O Cansaço e a Sinceridade do Espelho
O ruim é que, com o tempo, o mundo te machuca demais. E isso mexe com tudo: com o ânimo, com as esperanças, com a própria imagem.
Um dia, você acorda e percebe que já não é mais o mesmo — e não apenas no sentido poético. As olheiras estão mais fundas, a paciência mais curta, e os sonhos… bom, esses estão com prazo de validade vencido, mas a gente continua consumindo mesmo assim.
E é aí que vem o golpe final, a percepção que a gente tenta evitar: quando você se olha no espelho e pensa — “só alguém tão ferrado quanto eu vai me querer.”
E talvez esteja certo. Mas o que ninguém te conta é que é exatamente essa honestidade que salva a humanidade.
Porque quando dois machucados se encontram, a dor ameniza.
É como se o filtro do Instagram finalmente funcionasse na vida real: a maquiagem cai, o bom ângulo some, e a gente pode relaxar na bagunça. Um entende o silêncio do outro, o tempo de recuperação, o medo súbito de se abrir.
Eles sabem que o mundo é um lugar hostil e, ainda assim, escolhem dividir um café, uma piada que só eles entendem, e um pedaço do cansaço.
O amor dos quebrados não é sobre perfeição. É sobre paciência. É sobre olhar para alguém e ver beleza apesar do caos — ou, talvez, por causa dele.
Enquanto os "inteiros" (aqueles que fingem sê-lo) discutem o match perfeito, os trincados estão só tentando sobreviver à terça-feira.
Talvez seja isso que mantenha o mundo girando: essas pequenas alianças entre sobreviventes emocionais que descobriram que o amor não é o contrário da dor.
Ele é o seu disfarce mais bonito. É o único lugar onde a gente pode assumir as rachaduras sem medo de que o outro comece a correr.

