
Epígrafe: "Alguns amores não precisam durar; precisam apenas acontecer."
A Inocência da Descoberta
O primeiro amor nem sempre é o primeiro que beijamos ou o primeiro que nos escreve. Às vezes, é só o primeiro que faz sentido. Aquele que chega na hora errada, mas deixa lembranças tão boas, tão vivas, que você perdoa o tempo.
A memória não é uma fotografia, é um museu de pequenos detalhes sensoriais.
Lembro das cartinhas que ela me escrevia, todas com letras inclinadas e uma caligrafia juvenil, carregando um perfume que parecia ficar preso nas dobras do papel. Era o cheiro da descoberta.
Lembro das sardas, da luz que se acendia nos olhos curiosos e claros e do sorriso fácil, sempre o mesmo, sempre pronto. Lembro da alegria dela quando me via — e de como isso, por si só, bastava para tornar qualquer coisa suportável.
A Intensidade Breve
Durou pouco, é verdade. Mas foi intenso. O tipo de intensidade que não se repete na vida adulta, que não quer durar para sempre — só quer acontecer, deixando uma marca que você consulta com carinho anos depois.
E aconteceu.
Com direito a um beijo demorado, intenso, que continha todas as promessas que a gente não sabia fazer. Lembro exatamente da trilha sonora daquele instante, com a melancolia agridoce do The Cranberries ecoando ao fundo. Foi a trilha sonora perfeita para um final que, na verdade, era só um recomeço.
O Vínculo que Sobrevive
O tempo passou, o mundo girou, e a vida — como sempre faz — nos levou para lados diferentes, exigindo foco em caminhos individuais.
Hoje ela é minha amiga. Quase digital, dessas que a gente encontra mais pelas palavras trocadas em chats do que pelos encontros físicos. Mas é uma amiga de verdade. Daquelas por quem eu torço, mesmo de longe, por cada vitória e cada passo.
E sei que, de algum jeito, o carinho é recíproco.
É bom ter esse tipo de sentimento guardado. Não para reviver o passado — mas para lembrar que, um dia, fomos capazes de tamanha beleza e leveza.
A vida adulta é cheia de complexidades, mas o registro daquela intensidade está seguro.
E a melhor parte de compartilhar essa memória?
É que ela está lendo isso agora.
