📌 Epígrafe:
“Aqui jaz alguém que tentou dizer algo depois do fim. Mas, sinceramente, nem ele vai ler.”
Há quem planeje com cuidado o que será escrito em sua lápide.
Como se a morte fosse um livro com direito a epílogo.
Alguns escrevem piadas. Outros, versos. Muitos só querem ser lembrados como “alguém bom”. Mas no fundo, há algo de cômico — e profundamente humano — em tentar controlar até a nossa última frase no mundo. Como se pudéssemos deixar uma assinatura final no caos.
O epitáfio é, em essência, vaidade petrificada. É a ilusão de que seremos lidos quando já não estivermos aqui. É o desejo de condensar uma vida inteira em meia dúzia de palavras — como se elas fossem durar mais do que o pó.
Talvez o que nos mova seja o medo de ser esquecidos. A angústia de desaparecer sem deixar um rastro. Porque, no fim, todos sabemos: um dia somos um retrato na parede, no outro, nem isso.
E ainda assim, insistimos em esculpir frases como quem grita contra o silêncio. Não para nós — que não leremos —, mas para os que ficam. É um pedido disfarçado: “me lembrem, me levem adiante, não deixem que eu me apague tão rápido”.
Ironia das ironias: o epitáfio nunca é sobre quem parte. É sempre sobre quem lê.
E talvez seja exatamente isso que o torna tão humano.