta esteja no despertador das 6h, no ônibus lotado, no café requentado que já perdeu o aroma mas ainda aquece. É nesse cenário nada heroico que o absurdo se revela: vivemos uma rotina repetida, uma vida que parece não levar a lugar nenhum — e ainda assim seguimos.

Para Camus, o absurdo nasce justamente desse atrito: de um lado, nossa vontade infinita de sentido; do outro, um universo que insiste em ficar em silêncio. Não há manual, não há resposta final. Só o eco vazio das mesmas tarefas que recomeçam todo dia.

Mas — e aqui está a virada — o absurdo não é motivo para desistir. Pelo contrário, é o convite para viver apesar de tudo. É rir diante do café frio, é encontrar poesia no tédio, é desafiar o destino simplesmente levantando da cama e repetindo o ritual.

Se Sísifo empurrava a pedra montanha acima, nós empurramos planilhas, boletos e xícaras de café requentado. E, como dizia Camus, precisamos imaginar Sísifo feliz — porque o sorriso, mesmo pequeno, é a nossa forma de revolta.

No fim, talvez o café velho seja perfeito: não é delicioso, mas é suficiente para nos lembrar de que estamos vivos.

🌱 Post Extra — Zona de Conforto (ou pelo menos tentando chegar nela)

  📌 Epígrafe: “ Fortis fortuna adiuvat ” — A sorte favorece os corajosos. (tatuagem inscrita nas costas de John Wick ) Sempre ouvi que “...