Epígrafe: "A vida é um pêndulo que oscila entre a dor e o tédio." — Arthur Schopenhauer
O Profeta do Pessimismo e a Vontade Cega
Em um mundo que insiste em vender a felicidade como um estado de espírito atingível, Arthur Schopenhauer surge como o filósofo que te manda de volta para a cama. Para ele, a existência humana é regida pela Vontade — um impulso cego, irracional e insaciável que nos força a querer, sem propósito.
E é essa Vontade que nos condena ao Pêndulo Existencial. Nossa vida inteira é passada em um movimento incessante entre dois estados de sofrimento:
1. O Lado da Dor: A Vontade Insatisfeita
A dor não é apenas física; é a dor do desejo não cumprido.
Todo querer é, por definição, uma falta. Querer passar no concurso da SEFAZ SP; querer pagar uma dívida; querer o amor de alguém. Enquanto a Vontade aponta para um alvo que você não tem, você vive sob a tensão da Luta.
Este é o lado ativo do pêndulo. É onde há propósito. É onde você se sente vivo, pois está ativamente sofrendo pela sua não-conquista. A dor, neste caso, é o motor: a gasolina do sofrimento.
2. O Lado do Tédio: A Vontade Satisfeita
Eis a tragédia suprema: quando você finalmente alcança o que a Vontade exigia, o sofrimento cessa... e você cai no Tédio.
O Tédio é a morte lenta da alma. É o momento em que a Vontade, momentaneamente saciada, não tem um novo alvo imediato.
É o dia seguinte à posse no concurso; é a segunda-feira após a tão sonhada viagem; é o vazio após a conquista. O Tédio, para Schopenhauer, é a prova de que a vida não tem sentido intrínseco. Quando paramos de lutar, percebemos que não tínhamos para onde ir, e a falta de propósito é um sofrimento ainda mais aterrador que a luta.
O Humor Ácido da Auto-Sabotagem
Se a vida é essa dança inevitável entre a dor da falta e o tédio da saciedade, o que nós, humanos modernos, fazemos para nos mantermos sãos?
Nós nos tornamos mestres em inventar sofrimento para evitar o vácuo do tédio:
Gerar Nova Dor: Assumir novas dívidas, começar um novo projeto complexo, entrar em um relacionamento impossível. Precisamos do próximo grande obstáculo para evitar o perigo de ficarmos quietos.
O Drama Desnecessário: O tédio existencial é tão grande que procuramos o conflito alheio (o drama nas redes sociais, as fofocas corporativas). É a Vontade buscando um alvo, qualquer alvo, para fingir que está em batalha.
O Tédio Enlatado: Consumimos entretenimento incessante (séries, redes sociais) para preencher a lacuna da Vontade satisfeita. É uma negação desesperada do vazio, um esforço constante para manter o pêndulo em movimento, mesmo que artificialmente.
A sabedoria dark de Schopenhauer não reside em quebrar o pêndulo, mas em entender sua mecânica. A felicidade, se é que existe, é um mero e fugaz ponto morto entre o desespero de querer algo e o desespero de não ter mais nada para querer.
