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Tentando tapar os buracos na minha cabeça...
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segunda-feira, agosto 11, 2025

📌 Post Extra — O Sagrado e o Humano

Se a religião fosse apenas um hobby, como colecionar selos ou aprender violão, não teria atravessado milênios, nem sobrevivido às guerras, às revoluções científicas e à internet.

Desde que o ser humano aprendeu a enterrar seus mortos, parece incapaz de viver sem tentar costurar uma narrativa maior que explique a própria existência. É aí que entra a religião: como sentido pronto, conforto imediato, e linguagem para o inexplicável.

Sigmund Freud, em O Futuro de uma Ilusão (1927), descreveu a religião como uma “ilusão necessária”, nascida do desejo por proteção e consolo diante da insegurança e da morte. Para ele, trata-se quase de uma “neurose coletiva” — não como ofensa, mas como um mecanismo psíquico natural, uma forma de nos acalmar diante do caos.

Já Émile Durkheim, pai da sociologia, via a religião como cimento social. Em As Formas Elementares da Vida Religiosa (1912), argumenta que ela nasce da necessidade de unir o grupo em torno de valores e símbolos comuns. A religião, para ele, é menos sobre adorar deuses e mais sobre a própria sociedade se venerando.

Carl Gustav Jung foi além: para ele, a religião expressa arquétipos do inconsciente coletivo. Não é opcional, como um passatempo; é manifestação inevitável de padrões profundos da psique humana — especialmente na busca por sentido.

Mircea Eliade, historiador das religiões, via o “sagrado” como dimensão fundamental da experiência humana. Para ele, somos homo religiosus por natureza: desde as primeiras pinturas rupestres até as catedrais, sempre marcamos o mundo com símbolos e rituais para lembrar que existe algo “além”.

E Viktor Frankl, criador da logoterapia e sobrevivente de campos de concentração, resumiu de forma talvez mais humana: a maior necessidade do homem é encontrar sentido. Para muitos, a religião cumpre exatamente esse papel — oferecer uma narrativa para a vida e para a morte.

Talvez por isso discutir religião seja tão difícil. Não é só sobre dogmas, ritos ou livros sagrados, mas sobre uma parte íntima da arquitetura mental humana. Um espaço onde, mesmo no silêncio, sempre ecoa a pergunta: por quê?

💭 Epígrafe:

"O homem pode viver sem muitas coisas. Mas até hoje ninguém viveu sem uma história para acreditar." 

🧠 Reflexo Filosófico — O que você resiste… assiste (Jung e o monstro no porão)

 
"Aquilo que você resiste, persiste."

Carl Gustav Jung

O problema de fingir que não há um monstro no porão é que ele começa a arrastar móveis lá em cima. E, mais cedo ou mais tarde, ele sobe pra tomar café com você.

Jung não falava de monstros mitológicos, mas de algo muito mais próximo: nossos medos, traumas, frustrações e desejos inconfessáveis. Tudo aquilo que a gente empurra pro fundo da mente achando que desaparece. Só que não desaparece. Vira sintoma.

A frase resume um dos pilares da psicologia junguiana: recalcar não resolve, só transforma o problema em outra coisa. Aquilo que você evita olhar de frente acaba se infiltrando por trás — nos sonhos estranhos, nas escolhas erradas, nos estalos de raiva sem aviso.

O que você resiste não apenas persiste: ele se disfarça. E às vezes se veste de trabalho excessivo, de distração constante ou de um otimismo exagerado. O porão psicológico vira palco para uma peça cujo roteiro você esqueceu que escreveu.

Jung defendia o encontro com a sombra: reconhecer o que é incômodo em si mesmo, sem fugir, sem idealizar. Porque só quem reconhece sua sombra pode integrar-se de verdade. O resto é pose.

Talvez seja hora de descer as escadas. Levar uma lanterna. E, com sorte, descobrir que o monstro só queria ser escutado.

📌 Post Extra — O Dragão na Garagem e o Olho do Ceará

  Meu pai, que saiu do Ceará aos 18 e hoje já passou dos 70, gosta de contar histórias do sertão. Uma delas reapareceu na sala esses dias, ...