A Lei da Gravitação Inversa dos Relacionamentos
Há quem diga que o amor é uma força da natureza. Eu discordo. Acho que o amor é uma força da física teórica, instável e imprevisível.
No meu caso, funciona mais ou menos assim: à distância, sou praticamente um campo gravitacional irresistível. Atraio olhares, simpatias, mensagens... É um espetáculo de magnetismo afetivo, alimentado pela projeção e pelo mistério.
Mas, conforme alguém se aproxima, o encanto começa a obedecer à minha própria Lei da Gravitação Inversa dos Relacionamentos: quanto menor a distância, menor a força da atração.
De longe, eu pareço legal. De perto, parece que eu tô de longe.
Talvez seja esse o verdadeiro paradoxo da intimidade: quanto mais a gente se aproxima, mais visíveis ficam as crateras e as falhas da superfície emocional. E, convenhamos, ninguém quer pousar em terreno acidentado quando busca um romance.
O Dossiê da Realidade
Um antigo professor de guitarra me dizia que o ideal seria que, nos primeiros encontros, cada um já entregasse um dossiê completo de defeitos. "Pra quê perder tempo?", ele dizia.
Imagine só a cena: "Oi, prazer, eu sou ansioso, falo demais quando estou nervoso, esqueço datas importantes e demoro pra responder mensagens porque perdi o celular no sofá. Segue meu histórico de traumas não resolvidos."
Acho que ninguém mais chegaria ao segundo café.
Mas talvez fosse mais honesto. Porque, sejamos sinceros, à distância todo mundo é bonito, culto e espiritualmente evoluído. É só a convivência começar que o romantismo evapora e sobra a versão beta instável da realidade, cheia de bugs e updates inesperados.
A Turbulência Necessária
No fundo, é bom saber rir disso. Porque a gravidade emocional que nos aproxima também é a que inevitavelmente faz a queda do encanto inicial.
E tudo bem — talvez o amor verdadeiro não seja a atração à distância, mas justamente encontrar alguém que suporte a turbulência da reentrada atmosférica.
Enquanto esse pouso seguro não acontece, sigo por aqui: uma massa emocional errante, orbitando o caos afetivo, emanando charme intermitente e puxando (com moderação) corações desavisados para minha zona de instabilidade.
Afinal, como diria o comediante Nando Viana:
“Se olhar rapidão, eu sou bonito. Se demorar...eu falei que era pra olhar rapidão...”

