Declus

Tentando tapar os buracos na minha cabeça...
Mostrando postagens com marcador relacionamentos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador relacionamentos. Mostrar todas as postagens

terça-feira, novembro 11, 2025

☕ O Amor Segundo os Quebrados (A Beleza da Trinca)

 Epígrafe: "Metade da beleza do mundo vem das rachaduras — o resto é maquiagem e bom ângulo."

O Cansaço e a Sinceridade do Espelho

O ruim é que, com o tempo, o mundo te machuca demais. E isso mexe com tudo: com o ânimo, com as esperanças, com a própria imagem.

Um dia, você acorda e percebe que já não é mais o mesmo — e não apenas no sentido poético. As olheiras estão mais fundas, a paciência mais curta, e os sonhos… bom, esses estão com prazo de validade vencido, mas a gente continua consumindo mesmo assim.

E é aí que vem o golpe final, a percepção que a gente tenta evitar: quando você se olha no espelho e pensa — “só alguém tão ferrado quanto eu vai me querer.”

E talvez esteja certo. Mas o que ninguém te conta é que é exatamente essa honestidade que salva a humanidade.

A Aliança dos Sobreviventes

Porque quando dois machucados se encontram, a dor ameniza.

É como se o filtro do Instagram finalmente funcionasse na vida real: a maquiagem cai, o bom ângulo some, e a gente pode relaxar na bagunça. Um entende o silêncio do outro, o tempo de recuperação, o medo súbito de se abrir.

Eles sabem que o mundo é um lugar hostil e, ainda assim, escolhem dividir um café, uma piada que só eles entendem, e um pedaço do cansaço.

O amor dos quebrados não é sobre perfeição. É sobre paciência. É sobre olhar para alguém e ver beleza apesar do caos — ou, talvez, por causa dele.

Enquanto os "inteiros" (aqueles que fingem sê-lo) discutem o match perfeito, os trincados estão só tentando sobreviver à terça-feira.

O Disfarce da Dor

Talvez seja isso que mantenha o mundo girando: essas pequenas alianças entre sobreviventes emocionais que descobriram que o amor não é o contrário da dor.

Ele é o seu disfarce mais bonito. É o único lugar onde a gente pode assumir as rachaduras sem medo de que o outro comece a correr.


sábado, novembro 08, 2025

🌌 Amor, Gravidade e Outras Forças Instáveis

 Epígrafe: "Algumas pessoas te atraem como um buraco negro — o problema é que, quando você chega perto, percebe que a matéria já evaporou."

A Lei da Gravitação Inversa dos Relacionamentos

Há quem diga que o amor é uma força da natureza. Eu discordo. Acho que o amor é uma força da física teórica, instável e imprevisível.

No meu caso, funciona mais ou menos assim: à distância, sou praticamente um campo gravitacional irresistível. Atraio olhares, simpatias, mensagens... É um espetáculo de magnetismo afetivo, alimentado pela projeção e pelo mistério.

Mas, conforme alguém se aproxima, o encanto começa a obedecer à minha própria Lei da Gravitação Inversa dos Relacionamentos: quanto menor a distância, menor a força da atração.

De longe, eu pareço legal. De perto, parece que eu tô de longe.

Talvez seja esse o verdadeiro paradoxo da intimidade: quanto mais a gente se aproxima, mais visíveis ficam as crateras e as falhas da superfície emocional. E, convenhamos, ninguém quer pousar em terreno acidentado quando busca um romance.

O Dossiê da Realidade

Um antigo professor de guitarra me dizia que o ideal seria que, nos primeiros encontros, cada um já entregasse um dossiê completo de defeitos. "Pra quê perder tempo?", ele dizia.

Imagine só a cena: "Oi, prazer, eu sou ansioso, falo demais quando estou nervoso, esqueço datas importantes e demoro pra responder mensagens porque perdi o celular no sofá. Segue meu histórico de traumas não resolvidos."

Acho que ninguém mais chegaria ao segundo café.

Mas talvez fosse mais honesto. Porque, sejamos sinceros, à distância todo mundo é bonito, culto e espiritualmente evoluído. É só a convivência começar que o romantismo evapora e sobra a versão beta instável da realidade, cheia de bugs e updates inesperados.

A Turbulência Necessária

No fundo, é bom saber rir disso. Porque a gravidade emocional que nos aproxima também é a que inevitavelmente faz a queda do encanto inicial.

E tudo bem — talvez o amor verdadeiro não seja a atração à distância, mas justamente encontrar alguém que suporte a turbulência da reentrada atmosférica.

Enquanto esse pouso seguro não acontece, sigo por aqui: uma massa emocional errante, orbitando o caos afetivo, emanando charme intermitente e puxando (com moderação) corações desavisados para minha zona de instabilidade.

Afinal, como diria o comediante Nando Viana:

“Se olhar rapidão, eu sou bonito. Se demorar...eu falei que era pra olhar rapidão...”


terça-feira, novembro 04, 2025

💔 A Muleta Emocional e a Conveniência do Amor Proibido (Ou: A Escolha de Ser o Andaime)

 

Epígrafe: “Ser a muleta de alguém é pior do que estar quebrado — porque a dor não é sua, mas o peso, sim.”

O Amor-Protótipo e o Andaime Desnecessário

Há amores que nascem condenados. Não pela moral, pela geografia ou pelo timing errado, mas pela convenção e utilidade.

São esses amores-protótipo: você acha que está construindo algo, mas na verdade só está segurando o andaime de uma casa que nunca será sua.

Ela diz que o casamento acabou, que o carinho e a atenção secaram — mas continua lá. Você diz que entende — e entende mesmo, porque já virou especialista em racionalizar o irracional. Ela manda mensagens carinhosas, lembra do passado, flerta com o impossível e insiste: "tudo teria sido diferente e melhor se tivéssemos ficado juntos..."

Você, o bobo sensato, responde com a paciência de quem sabe que está jogando um jogo sem prêmio.

A Moeda da Carência

É curioso: quando a carência vira moeda de troca, o afeto se transforma em investimento de risco. Você continua aplicando — na esperança ingênua de que um dia o mercado emocional dela se estabilize.

Mas não vai.

Porque essa relação não é sobre amor, flerte ou destino. É sobre utilidade.

  • Ela precisa de alguém que a lembre de quem poderia ter sido, ou que supra o carinho que o parceiro atual não oferece.

  • Você precisa de alguém que o faça sentir-se necessário, importante e querido.

É uma simbiose disfarçada de destino. E, no fundo, você sabe que ela é alguém que, nos primeiros sinais de desgaste, procura outro para emendar a carência, e que você não gostaria de ter ao seu lado.

O Vazio Alheio e o Medo de Soltar

E claro, você tem medo de cortar de vez. Porque confunde apego com amizade, culpa com ternura, e o conforto do status quo com paz.

Mas uma amizade que exige sua anulação emocional, que o utiliza como muleta para um problema que não é seu, não é amizade. É manutenção de um vazio alheio.

No fim, todo mundo nessa história está tentando preencher um buraco — mas o dela é conjugal, e o seu é existencial. E nenhum dos dois será preenchido com mensagens trocadas de madrugada, ou com a promessa vazia de um "talvez".

Talvez o verdadeiro ato de amor — o único possível nessa equação — seja soltar.

O Cultivo Prático

O maior medo é a perda da amizade, mas a verdade é que a amizade saudável não exige que você seja um anexo emocional.

É hora de voltar a cuidar das próprias flores, da própria terra, do próprio jardim. O desapego das promessas e das idealizações é o primeiro passo para o trabalho real.

Como diria Cândido, depois de todas as catástrofes, decepções e filosofias vazias:

"Tudo isso está muito bem dito, mas vamos cultivar nosso jardim."

sexta-feira, outubro 31, 2025

🧠 Sapiosexual (ou: O Mito de Quem Acha que Escolhe se Apaixonar)

 Epígrafe: "A inteligência encanta. Mas é o afeto que permanece."

A Idealização Elegante

De uns tempos para cá, começou a pipocar um termo que soa chique, quase científico: sapiosexual.

A definição é simples — seria alguém que "só se apaixona por pessoas inteligentes". Bonito, não é? Quase dá para colocar no currículo, junto de "proativo" e "bom trabalho em equipe".

Mas será que essa paixão é realmente guiada por um teste de QI?

Talvez, no fundo, o discurso não seja tanto sobre o fascínio pela inteligência, mas sobre filtros emocionais disfarçados de erudição. O discurso "só me interesso por mentes brilhantes" muitas vezes soa mais como uma defesa do que como uma preferência:

  • "Ninguém me entende."

  • "Ninguém me acompanha."

  • Ou, na pior das hipóteses: "Ninguém me aguenta, então preciso de um critério elevado para justificar minha seletividade."

O Caos Biológico

A verdade, inconveniente e caótica, é que ninguém escolhe se apaixonar.

A gente tenta racionalizar o que é pura desordem bioquímica, um vendaval de hormônios e histórias que decide se instalar sem pedir licença. E mesmo quem jura que só se apaixona por mentes geniais, cedo ou tarde descobre que até o cérebro mais brilhante do mundo pode ser um desastre afetivo e um péssimo companheiro para montar móveis.

Eu entendo — também gosto de boas conversas, de gente que me instiga e me tira da zona de conforto. Mas amor não é uma tese de doutorado.

É uma colisão de histórias, manias, cheiros, risadas fora de hora e silêncios que fazem sentido. É a aceitação mútua de que somos, todos, bagunçados.

E, sinceramente, se for para amar só quem cita Nietzsche ou debate física quântica, que seja ao menos alguém que saiba rir de si mesmo logo depois da citação.

O Verdadeiro Foco

Talvez o verdadeiro critério de atração sustentável seja outro. Não a inteligência crua, mas a inteligência emocional.

O verdadeiro "sapiosexual" talvez seja aquele que entende que inteligência sem empatia é apenas vaidade travestida de charme. Ela pode te atrair para a conversa, mas é a capacidade de afeto e de conexão humana que faz você ficar para o café da manhã.

Afinal, a inteligência encanta e abre portas. Mas é o afeto que permanece, que acolhe a bagunça e que transforma o caos em lar.

quinta-feira, outubro 30, 2025

💘 O Tratado do Amor Cortês (e Outras Idealizações que Chamamos de Amor)

Epígrafe: "A diferença entre o amor cortês e o moderno é que, hoje, idealizamos alguém com Wi-Fi."

O Tratado de Capelão e a Melancolia do Ideal

Comprei o Tractatus de Amore (Tratado do Amor Cortês), de André Capelão, por dois motivos simples.

Primeiro, porque ele foi escrito no século XII — e há algo fascinante em folhear um livro que já refletia, há quase mil anos, sobre algo que ainda não entendemos completamente: o amor. Segundo, porque foi impossível resistir à ironia de ter um livro sobre amor escrito por alguém que se chamava André. (Os sinais estão em toda parte, não é mesmo?)

O mais curioso é pensar que, mesmo depois de séculos, a essência das relações amorosas parece pouco ter mudado, apenas se modernizado.

O Amor na Distância e na Ausência

O amor cortês, segundo o autor, era um tipo de amor idealizado, quase místico — platônico no sentido mais literal da palavra. Era o amor que nascia da distância, que se alimentava da ausência, e que florescia na impossibilidade.

O cavaleiro amava a dama, mas não podia tocá-la. Amava como quem reza: de longe, com devoção e sofrimento.

Soa familiar?

Hoje, o cavaleiro virou seguidor, e a dama virou perfil. Trocamos os castelos por timelines, os trovadores por mensagens diretas (DMs) e os suspiros por notificações. Mas a estrutura mental continua a mesma: idealizamos pessoas que mal conhecemos, projetamos nelas o que gostaríamos de ver — e chamamos isso de amor.

Do Trovador ao Algoritmo

No século XII, o amor era um jogo de códigos e símbolos de nobreza. Hoje, é um jogo de matches e algoritmos. Mas em ambos os casos, a lógica é parecida: quanto mais inalcançável ou filtrada a pessoa, mais desejável e perfeita ela parece.

E talvez essa seja a parte mais perversa (ou poética) do amor humano: não amamos o outro real, amamos o que o outro desperta em nós.

A dama idealizada do amor cortês podia muito bem ser uma pessoa comum, com hábitos mundanos e pensamentos nada nobres — mas, na mente do cavaleiro, ela era o próprio ideal da virtude. Assim como hoje, aquele “amor de rede social” pode ser alguém que, fora do filtro, também tem mau humor, inseguranças e uma pia cheia de louça.

A Perversidade da Idealização

O Tractatus de Amore é quase um manual de etiqueta emocional: ensina como amar com nobreza, como sofrer com elegância e, principalmente, como manter o amor impossível vivo — porque, paradoxalmente, o impossível dura mais que o real.

E talvez, no fundo, continuemos praticando a mesma arte: a de desejar o que não podemos ter, só que com emojis.

Se André Capelão escrevesse hoje, talvez dissesse: “O amor é o encontro entre dois algoritmos que, por acaso, se seguiram.”

E nós, os modernos cavaleiros digitais, seguimos idealizando, projetando, escrevendo tratados disfarçados de mensagens, tentando entender o que os poetas do século XII já sabiam: que o amor é menos uma resposta e mais uma pergunta que atravessa os séculos — sempre com a mesma melancolia.



terça-feira, outubro 14, 2025

💻 Esse Post Não É Sobre Manutenção de Computadores

 "O barulho que te incomoda pode ser só o aviso de que algo parou de girar faz tempo.”

O Vilão Silencioso

Hoje acordei mais cedo e decidi abrir o computador para uma limpeza. Nada demais — só aquele ritual de tirar o pó, dar uma geral e fingir que sou técnico da NASA.

Mas no meio da faxina, percebi o verdadeiro vilão do ruído e do sobreaquecimento que me irritava há semanas: um dos coolers do watercooler simplesmente... não girava mais.

Estava travado. Parado. Só empurrando o ar com a força da boa vontade.

De 2017 até agora, ele esteve ali — firme, silencioso e cada vez mais ineficiente. E o mais curioso: o sistema ainda funcionava. Com calor, com barulho, com desempenho caindo... mas seguia funcionando. Até que um dia, o travamento seria inevitável.

Limpei, lubrifiquei, deixei rodar de novo — e, de repente, tudo ficou mais leve, mais silencioso, mais fluido.

A Metáfora da Placa-Mãe

E claro: esse post não é sobre manutenção de computadores. É sobre as relações (e talvez sobre você).

Quantas vezes a gente mantém "o sistema" rodando — um namoro, uma amizade, um emprego — mesmo com as peças travadas? Empurra a poeira pra debaixo da placa-mãe e diz "tá tudo bem", enquanto o calor emocional vai subindo até fritar os circuitos.

Um dos dois lados sempre percebe antes. Um nota que o cooler parou de girar. O outro finge que é só o barulho normal da vida. Até que vem o travamento — o término, o colapso, a temida tela azul dos sentimentos.

E quando chega a hora da manutenção, dói. Porque limpar é admitir que estava sujo. Lubrificar é aceitar que o tempo resseca até o que parecia eterno.

Mas, se você faz isso, o sistema respira. O ruído diminui. E a performance da vida volta — silenciosa, fluida, como se dissesse: "agora sim".

No fim das contas, não é sobre PCs, nem sobre corações partidos. É sobre não esperar a máquina travar para perceber que amor, amizade e paz mental também precisam de manutenção preventiva.

sexta-feira, setembro 26, 2025

💔 Comunicação (Nada) Não Violenta: Quando a Teoria Acaba no Grito

 📌 Epígrafe:

“Conversamos sobre não gritar. Gritando.”

No começo, era tudo Marshall Rosenberg.
Empatia, escuta ativa, girafas e chacais como metáforas de linguagem. Um casal que lia o mesmo livro, conversava sobre sentimentos e trocava mensagens com emojis conscientes.

Um ano depois, o relacionamento acabou… com uma comunicação que faria o autor chorar em posição fetal.

A ironia é cruel: teorizar a empatia é fácil; praticá-la no calor da mágoa, nem tanto. A distância entre “escuta ativa” e “eu já não aguento mais” é bem menor do que os manuais de convivência sugerem.

No fim, as palavras perderam o peso da teoria e ganharam o peso do cansaço. O diálogo virou ruído, e a escuta virou silêncio. A comunicação não violenta “evoluiu” para a ausência de comunicação — e, talvez, esse tenha sido o melhor caminho.

📝 Nota do autor: até hoje encontro a pessoa e, no máximo, rola um “bom dia”… às vezes nem isso. A comunicação não violenta acabou se transformando em não comunicação — e talvez essa tenha sido, ironicamente, a forma mais pacífica de seguir.

Porque há momentos em que não falar já é a forma mais honesta de falar.
E às vezes, a empatia que sobra é apenas a de reconhecer que não dá mais.


sábado, setembro 20, 2025

🦙☕ Post Extra — A Lhama e o Menino-Café

 
📌 Epígrafe:

“Algumas pessoas são como lhamas: você dá o pasto, o abrigo, o carinho... e elas retribuem cuspindo na sua cara.”

As lhamas (Lama glama) são animais domesticados típicos da região andina. Serviram por séculos como animais de carga, fonte de lã e até companhia. São dóceis na maior parte do tempo, inteligentes, sociais. Mas guardam um detalhe nada poético: quando contrariadas, frustradas ou apenas de mau humor, podem cuspir. Não um cuspe qualquer — mas uma mistura de saliva e restos do estômago. Um lembrete ácido de que, apesar da domesticação, ainda carregam o instinto selvagem.

Dizem os especialistas que não é pessoal. A lhama não te odeia. Ela só cuspiu porque quis. Porque algo a incomodou. Porque… simplesmente porque sim.

E então percebi: a vida — e os relacionamentos — se parecem muito com lhamas. Você pode passar anos cuidando, oferecendo abrigo, carinho, sombra, silêncio, acreditando que o vínculo é sólido. Pode decorar manias, ritmos, preferências. Mas um dia, sem aviso, a lhama cospe. E, se deixar, vai embora sem olhar pra trás.

Alguns chamariam isso de instinto animal. Eu prefiro chamar de retrato cru do afeto humano: depois de tanto cuidado, há quem só te deixe a lembrança amarga de uma cusparada.

📜 Nota do autor:
O texto acima foi encontrado anos depois, amassado numa caixa esquecida. No rodapé, uma assinatura quase irônica, como um bilhete para ninguém:

Ass.: Menino-café.

domingo, setembro 07, 2025

🍊 A Metade da Laranja e Outras Metáforas Que Azedam

 Existe mesmo “a pessoa certa”?

A cara-metade, a alma gêmea, a tampa da panela (ou da frigideira esquecida no fundo do armário)?
Crescemos cercados dessas metáforas como se o amor fosse um quebra-cabeça, e cada um estivesse condenado a procurar pela peça que falta.

Mas talvez o amor seja menos sobre encaixe perfeito e mais sobre dois absurdos tentando funcionar juntos. Porque, sejamos honestos: ninguém é tão redondo assim. Somos todos cheios de rachaduras, arestas, manias. O que chamam de “compatibilidade” pode ser, no fundo, só uma boa negociação entre as nossas loucuras.

A ideia da metade da laranja soa romântica, mas também carrega uma armadilha: a de acreditar que somos incompletos sozinhos. E não somos. Pelo contrário: só quando aprendemos a ser inteiros é que conseguimos realmente dividir algo com alguém. Metade + metade não dá um inteiro. Dá duas metades carentes tentando se completar em vão.

O problema é que a cultura nos treina a esperar esse encaixe mágico. Filmes, músicas, novelas, apps de namoro — todos vendem a fantasia de que “lá fora” existe alguém feito sob medida para nós. Quando, na prática, o que existe são encontros improváveis entre pessoas reais, cheias de falhas e histórias inacabadas.

No fim, talvez a questão não seja achar a tampa perfeita para a panela, mas aprender a cozinhar com o que se tem — às vezes até queimando a borda, mas rindo junto no processo.

E é nesse ponto que a metáfora azeda dá lugar a algo mais honesto: o amor como parceria, não como salvação. O encontro de dois inteiros que sabem caminhar sozinhos, mas escolhem — e isso é essencial — caminhar juntos.

Epígrafe
“Amar não é completar-se. É transbordar ao lado de quem também já aprendeu a ser inteiro.”


sábado, agosto 30, 2025

📌 Post Extra — Manual de como não se apaixonar

 Passo 1: não olhe nos olhos. Os olhos são perigosos — eles revelam mais do que deveriam, e às vezes entregam aquele brilho que você jura que nunca mais veria.

Passo 2: mantenha distância segura. Nada de cafés, encontros casuais ou conversas até tarde. São justamente nesses momentos que o coração, esse traidor profissional, resolve agir.

Passo 3: nunca ria junto. O riso compartilhado é o atalho mais rápido para a queda livre. E depois que você cai, não tem manual que dê jeito.

Passo 4: fuja dos detalhes. Não repare no jeito que a pessoa mexe no cabelo, nem no modo como pronuncia uma palavra estranha, ou como lembra de coisas que você achava que ninguém mais notava. É nesse descuido que mora o perigo.

Passo 5: lembre-se de que você tem controle absoluto sobre seus sentimentos. (Mentira. Mas acreditar nisso ajuda a dormir à noite.)

E, por fim, o passo mais importante: não se iluda. Porque, no fundo, todo manual de como não se apaixonar é apenas um roteiro falho para adiar o inevitável. A verdade é simples: a gente precisa se apaixonar, tropeçar, quebrar a cara e, ainda assim, querer de novo. É assim que se vive — mal escrito, sem manual, mas intensamente humano.

Epígrafe:
"Não existe manual para o coração: ele rasga as instruções antes mesmo de começar."

segunda-feira, agosto 25, 2025

📌 Post Extra — A Garotinha Ruiva e a Paty Pimentinha

 O amor ideal sempre parece morar longe. A gente inventa um rosto, projeta uma vida, constrói uma fantasia perfeita. É a garotinha ruiva do Charlie Brown: sempre no horizonte, sempre brilhando, mas nunca perto o suficiente para ser alcançada.

E, nesse processo, esquecemos de notar as Patys Pimentinhas que cruzam o nosso caminho. Elas não são idealizadas: reclamam, brigam, riem alto, cutucam a ferida… mas também estão ali quando você mais precisa. De um jeito torto e verdadeiro, são presença constante.

Charlie Brown sonhava com a ruiva. Mas era a Paty quem dividia o recreio, a bronca, a amizade, a mão estendida. Quantas vezes na vida não fazemos igual? Quantas vezes não corremos atrás da promessa inalcançável enquanto ignoramos a ternura que já existe ao nosso lado?

Talvez o grande segredo seja aceitar que o amor não precisa ter cara de comercial de TV. Ele pode ser feito de piadas ruins, de silêncios que não incomodam, de cumplicidade inesperada. Pode ser bagunçado, contraditório, meio implicante. Mas, ainda assim, ser amor — talvez até mais real do que qualquer idealização.

E no fundo, acho que o Charlie Brown sempre soube disso. Mesmo que continuasse olhando para longe, era na risada da Paty que ele encontrava o chão.

💭 Porque amar não é encontrar a perfeição. É perceber que o coração escolhe, às vezes sem pedir licença, justamente aquela pessoa que a gente nunca imaginou — mas que, de repente, parece caber em todas as frestas da vida.


Epígrafe
“Você pegou na minha mão, Minduim! Seu capeta!” 🧡

🧠 Reflexo Filosófico — Amor líquido, vínculos descartáveis (Bauman e a ansiedade do afeto)

 "O amor líquido escorre por entre os dedos."

Zygmunt Bauman

Você jura que está conectado. Troca emojis. Envia reels. Faz planos para o fim de semana. Mas basta uma vírgula mal interpretada e… sumiu.
Era amor? Ou era só conexão instável?

Bauman descreveu com precisão cirúrgica o cenário afetivo da modernidade líquida — uma época em que os vínculos são frágeis, provisórios, desprovidos de raiz. Ninguém mais se afunda com alguém. Apenas flutua junto, até a corrente mudar.

Amar, hoje, é navegar no Tinder com o dedo nervoso, encontrar alguém, se encantar, se assustar, desaparecer, reaparecer... E repetir o processo com outra bio. A velocidade da vida digital exige que tudo seja fácil, rápido, adaptável. Até os sentimentos.

O problema? Intimidade não tem atalho. E vínculos reais não cabem em notificações push.

Bauman não era moralista. Ele só mostrava como, ao fugir do desconforto da profundidade, acabamos presos numa superfície interminável — onde amar vira um risco que ninguém quer correr, mas todo mundo sonha secretamente viver.

No fim, o amor líquido não é falta de amor. É excesso de medo.

sexta-feira, agosto 22, 2025

Schopenhauer, o Amor e a Gaiola Invisível

 
Arthur Schopenhauer, o filósofo do pessimismo, provavelmente não teria um perfil no Tinder. Mas se tivesse, sua bio seria algo como:

A vida oscila entre a dor e o tédio. Swipe por sua conta e risco.”

Para ele, o amor não era uma poesia bonita nem uma escolha racional. Era, na verdade, um truque da natureza — uma armadilha biológica para nos fazer acreditar que estamos buscando felicidade, quando na verdade estamos apenas servindo ao instinto da espécie.

O desejo seria, assim, uma gaiola invisível.
Você entra achando que é liberdade, mas logo percebe as barras: ciúme, frustração, promessas quebradas, ilusões que se repetem.
Cada "match" é menos sobre você e mais sobre a vontade cega da vida (a famosa Vontade, em Schopenhauer) querendo continuar existindo.

E é aí que o filósofo dá aquele tapa filosófico:
👉 O amor romântico é só a ilusão de que “dessa vez vai”.
Na prática, é um empurrão para a reprodução, pintado com frases bonitas e playlists no Spotify.

Mas calma — Schopenhauer não era apenas destruidor de corações. Ao enxergar o amor como ilusão, ele também nos lembrava de algo libertador: talvez não seja culpa sua se dói tanto. Talvez a dor de amar e desamar seja só o preço de estar vivo num corpo que insiste em desejar.

No fim, podemos até rir: se o filósofo tivesse visto a dinâmica do Tinder, talvez apenas confirmasse sua tese — não importa quantos swipes você dê, a gaiola sempre está lá. Só muda a cor da grade.

🎧 O Eremitismo Mental Produtivo (A Arte de Ligar o Botão Fd-$)

  Epígrafe: "O mundo é como uma notificação irritante: você precisa silenciá-lo para conseguir ler o que está escrito dentro de si....