De vez em quando, a vida dá uma trégua.
As vozes que normalmente gritam dentro da cabeça diminuem o volume, e o coração bate em compasso de música calma. Não porque tudo se resolveu — longe disso — mas porque, por um instante raro, tudo parece ocupar o lugar certo.
É como a velha síndrome do nariz entupido: só lembramos de como é bom respirar direito quando o ar falta. Quando o ar volta, sorrimos sozinhos, como se tivéssemos redescoberto um segredo antigo que sempre esteve ali.
Talvez seja a idade falando — aos 51, já acumulo batalhas vencidas, derrotas doloridas e empates esquecíveis. Não conquistei todas, nem cheguei perto disso. Mas lutei. E, no fim das contas, talvez seja isso que realmente pesa na balança: não a vitória absoluta, mas a disposição de ter entrado na arena.
Lembro de uma cena em O Senhor dos Anéis: Galadriel, diante de Frodo, com o Anel estendido. A tentação do poder absoluto, a promessa de ser temida e venerada. O brilho da luz e o peso da sombra, lado a lado. E então a escolha dela: recusar. Diminuir. Continuar sendo apenas o que é.
Ela passa no teste.
Será que a serenidade que, às vezes, nos visita não vem da vitória sobre tudo, mas da aceitação de que não precisamos vencer tudo? Que basta seguir, mais leves, respirando fundo, com a calma de quem já viu o bastante para não ser enganado pelo que ainda falta.
Talvez não seja uma grande lição. Talvez seja apenas isso: o teste passando.
E eu, quem diria, passando junto com ele.
✨ Epígrafe:
"Às vezes, vencer é simplesmente aprender a descansar dentro da própria pele."