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Tentando tapar os buracos na minha cabeça...
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sábado, setembro 27, 2025

📝 Olhar Curioso – A primeira vez que alguém disse “Ok”

 
“Ok” é provavelmente a palavra mais usada do mundo. Está em e-mails, conversas, contratos, memes… e até em situações onde o silêncio seria suficiente. Mas você já parou pra pensar: quando foi a primeira vez que alguém disse (ou melhor, escreveu) “Ok”?

📜 A história começa nos Estados Unidos, no longínquo 1839. Na época, os jornais de Boston tinham a mania de criar abreviações engraçadas — uma espécie de “trolagem” editorial. Era moda escrever palavras com erros de propósito, só para depois abreviá-las.

👉 Um exemplo: all correct (“tudo certo”) virou oll korrect — e daí nasceu o famoso O.K.

📰 O jornal Boston Morning Post publicou a sigla pela primeira vez em 23 de março de 1839. Ninguém ali imaginava que aquela piadinha regional viraria a abreviação mais globalizada da história.

💬 Abraham Lincoln usou “OK” em documentos oficiais. Telegrafistas adotaram a sigla para confirmar mensagens. Décadas depois, o termo já estava espalhado por todos os cantos, sendo entendido mesmo por quem não falava inglês.

🙃 Moral da história: a palavra que hoje parece universal nasceu de uma piada interna de jornalistas. Ou seja, o mundo inteiro acabou dizendo “Ok” porque alguém achou engraçado escrever errado.

📚 O Dicionário Inseguro: Por que a Erudição Vem Com Manual de Instruções

 
"A palavra difícil não é o problema. A insegurança que a traduz, sim."

Tem gente que simplesmente não usa palavras difíceis. E tem gente que usa — mas, numa cena de autossabotagem linguística, pede desculpas logo em seguida, traduzindo o próprio vocabulário, como se o público fosse uma plateia de susto fácil.

O clássico é inevitável:

“Isso ainda é incipiente… quer dizer, tá começando agora.”

É quase uma peça teatral de um ato só: o orador saca uma palavra mais erudita, mas antes que alguém possa levantar a sobrancelha, ele mesmo trata de puxar a versão popular. Como se o termo viesse com um manual de instruções acoplado.

E o mais curioso é que, muitas vezes, ninguém pediu a tradução. Talvez todos na reunião já soubessem o que era "incipiente". Mas ali, entre o silêncio da tela do Meet e a ausência de reações faciais, nasce uma pequena ansiedade: "E se não entenderam? Melhor garantir."

No fundo, essa mania é quase uma metáfora do nosso tempo: mostrar sofisticação, mas sem parecer pedante. É a busca por ser entendido e, ao mesmo tempo, ser reconhecido como alguém que sabe das palavras. É onde o dicionário anda de mãos dadas com a insegurança.

E talvez seja aí que resida o charme: cada vez que alguém explica a própria palavra, não está apenas traduzindo o termo. Está traduzindo a si mesmo, equilibrando a linha tênue entre erudição e acessibilidade.

Moral da história? Às vezes, a gente não está explicando o que é "incipiente". A gente está explicando a nós mesmos.

quinta-feira, setembro 18, 2025

✍️ Post Extra — O travessão é da IA ou do vernáculo esquecido?

Epígrafe

“Às vezes, não é a IA que escreve como humano — é o humano que desaprendeu a escrever como humano.”

Dizem que dá pra saber quando um texto foi escrito por inteligência artificial. O grande indício? O uso do travessão no meio da frase. Pois é — parece que o travessão virou a nova "pegada digital" das máquinas.

Mas calma: o pobre travessão não nasceu nos laboratórios de IA. Ele está lá nas boas e velhas regras de pontuação da língua portuguesa, servindo pra indicar diálogo, intercalações e até interrupções dramáticas. Nós é que fomos largando ele de lado, substituindo por vírgulas, reticências e até aquele indefensável “hífen disfarçado”.

E não é só o travessão que denuncia. Outras marcas que hoje parecem "coisa de robô" são, na verdade, só ecos do vernáculo que a gente esqueceu:

  • O uso correto de dois-pontos (que deveriam abrir explicações, e não apenas listas de compras);

  • A vírgula antes do "mas", que parece frescura, mas está certa;

  • O ponto e vírgula, que já foi respeitado e hoje vive exilado;

  • O itálico, que substituímos por aspas porque o botão do Word era mais fácil.

No fim das contas, talvez não seja a IA que esteja escrevendo como humanos. Somos nós que, preguiçosos ou apressados, fomos deixando de lado ferramentas da própria língua.

Então, se de repente você ler um texto meu com muitos travessões, não se assuste. Pode ser IA, pode ser coincidência, ou pode ser apenas eu tentando redescobrir o vernáculo — palavra que, aliás, já basta sozinha pra desmascarar qualquer impostor.

PS — se você é do time “ponto final em todas as frases”, tudo bem. Eu só queria o direito de dramatizar uma vírgula de vez em quando.

PS2 (ou adendo tardio) — Pedi para a IA gerar uma versão mais curta do texto para postar, e tive que corrigir um erro de Português dela. Ou seja: ainda estou vivo. 🧠

🎧 O Eremitismo Mental Produtivo (A Arte de Ligar o Botão Fd-$)

  Epígrafe: "O mundo é como uma notificação irritante: você precisa silenciá-lo para conseguir ler o que está escrito dentro de si....