Declus

Tentando tapar os buracos na minha cabeça...
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sexta-feira, novembro 14, 2025

🎭 A Geometria Variável do Eu (Ou: Minhas Três Personalidades Fixas)

 
Epígrafe: "Você não tem uma personalidade. Você tem um repertório de personalidades, ditado pelo ambiente."

O Eu de Contexto

A gente cresce com a ideia de ter uma personalidade coesa, única e inabalável. Mas a verdade é que o "eu" não é um bloco monolítico; é um conjunto de três ou quatro atores que trocam de roupa dependendo da luz.

No meu caso, detectei uma geometria variável fascinante. O ambiente não apenas influencia o comportamento — ele o cria.

1. O Caos Doméstico (Eu no Volume Máximo)

Em casa, o ambiente é de máximo ruído e mínimo filtro. É o palco do Eu Descontrolado. Sou barulhento, falo alto, faço piada de tudo e de todos.

Minha saudosa mãe sempre dizia que nunca sabia se eu estava brincando ou falando a verdade, e essa é a definição perfeita. É onde a energia e o caos se misturam, e a linha entre a brincadeira e a crítica sincera é quase invisível. É o lugar onde não há custo para ser complexo e, francamente, irritante.

2. A Contradição Produtiva (Eu no Trabalho)

No trabalho, a performance muda, mas a intensidade continua. Sou o Eu Verborrágico. Falo muito, reclamo um outro tanto — mas reclamo fazendo.

O mais curioso é o contraste: por dentro, posso estar fervilhando de estresse ou reclamando da burocracia, mas por fora, a percepção é outra. Recentemente, um segurança brincou que nunca me viu com a cara fechada. É a prova de que a competência e o bom humor viram a máscara que usamos para sobreviver ao próprio stress.

3. O Suricato de Sobrevivência (Eu na Rua)

Na rua, fora da minha bolha, o interruptor é desligado. Viro o Eu de Sobrevivência. Fecho muito — mas muito mesmo — a cara, e pareço um suricato olhando para todos os lados. A postura é defensiva, ditada pelo medo da violência e pela necessidade de segurança física.

Mas a máscara cai instantaneamente. É só reconhecer alguém familiar que o sorrisão abre, rápido e inesperado. A muralha que eu montei para o mundo é desmontada por um simples reconhecimento de afeto.

O Elogio Inesperado

O maior paradoxo dessa geometria, no entanto, veio em uma manhã. Eu estava a caminho do ponto de ônibus, no meu modo "cara fechada" máxima, completamente absorto no meu muro mental.

Um senhorzinho vindo do outro lado simplesmente sorriu para mim, parou do meu lado e disse: "Parabéns por essa luz que você emana."

Justo eu, o suricato tenso. Definitivamente não sei o que estava pensando, mas aquilo melhorou o meu dia de um jeito profundo.

A lição é simples: a luz está sempre lá. Ela está em todas as nossas personas. Mas ela só vaza por acaso, ou quando o contexto (como o sorriso de um estranho ou o reconhecimento de um amigo) consegue quebrar a casca que a gente constrói para sobreviver.

O "eu" verdadeiro não é nenhuma das três faces, é a soma delas. E a parte mais bonita é que, mesmo no nosso pior dia de cara fechada, a gente ainda pode ser luz para alguém.

quarta-feira, setembro 10, 2025

🪶 O Dodô e o Mundo Que Não Avisou Que Ia Mudar

 
O Dodô não era burro.

Ele só estava no lugar errado, quando o mundo resolveu mudar rápido demais.

Esse pássaro pacífico vivia em Maurício, sem predadores, sem necessidade de voar, sem pressa. Era a tradução viva de um ecossistema equilibrado — até que chegaram os humanos. Com eles, vieram cães, ratos, gatos e a lógica da exploração. Em menos de um século após sua “descoberta”, o Dodô já não existia mais.

E ainda assim, ficou a fama injusta: “burro como um dodô”. Como se fosse culpa dele não ter nascido com manual de sobrevivência contra fuzis, armadilhas e animais invasores. Não foi. O Dodô não falhou — o ambiente ao redor é que não teve a menor empatia.

A história desse pássaro é menos sobre evolução falha e mais sobre como mudanças rápidas demais podem atropelar até os mais preparados… se eles não tiverem tempo de se adaptar. E talvez esteja aí o alerta: não rir do Dodô, mas aprender com ele. Porque, às vezes, o maior risco não é ser inadequado, mas ser lembrado só depois de desaparecer.

✨ Epígrafe:
“O Dodô não morreu de burrice. Morreu de pressa alheia.”

quarta-feira, agosto 27, 2025

As Pessoas Que Sobreviveram Caindo de Avião

 
Parece roteiro de filme ruim de Hollywood: alguém cai de um avião em pleno voo e sobrevive. Mas a história real é ainda mais impressionante — e talvez ainda mais absurda.

Vesna Vulović: a queda impossível ✈️

Em 1972, a aeromoça iugoslava Vesna Vulović estava em um voo que explodiu a 10 mil metros de altitude.
Todos morreram — menos ela.
Presos em pedaços da fuselagem, seu corpo despencou até atingir o chão coberto de neve, amortecido por um carrinho de comida que atuou como “cápsula improvisada”.
Ficou em coma, quebrou praticamente todo o corpo… mas voltou à vida. Tornou-se símbolo involuntário de resistência e até ícone político em seu país.

Juliane Koepcke: a filha da floresta 🌿

No Natal de 1971, um avião foi atingido por um raio sobre a Amazônia peruana.
Juliane, então com 17 anos, foi arremessada do avião ainda presa à poltrona. Caiu de mais de 3 mil metros e sobreviveu graças à copa das árvores, que reduziu o impacto.
Ferida e sozinha, sobreviveu dez dias na selva até encontrar ajuda. Hoje é bióloga, dedicada a estudar justamente a Amazônia que a salvou.

Acaso, impacto e sobrevivência 🎲

Essas histórias são contadas quase como milagres. Mas no fundo revelam algo mais incômodo: a linha entre viver e morrer é tênue demais.
Não foi força de vontade que segurou Vesna a 10 mil metros. Não foi preparação que fez Juliane atravessar a queda. Foi acaso, puro acaso — a matemática improvável que, de vez em quando, favorece alguém.

E aqui está o ponto: às vezes sobreviver não é resistir. É cair do jeito certo.
É aceitar que o controle é uma ilusão e que, no meio do impacto, o destino pode nos jogar numa cama de neve ou na copa de uma árvore.

Filosofia em queda livre 🧠

Talvez essas histórias sirvam de metáfora para o que vivemos fora dos aviões: quedas financeiras, emocionais, existenciais.
Nem sempre sobrevivemos porque somos fortes, preparados ou especiais. Muitas vezes sobrevivemos porque algo do mundo, fora do nosso alcance, nos segurou.
E tudo bem. Reconhecer o acaso como parte da vida é também reconhecer que sobreviver, às vezes, é mais sobre sorte do que sobre mérito.


📜 Epígrafe
“Às vezes, cair é o único jeito de continuar vivo.”

🎧 O Eremitismo Mental Produtivo (A Arte de Ligar o Botão Fd-$)

  Epígrafe: "O mundo é como uma notificação irritante: você precisa silenciá-lo para conseguir ler o que está escrito dentro de si....