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Tentando tapar os buracos na minha cabeça...
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sábado, setembro 20, 2025

🦙☕ Post Extra — A Lhama e o Menino-Café

 
📌 Epígrafe:

“Algumas pessoas são como lhamas: você dá o pasto, o abrigo, o carinho... e elas retribuem cuspindo na sua cara.”

As lhamas (Lama glama) são animais domesticados típicos da região andina. Serviram por séculos como animais de carga, fonte de lã e até companhia. São dóceis na maior parte do tempo, inteligentes, sociais. Mas guardam um detalhe nada poético: quando contrariadas, frustradas ou apenas de mau humor, podem cuspir. Não um cuspe qualquer — mas uma mistura de saliva e restos do estômago. Um lembrete ácido de que, apesar da domesticação, ainda carregam o instinto selvagem.

Dizem os especialistas que não é pessoal. A lhama não te odeia. Ela só cuspiu porque quis. Porque algo a incomodou. Porque… simplesmente porque sim.

E então percebi: a vida — e os relacionamentos — se parecem muito com lhamas. Você pode passar anos cuidando, oferecendo abrigo, carinho, sombra, silêncio, acreditando que o vínculo é sólido. Pode decorar manias, ritmos, preferências. Mas um dia, sem aviso, a lhama cospe. E, se deixar, vai embora sem olhar pra trás.

Alguns chamariam isso de instinto animal. Eu prefiro chamar de retrato cru do afeto humano: depois de tanto cuidado, há quem só te deixe a lembrança amarga de uma cusparada.

📜 Nota do autor:
O texto acima foi encontrado anos depois, amassado numa caixa esquecida. No rodapé, uma assinatura quase irônica, como um bilhete para ninguém:

Ass.: Menino-café.

domingo, setembro 07, 2025

🍊 A Metade da Laranja e Outras Metáforas Que Azedam

 Existe mesmo “a pessoa certa”?

A cara-metade, a alma gêmea, a tampa da panela (ou da frigideira esquecida no fundo do armário)?
Crescemos cercados dessas metáforas como se o amor fosse um quebra-cabeça, e cada um estivesse condenado a procurar pela peça que falta.

Mas talvez o amor seja menos sobre encaixe perfeito e mais sobre dois absurdos tentando funcionar juntos. Porque, sejamos honestos: ninguém é tão redondo assim. Somos todos cheios de rachaduras, arestas, manias. O que chamam de “compatibilidade” pode ser, no fundo, só uma boa negociação entre as nossas loucuras.

A ideia da metade da laranja soa romântica, mas também carrega uma armadilha: a de acreditar que somos incompletos sozinhos. E não somos. Pelo contrário: só quando aprendemos a ser inteiros é que conseguimos realmente dividir algo com alguém. Metade + metade não dá um inteiro. Dá duas metades carentes tentando se completar em vão.

O problema é que a cultura nos treina a esperar esse encaixe mágico. Filmes, músicas, novelas, apps de namoro — todos vendem a fantasia de que “lá fora” existe alguém feito sob medida para nós. Quando, na prática, o que existe são encontros improváveis entre pessoas reais, cheias de falhas e histórias inacabadas.

No fim, talvez a questão não seja achar a tampa perfeita para a panela, mas aprender a cozinhar com o que se tem — às vezes até queimando a borda, mas rindo junto no processo.

E é nesse ponto que a metáfora azeda dá lugar a algo mais honesto: o amor como parceria, não como salvação. O encontro de dois inteiros que sabem caminhar sozinhos, mas escolhem — e isso é essencial — caminhar juntos.

Epígrafe
“Amar não é completar-se. É transbordar ao lado de quem também já aprendeu a ser inteiro.”


sábado, agosto 30, 2025

📌 Post Extra — Manual de como não se apaixonar

 Passo 1: não olhe nos olhos. Os olhos são perigosos — eles revelam mais do que deveriam, e às vezes entregam aquele brilho que você jura que nunca mais veria.

Passo 2: mantenha distância segura. Nada de cafés, encontros casuais ou conversas até tarde. São justamente nesses momentos que o coração, esse traidor profissional, resolve agir.

Passo 3: nunca ria junto. O riso compartilhado é o atalho mais rápido para a queda livre. E depois que você cai, não tem manual que dê jeito.

Passo 4: fuja dos detalhes. Não repare no jeito que a pessoa mexe no cabelo, nem no modo como pronuncia uma palavra estranha, ou como lembra de coisas que você achava que ninguém mais notava. É nesse descuido que mora o perigo.

Passo 5: lembre-se de que você tem controle absoluto sobre seus sentimentos. (Mentira. Mas acreditar nisso ajuda a dormir à noite.)

E, por fim, o passo mais importante: não se iluda. Porque, no fundo, todo manual de como não se apaixonar é apenas um roteiro falho para adiar o inevitável. A verdade é simples: a gente precisa se apaixonar, tropeçar, quebrar a cara e, ainda assim, querer de novo. É assim que se vive — mal escrito, sem manual, mas intensamente humano.

Epígrafe:
"Não existe manual para o coração: ele rasga as instruções antes mesmo de começar."

segunda-feira, agosto 25, 2025

📌 Post Extra — A Garotinha Ruiva e a Paty Pimentinha

 O amor ideal sempre parece morar longe. A gente inventa um rosto, projeta uma vida, constrói uma fantasia perfeita. É a garotinha ruiva do Charlie Brown: sempre no horizonte, sempre brilhando, mas nunca perto o suficiente para ser alcançada.

E, nesse processo, esquecemos de notar as Patys Pimentinhas que cruzam o nosso caminho. Elas não são idealizadas: reclamam, brigam, riem alto, cutucam a ferida… mas também estão ali quando você mais precisa. De um jeito torto e verdadeiro, são presença constante.

Charlie Brown sonhava com a ruiva. Mas era a Paty quem dividia o recreio, a bronca, a amizade, a mão estendida. Quantas vezes na vida não fazemos igual? Quantas vezes não corremos atrás da promessa inalcançável enquanto ignoramos a ternura que já existe ao nosso lado?

Talvez o grande segredo seja aceitar que o amor não precisa ter cara de comercial de TV. Ele pode ser feito de piadas ruins, de silêncios que não incomodam, de cumplicidade inesperada. Pode ser bagunçado, contraditório, meio implicante. Mas, ainda assim, ser amor — talvez até mais real do que qualquer idealização.

E no fundo, acho que o Charlie Brown sempre soube disso. Mesmo que continuasse olhando para longe, era na risada da Paty que ele encontrava o chão.

💭 Porque amar não é encontrar a perfeição. É perceber que o coração escolhe, às vezes sem pedir licença, justamente aquela pessoa que a gente nunca imaginou — mas que, de repente, parece caber em todas as frestas da vida.


Epígrafe
“Você pegou na minha mão, Minduim! Seu capeta!” 🧡

🧠 Reflexo Filosófico — Amor líquido, vínculos descartáveis (Bauman e a ansiedade do afeto)

 "O amor líquido escorre por entre os dedos."

Zygmunt Bauman

Você jura que está conectado. Troca emojis. Envia reels. Faz planos para o fim de semana. Mas basta uma vírgula mal interpretada e… sumiu.
Era amor? Ou era só conexão instável?

Bauman descreveu com precisão cirúrgica o cenário afetivo da modernidade líquida — uma época em que os vínculos são frágeis, provisórios, desprovidos de raiz. Ninguém mais se afunda com alguém. Apenas flutua junto, até a corrente mudar.

Amar, hoje, é navegar no Tinder com o dedo nervoso, encontrar alguém, se encantar, se assustar, desaparecer, reaparecer... E repetir o processo com outra bio. A velocidade da vida digital exige que tudo seja fácil, rápido, adaptável. Até os sentimentos.

O problema? Intimidade não tem atalho. E vínculos reais não cabem em notificações push.

Bauman não era moralista. Ele só mostrava como, ao fugir do desconforto da profundidade, acabamos presos numa superfície interminável — onde amar vira um risco que ninguém quer correr, mas todo mundo sonha secretamente viver.

No fim, o amor líquido não é falta de amor. É excesso de medo.

sexta-feira, agosto 22, 2025

Schopenhauer, o Amor e a Gaiola Invisível

 
Arthur Schopenhauer, o filósofo do pessimismo, provavelmente não teria um perfil no Tinder. Mas se tivesse, sua bio seria algo como:

A vida oscila entre a dor e o tédio. Swipe por sua conta e risco.”

Para ele, o amor não era uma poesia bonita nem uma escolha racional. Era, na verdade, um truque da natureza — uma armadilha biológica para nos fazer acreditar que estamos buscando felicidade, quando na verdade estamos apenas servindo ao instinto da espécie.

O desejo seria, assim, uma gaiola invisível.
Você entra achando que é liberdade, mas logo percebe as barras: ciúme, frustração, promessas quebradas, ilusões que se repetem.
Cada "match" é menos sobre você e mais sobre a vontade cega da vida (a famosa Vontade, em Schopenhauer) querendo continuar existindo.

E é aí que o filósofo dá aquele tapa filosófico:
👉 O amor romântico é só a ilusão de que “dessa vez vai”.
Na prática, é um empurrão para a reprodução, pintado com frases bonitas e playlists no Spotify.

Mas calma — Schopenhauer não era apenas destruidor de corações. Ao enxergar o amor como ilusão, ele também nos lembrava de algo libertador: talvez não seja culpa sua se dói tanto. Talvez a dor de amar e desamar seja só o preço de estar vivo num corpo que insiste em desejar.

No fim, podemos até rir: se o filósofo tivesse visto a dinâmica do Tinder, talvez apenas confirmasse sua tese — não importa quantos swipes você dê, a gaiola sempre está lá. Só muda a cor da grade.

🌱 Post Extra — Zona de Conforto (ou pelo menos tentando chegar nela)

  📌 Epígrafe: “ Fortis fortuna adiuvat ” — A sorte favorece os corajosos. (tatuagem inscrita nas costas de John Wick ) Sempre ouvi que “...