O ser humano sempre buscou ritual. Desde pinturas rupestres até procissões religiosas, precisamos de símbolos, gestos e narrativas que deem forma ao invisível. A diferença é que, em 2025, o altar pode ser uma ring light e o templo, um feed infinito.
No TikTok, a espiritualidade virou espetáculo portátil: danças com cristais na mão, vídeos de astrologia em cortes rápidos, rituais de limpeza energética embalados em filtros neon e sinos tibetanos em câmera lenta. O sagrado foi editado em 15 segundos, com trilha sonora e hashtags.
A crítica óbvia seria dizer que isso é superficialidade — uma caricatura de tradições milenares. Mas talvez haja algo mais profundo acontecendo: um retorno ao ritual como performance pública. Não importa se é para invocar energia, atrair sorte ou simplesmente acumular likes; o gesto em si já cria sentido, ainda que efêmero.
É claro, a fronteira entre espiritualidade e entretenimento fica borrada. Estamos rezando, dançando ou só encenando? Talvez um pouco de tudo. Como diria Clifford Geertz, antropólogo das culturas, os rituais são maneiras de dizer ao mundo quem somos. No TikTok, dizemos isso com coreografias sincronizadas e frases de autoajuda embutidas em trend.
E aí surge a pergunta: estamos caminhando para uma “Idiocracy espiritual”, onde cada crença vira meme, ou para um espaço mais democrático, onde qualquer um pode brincar de xamã? Talvez ambas as coisas.
Seja como for, a busca continua. O palco mudou, os filtros mudaram, mas o instinto de ritualizar segue intacto. No fim, entre um signo explicado em 30 segundos e uma coreografia com palo santo, talvez só estejamos atualizando uma necessidade tão antiga quanto a fogueira: criar sentido juntos, mesmo que seja com dancinhas.