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Tentando tapar os buracos na minha cabeça...
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terça-feira, novembro 18, 2025

🛑 A Síndrome do Nunca é Suficiente (E a Libertação de Ser o Não-Eu)

 Epígrafe: "Quando você não é, e nem quer ser (ou não estou aqui pra agradar nem a mim mesmo)."

A Esteira Rolante da Insatisfação

A Síndrome do Nunca é Suficiente (SNS) é a doença do nosso século. Não é uma ambição saudável; é uma ansiedade de performance.

Nós somos ensinados que a vida é uma constante escalada:

  • Mais dinheiro.

  • Mais status social.

  • Mais felicidade performática (aquela que tem que ser mostrada).

  • Mais hábitos otimizados (lembramos do mito do hábito duradouro?).

O problema da SNS é que ela nos rouba o presente, pois o foco está sempre no futuro, no "próximo nível". O sucesso de hoje é apenas o degrau para o fracasso de amanhã, pois você já está atrasado para a próxima conquista. Você está sempre competindo com a sua versão idealizada de "Mais".

Você se torna um escravo do próprio potencial: "Eu deveria ser mais e, portanto, o que sou agora é falho."

A Revolução do Não-Ser

É nesse ponto de exaustão que surge o pensamento mais libertador de todos.

Se a vida é uma eterna corrida para ser mais, mostrar mais, e agradar um júri invisível (a sociedade, a família, o feed), o que acontece quando você decide simplesmente não correr?

Aí entra o grande contra-argumento, a resignação que vira revolução: "Quando você não é, e nem quer ser."

Essa frase é o desmonte de toda a arquitetura de performance da vida moderna. Ela quebra a tirania da validação em três níveis:

  1. Rejeição Externa: Você não se importa em agradar o mundo ("não estou aqui pra agradar...").

  2. Rejeição Interna (Otimizada): Você rejeita a pressão de se encaixar no seu próprio ideal de sucesso ("nem quer ser [mais]").

  3. Rejeição Profunda: Você abandona a luta fundamental do ego ("...nem a mim mesmo").

O Eu não precisa de aprovação nem mesmo da própria consciência crítica.

O Fim da Performance

A Síndrome do Nunca é Suficiente prospera na comparação e na vaidade. A frase "não estou aqui pra agradar nem a mim mesmo" anula o jogo.

É um convite para o descanso existencial.

O adulto resignado (lembra dele?) não luta mais por mais poder; ele luta por mais silêncio e conforto. Mas o Não-Eu vai além: ele encontra a paz não na otimização, mas na aceitação passiva e irônica do que simplesmente é.

Talvez o verdadeiro sucesso não seja a construção de uma identidade infalível, mas a rendição ao fato de que não somos uma identidade fixa. Somos um fluxo.

E nessa aceitação de que você não é o que o mundo quer, nem o que sua mente exige, é que mora a única satisfação que o dinheiro e o status nunca podem comprar: a liberdade de ser incompleto.

sexta-feira, agosto 15, 2025

Tântalo e o Castigo da Sede Infinita

 
No mito grego, Tântalo foi condenado a um suplício peculiar: preso em um lago, com frutas ao alcance das mãos, mas incapaz de beber ou comer. A água recuava sempre que tentava beber. As frutas se afastavam sempre que esticava os dedos.

A punição era simples e cruel: desejar para sempre o que jamais poderia ter.

Tântalo encarna um tipo de sofrimento que parece muito moderno. Vivemos cercados de imagens, produtos e promessas — e, no entanto, o que queremos parece sempre um pouco além da borda. Um aumento de salário que nunca é suficiente. Um relacionamento que quase nos preenche. Um projeto que sempre fica para “quando sobrar tempo”.

Talvez por isso o mito ainda fale tanto com a gente: ele não é só sobre castigo divino, mas sobre o motor da nossa insatisfação. Afinal, não é essa distância — entre o que temos e o que sonhamos — que mantém a roda girando?
Ou será que estamos apenas repetindo, em versão 4K, o mesmo gesto de Tântalo: com a boca na água e a fome intacta?

🎧 O Eremitismo Mental Produtivo (A Arte de Ligar o Botão Fd-$)

  Epígrafe: "O mundo é como uma notificação irritante: você precisa silenciá-lo para conseguir ler o que está escrito dentro de si....