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Tentando tapar os buracos na minha cabeça...
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quarta-feira, novembro 05, 2025

💌 O Primeiro Amor (Aquele que Não Quis Dizer Adeus)

 
Epígrafe: "Alguns amores não precisam durar; precisam apenas acontecer."

A Inocência da Descoberta

O primeiro amor nem sempre é o primeiro que beijamos ou o primeiro que nos escreve. Às vezes, é só o primeiro que faz sentido. Aquele que chega na hora errada, mas deixa lembranças tão boas, tão vivas, que você perdoa o tempo.

A memória não é uma fotografia, é um museu de pequenos detalhes sensoriais.

Lembro das cartinhas que ela me escrevia, todas com letras inclinadas e uma caligrafia juvenil, carregando um perfume que parecia ficar preso nas dobras do papel. Era o cheiro da descoberta.

Lembro das sardas, da luz que se acendia nos olhos curiosos e claros e do sorriso fácil, sempre o mesmo, sempre pronto. Lembro da alegria dela quando me via — e de como isso, por si só, bastava para tornar qualquer coisa suportável.

A Intensidade Breve

Durou pouco, é verdade. Mas foi intenso. O tipo de intensidade que não se repete na vida adulta, que não quer durar para sempre — só quer acontecer, deixando uma marca que você consulta com carinho anos depois.

E aconteceu.

Com direito a um beijo demorado, intenso, que continha todas as promessas que a gente não sabia fazer. Lembro exatamente da trilha sonora daquele instante, com a melancolia agridoce do The Cranberries ecoando ao fundo. Foi a trilha sonora perfeita para um final que, na verdade, era só um recomeço.

O Vínculo que Sobrevive

O tempo passou, o mundo girou, e a vida — como sempre faz — nos levou para lados diferentes, exigindo foco em caminhos individuais.

Hoje ela é minha amiga. Quase digital, dessas que a gente encontra mais pelas palavras trocadas em chats do que pelos encontros físicos. Mas é uma amiga de verdade. Daquelas por quem eu torço, mesmo de longe, por cada vitória e cada passo.

E sei que, de algum jeito, o carinho é recíproco.

É bom ter esse tipo de sentimento guardado. Não para reviver o passado — mas para lembrar que, um dia, fomos capazes de tamanha beleza e leveza.

A vida adulta é cheia de complexidades, mas o registro daquela intensidade está seguro.

E a melhor parte de compartilhar essa memória?

É que ela está lendo isso agora.

domingo, novembro 02, 2025

🌹 Gone Away (Reflexões para o Dia de Finados)

Epígrafe: “Talvez em outra vida…” — The Offspring, Gone Away

A Tempestade nos Fones de Ouvido

Há músicas que não são apenas músicas. São pequenas tempestades que atravessam o tempo, os fones de ouvido e, de algum jeito, encontram o caminho direto até o peito. Gone Away, do The Offspring, é uma dessas.

Não é só sobre perda — é sobre o vazio que fica entre o que poderíamos ter dito e o que não dá mais tempo de dizer. É a tentativa frustrada de negociar com o destino, mesmo sabendo que ele não faz trocas.

Eu sempre fui impactado por mortes, mesmo de pessoas que nunca conheci. É natural, e faz parte da humanidade que ainda insiste em habitar em mim. Mas quando a perda é próxima, quando o nome ecoa dentro da gente como um som que não se apaga… aí o luto ganha outro peso. É difícil definir ou expressar a profundidade da dor.

O Vazio Físico e o Arrepio Universal

E talvez por isso Gone Away me acerte tanto. Desde o primeiro verso — Maybe in another life…” — já se estabelece o tom: não é negação, é uma súplica desesperada. É o cérebro tentando dar forma àquilo que o coração se recusa a aceitar.

Depois vem o refrão, e o mundo realmente parece mais frio e distante:

"Now that you’ve gone away…”

Essa linha é quase física. Sinto um arrepio toda vez que ela chega — e curiosamente, descobri que não sou o único. A frequência, a nota, ou seja lá o que for, toca um nervo universal da saudade. Vi a análise dessa youtuber e percebi que ela sentiu o mesmo arrepio na mesma parte, quase como se fosse uma assinatura musical da melancolia.

A canção segue, e o pedido fica mais intenso, mais inegociável, mais humano:

"Black roses and Hail Mary / Can't bring back what's taken from me..."

O clímax do sentimento, para mim, está na aceitação da impotência e na persistência da busca:

"I reach to the sky / And call out your name / And if I could trade I would..."

Talvez seja isso que a gente faz em silêncio, mesmo sem perceber: segue chamando, segue alcançando o céu com a lembrança, mesmo que não venha resposta.

A Certeza que Permanece

Hoje é Dia de Finados. E ao invés de vestir o luto pesado, prefiro ouvir essa música e pensar que, talvez, exista um canto do universo onde os que amamos ainda dançam — sem dor, sem relógio, sem distância.

Até lá, seguimos. Com a lembrança, com a música, com o arrepio — e com a certeza de que sentir essa dor é o que, ironicamente, ainda nos mantém vivos e conectados àqueles que se foram.

🎧 O Eremitismo Mental Produtivo (A Arte de Ligar o Botão Fd-$)

  Epígrafe: "O mundo é como uma notificação irritante: você precisa silenciá-lo para conseguir ler o que está escrito dentro de si....