"Talvez seu propósito não esteja em fazer algo grande, mas em fazer sentido — até nas coisas pequenas."
O Perigo da Estabilidade Vazia
Ikigai. Quase todo mundo já viu esse diagrama de círculos coloridos, resumido em post-its e reels motivacionais. A palavra japonesa, que se traduz como "razão de viver" ou "aquilo pelo qual vale a pena acordar", virou um clichê do autoconhecimento.
Mas por trás do diagrama bonitinho, existe uma ideia profunda que toca na ferida da nossa vida moderna. O Ikigai é a intersecção mágica e dificílima entre: o que você ama, o que você sabe fazer, o que o mundo precisa e o que te pagam pra fazer.
O risco é que, no Ocidente, estamos obcecados em preencher a parte do "o que te pagam pra fazer" e ignorando o restante.
A Máscara do "Tudo Certo"
E é aí que mora a ironia do seu nicho: hoje, não basta ser concursado, estável, com plano de saúde e uma rotina previsível. O maior sinal de que você está vivendo no piloto automático é acordar todo dia sentindo que algo está fora do lugar, mesmo que, no papel, "tudo esteja certo".
É o vazio que persiste apesar da segurança. É a segunda-feira eterna que começa na quarta-feira.
O normótico (que discutimos em A Normalidade que Anestesia ), obcecado pela normalidade, é a antítese do Ikigai. Ele segue o roteiro à risca, mas perde a capacidade de sentir propósito. O Ikigai não é sobre "o que é normal" ou "o que é seguro", mas sobre o que pulsa.
O Ajuste de Rota, Não o Grande Caos
A grande lição do Ikigai é que ele não exige que você detone a sua vida para reconstruí-la. Não é sobre largar tudo, abandonar a estabilidade e abrir uma pousada gourmet em Búzios.
Muitas vezes, a busca é por ajustar o rumo, e não por uma guinada de 180 graus. É encontrar uma forma de integrar o que você ama (sua paixão) ou o que você faz bem (sua vocação) ao seu dia a dia, mesmo que isso comece como um projeto paralelo, um hobby ou, veja só, um blog pessoal.
O propósito talvez não esteja em fazer algo grande e extraordinário, mas em fazer sentido — até nas coisas pequenas da sua rotina. É o pequeno ajuste que faz com que a vida, afinal, não pareça uma segunda-feira eterna.