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Tentando tapar os buracos na minha cabeça...
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domingo, novembro 02, 2025

🌹 Gone Away (Reflexões para o Dia de Finados)

Epígrafe: “Talvez em outra vida…” — The Offspring, Gone Away

A Tempestade nos Fones de Ouvido

Há músicas que não são apenas músicas. São pequenas tempestades que atravessam o tempo, os fones de ouvido e, de algum jeito, encontram o caminho direto até o peito. Gone Away, do The Offspring, é uma dessas.

Não é só sobre perda — é sobre o vazio que fica entre o que poderíamos ter dito e o que não dá mais tempo de dizer. É a tentativa frustrada de negociar com o destino, mesmo sabendo que ele não faz trocas.

Eu sempre fui impactado por mortes, mesmo de pessoas que nunca conheci. É natural, e faz parte da humanidade que ainda insiste em habitar em mim. Mas quando a perda é próxima, quando o nome ecoa dentro da gente como um som que não se apaga… aí o luto ganha outro peso. É difícil definir ou expressar a profundidade da dor.

O Vazio Físico e o Arrepio Universal

E talvez por isso Gone Away me acerte tanto. Desde o primeiro verso — Maybe in another life…” — já se estabelece o tom: não é negação, é uma súplica desesperada. É o cérebro tentando dar forma àquilo que o coração se recusa a aceitar.

Depois vem o refrão, e o mundo realmente parece mais frio e distante:

"Now that you’ve gone away…”

Essa linha é quase física. Sinto um arrepio toda vez que ela chega — e curiosamente, descobri que não sou o único. A frequência, a nota, ou seja lá o que for, toca um nervo universal da saudade. Vi a análise dessa youtuber e percebi que ela sentiu o mesmo arrepio na mesma parte, quase como se fosse uma assinatura musical da melancolia.

A canção segue, e o pedido fica mais intenso, mais inegociável, mais humano:

"Black roses and Hail Mary / Can't bring back what's taken from me..."

O clímax do sentimento, para mim, está na aceitação da impotência e na persistência da busca:

"I reach to the sky / And call out your name / And if I could trade I would..."

Talvez seja isso que a gente faz em silêncio, mesmo sem perceber: segue chamando, segue alcançando o céu com a lembrança, mesmo que não venha resposta.

A Certeza que Permanece

Hoje é Dia de Finados. E ao invés de vestir o luto pesado, prefiro ouvir essa música e pensar que, talvez, exista um canto do universo onde os que amamos ainda dançam — sem dor, sem relógio, sem distância.

Até lá, seguimos. Com a lembrança, com a música, com o arrepio — e com a certeza de que sentir essa dor é o que, ironicamente, ainda nos mantém vivos e conectados àqueles que se foram.

quinta-feira, outubro 02, 2025

💔 Miss You Love: Quando a Canção de "Amor" É Sobre Depressão e Ódio

 "É mais fácil aceitar a melancolia disfarçada de amor do que a melancolia pura e simples."

O Engano da Melodia

Já vinha eu com metade da idade que tenho hoje quando a ouvi, e tive certeza: "Miss You Love", do Silverchair, era uma música romântica. Um hino sobre saudade, amor intenso e sofrido. Como eu estava enganado (e, felizmente, não estava sozinho nessa leitura superficial).

Daniel Johns, vocalista e compositor, já explicou que a intenção era perversa: escrever uma canção que soasse amorosa, mas que por dentro fosse raivosa, amarga e profundamente confusa. E, de fato, a letra é exatamente isso.

O que parece uma declaração de afeto, na verdade, é o desabafo de alguém afogado em depressão severa — um retrato do vazio emocional e da incapacidade de se conectar.

A Dualidade da Angústia

A música expõe a mais cruel das contradições: o eu lírico está dividido entre o desejo de amar e a incapacidade de corresponder. Ele sente a falta da conexão ("I miss you love"), mas ao mesmo tempo demonstra falta de respeito e uma desconfiança brutal em relação à superficialidade das paixões que o cercam.

O verso central, o soco no estômago disfarçado de confissão, resume a luta:

"I love the way you love, but I hate the way I'm supposed to love you back." (Amo o jeito que você ama, mas odeio a forma como deveria te amar de volta.)

Johns via o amor mais como um terreno fértil para dor e ódio ("a breeding ground for hate") do que como um refúgio. Ele sentia-se um espectador da própria vida, incapaz de processar emoções, frustrado por não conseguir vivenciar o amor de forma saudável.

Por que Lemos a Letra Errada?

No fim, "Miss You Love" não é sobre um relacionamento fracassado. É sobre a dificuldade de viver quando até o amor parece um peso, uma obrigação insuportável. É sobre a luta de uma pessoa contra seus próprios demônios internos em busca de autenticidade.

Talvez seja por isso que tantos de nós tenhamos lido a letra erroneamente. Porque é mais confortável para a nossa mente acreditar que uma canção melancólica fala de um drama romântico — do que encarar que, às vezes, ela fala de dor e da mais profunda crise de identidade. É mais fácil consumir o mito do que encarar a realidade da depressão.

🎧 O Eremitismo Mental Produtivo (A Arte de Ligar o Botão Fd-$)

  Epígrafe: "O mundo é como uma notificação irritante: você precisa silenciá-lo para conseguir ler o que está escrito dentro de si....