Epígrafe: "A inteligência encanta. Mas é o afeto que permanece."
A Idealização Elegante
De uns tempos para cá, começou a pipocar um termo que soa chique, quase científico: sapiosexual.
A definição é simples — seria alguém que "só se apaixona por pessoas inteligentes". Bonito, não é? Quase dá para colocar no currículo, junto de "proativo" e "bom trabalho em equipe".
Mas será que essa paixão é realmente guiada por um teste de QI?
Talvez, no fundo, o discurso não seja tanto sobre o fascínio pela inteligência, mas sobre filtros emocionais disfarçados de erudição. O discurso "só me interesso por mentes brilhantes" muitas vezes soa mais como uma defesa do que como uma preferência:
"Ninguém me entende."
"Ninguém me acompanha."
Ou, na pior das hipóteses: "Ninguém me aguenta, então preciso de um critério elevado para justificar minha seletividade."
O Caos Biológico
A verdade, inconveniente e caótica, é que ninguém escolhe se apaixonar.
A gente tenta racionalizar o que é pura desordem bioquímica, um vendaval de hormônios e histórias que decide se instalar sem pedir licença. E mesmo quem jura que só se apaixona por mentes geniais, cedo ou tarde descobre que até o cérebro mais brilhante do mundo pode ser um desastre afetivo e um péssimo companheiro para montar móveis.
Eu entendo — também gosto de boas conversas, de gente que me instiga e me tira da zona de conforto. Mas amor não é uma tese de doutorado.
É uma colisão de histórias, manias, cheiros, risadas fora de hora e silêncios que fazem sentido. É a aceitação mútua de que somos, todos, bagunçados.
E, sinceramente, se for para amar só quem cita Nietzsche ou debate física quântica, que seja ao menos alguém que saiba rir de si mesmo logo depois da citação.
O Verdadeiro Foco
Talvez o verdadeiro critério de atração sustentável seja outro. Não a inteligência crua, mas a inteligência emocional.
O verdadeiro "sapiosexual" talvez seja aquele que entende que inteligência sem empatia é apenas vaidade travestida de charme. Ela pode te atrair para a conversa, mas é a capacidade de afeto e de conexão humana que faz você ficar para o café da manhã.
Afinal, a inteligência encanta e abre portas. Mas é o afeto que permanece, que acolhe a bagunça e que transforma o caos em lar.


