Declus

Tentando tapar os buracos na minha cabeça...
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sexta-feira, setembro 19, 2025

🌌 O Efeito Doppler e o Universo Que Vai Embora

 
As galáxias estão fugindo. Literalmente.

Quando olhamos para o espectro da luz que elas emitem, vemos um deslocamento para o vermelho — o famoso redshift. É o Efeito Doppler em escala cósmica: a mesma lógica que faz a sirene de uma ambulância soar diferente quando se afasta, mas agora aplicado ao universo inteiro.

Isso significa que o cosmos está em expansão. Cada estrela, cada aglomerado de galáxias, cada fiapo de poeira cósmica se afasta de nós em um ritmo cada vez mais acelerado. O espaço se estica como um elástico que nunca para de ceder.

E aí, olhando daqui, não dá pra evitar o pensamento:
“As galáxias estão se afastando da gente… sinceramente, eu também estaria, se conhecesse os humanos.”

Porque não é só no céu que isso acontece.
Na vida também há distâncias que aumentam: amizades que se esticam até romper, lugares que ficaram longe demais para voltar, anos que se acumulam como luz vermelha indo embora. O tempo tem seu próprio Doppler.

Mas talvez o verdadeiro mistério não esteja no que foge — e sim no que resiste. Naquele afeto que insiste em permanecer, na memória que se recusa a se perder, na pessoa que ainda fica ao seu lado mesmo quando tudo parece se afastar.

O universo pode expandir o quanto quiser.
Afinal, a gente aprende que a distância não mede tudo — porque há coisas que, mesmo longe, continuam incrivelmente próximas.

📌 Epígrafe:
“O universo se expande. Mas não mais rápido que certas ausências.”

segunda-feira, setembro 08, 2025

🌿 O Lugar Onde a Vida Acalma

 
Esses dias ouvi uma atriz contar que visitou o pai em outro país. Ele vive no interior, cultivando quase tudo que consome: hortaliças frescas, frutas, até queijo feito com o leite das cabras da propriedade. Uma vida quase autossuficiente, idílica, dessas que parecem saídas de um livro antigo — simples, mas cheia de sentido.

E eu, aqui, divido uma casa com meu pai e meus irmãos. Nosso “sítio” cabe em vasos: flores, temperos, alguns chás e frutíferas tímidas. No inverno, colhemos morangos. Agora, amoras. Plantamos sementes de tomate que daqui uns 90 dias vão virar salada. E, pasme: até um pé de café resiste firme na calçada, dando frutos como quem insiste em lembrar que a vida também nasce do inesperado.

Nada de cabras, é verdade. Mas temos visitantes mais livres: cambacicas, beija-flores, sanhaços, sabiás, rolinhas. Cada aparição deles é quase uma epifania silenciosa, um presente do universo entregue sem bilhete.

Aos 51, só consigo pensar que meu futuro ideal não é tão diferente daquele pai da atriz: um sítiozinho tranquilo, plantar na terra, conviver com alguns animais — não pelo consumo, mas pela companhia. Um lugar onde ainda caibam meus mais de 600 livros e, quem sabe, uma cadeira de balanço que me ensine a ver o tempo passar sem pressa.

Porque no fundo, descanso não é ausência de movimento — é presença de sentido. Para uns, é viajar o mundo. Para outros, é se perder na agitação da cidade. Para mim, talvez seja apenas o canto de um sabiá, uma fruta colhida da árvore e a paz de saber que a vida, enfim, encontrou um compasso mais sereno.

📌 Epígrafe:
“Cada um sonha o seu paraíso. O meu tem árvores, livros e silêncio.”

sexta-feira, agosto 29, 2025

📌 Post Extra — Conversas virtuais e as massagens do ego

 
Existe um tipo de diálogo moderno que nem Freud teria previsto: as conversas virtuais que não levam a lugar nenhum.

Você provavelmente já passou por isso: horas trocando mensagens, acreditando ter encontrado uma alma gêmea digital, alguém que entende suas ironias e até manda aquele emoji na hora certa. Tudo parece perfeito — até que chega a constatação incômoda: não passou de uma massagem no ego.

Porque, no fim, não era amor, nem amizade, nem interesse real. Era apenas um flerte casual com a solidão.

E o pior é que, mesmo quando essas conversas escapam da tela e viram convite para café, a ilusão pode continuar. Há sempre a chance de terem nascido de “verdades incorretas”. Você achava que era especial, mas talvez fosse só mais um na fila de notificações. Talvez aquela mensagem carinhosa tivesse sido enviada para cinco pessoas diferentes, e você foi apenas o que respondeu mais rápido.

No fundo, não há grande problema em papinhos moles — desde que a gente não os confunda com destino. Às vezes, tudo o que oferecem é exatamente isso: um sopro de autoestima inflada, um instante de “ser visto” no meio do barulho.

Mas, se você deseja algo além, é preciso cuidado. Nem toda mensagem é convite para a vida. Muitas vezes, é apenas o eco do vazio. E o vazio, esse sim, responde sempre.

Epígrafe:
"Nem toda notificação é sinal de presença; às vezes é só o vazio vibrando no seu bolso."

sábado, agosto 16, 2025

📌 Post Extra — Ilusão de Ética

 
Vivemos na era do dualismo de bolso.

Calma: não é uma referência direta ao ex-presidente (embora os mais incautos possam até achar que sim… e talvez não estejam tão errados). É o dualismo reduzido, simplificado, que cabe numa caixinha de rede social: certo x errado, bem x mal, nós x eles. O maniqueísmo atualizado para tempos de memes e threads.

Dentro desse tabuleiro simplificado, cada lado se convence de que busca o “melhor”.
Mas o melhor para quem? Para si? Para o grupo? Para a humanidade?
O problema é que, quase sempre, o “melhor” vem com nota de rodapé: vale enquanto não atrapalhar o meu conforto pessoal.

É aí que entra a tal ilusão de ética.
Um verniz que nos faz acreditar que nossas escolhas são justas, éticas, corretas… até o momento em que percebemos que alguém ficou pelo caminho. E então inventamos justificativas, sofismas e boas intenções — porque ninguém gosta de se enxergar como o vilão da própria história.

Mas será que existe mesmo um caminho do meio?
Uma forma de equilibrar desejo e responsabilidade sem se tornar mártir nem predador? Talvez a resposta seja menos heroica do que parece: não se trata de salvar o mundo, mas de não destruí-lo enquanto busca o seu lugar nele.

O prazer existe — e é legítimo buscá-lo.
Mas se, para desfrutá-lo, é preciso esmagar o outro, talvez não seja prazer: seja apenas abuso com outra etiqueta.
A vida bem vivida talvez não seja um ideal ético absoluto, e sim um exercício diário de sobriedade: aproveitar sem ferir, existir sem devastar.

E isso, convenhamos, já é revolucionário o bastante.


Epígrafe
“Todo mundo é ético até descobrir que ética não paga boleto.”

Contraepígrafe
"Talvez a maior ilusão ética seja acreditar que estamos sempre do lado certo."

Errata Ética
"Ou talvez a maior ilusão seja fingir que se importa com ética quando, no fundo, só não quer parecer o vilão da história."

Nota de rodapé insolente
“A ética é linda… até esbarrar na sua conveniência.”

🇯🇵 O Soldado Que Lutou Contra o Fim da Guerra (e o Medo de Acreditar na Paz)

  "Nem toda paz é fácil de acreditar. Especialmente depois de tanto tempo na trincheira." A Guerra que Terminou Lá Fora, Mas Não D...