Declus

Tentando tapar os buracos na minha cabeça...

sábado, setembro 20, 2025

🦙☕ Post Extra — A Lhama e o Menino-Café

 
📌 Epígrafe:

“Algumas pessoas são como lhamas: você dá o pasto, o abrigo, o carinho... e elas retribuem cuspindo na sua cara.”

As lhamas (Lama glama) são animais domesticados típicos da região andina. Serviram por séculos como animais de carga, fonte de lã e até companhia. São dóceis na maior parte do tempo, inteligentes, sociais. Mas guardam um detalhe nada poético: quando contrariadas, frustradas ou apenas de mau humor, podem cuspir. Não um cuspe qualquer — mas uma mistura de saliva e restos do estômago. Um lembrete ácido de que, apesar da domesticação, ainda carregam o instinto selvagem.

Dizem os especialistas que não é pessoal. A lhama não te odeia. Ela só cuspiu porque quis. Porque algo a incomodou. Porque… simplesmente porque sim.

E então percebi: a vida — e os relacionamentos — se parecem muito com lhamas. Você pode passar anos cuidando, oferecendo abrigo, carinho, sombra, silêncio, acreditando que o vínculo é sólido. Pode decorar manias, ritmos, preferências. Mas um dia, sem aviso, a lhama cospe. E, se deixar, vai embora sem olhar pra trás.

Alguns chamariam isso de instinto animal. Eu prefiro chamar de retrato cru do afeto humano: depois de tanto cuidado, há quem só te deixe a lembrança amarga de uma cusparada.

📜 Nota do autor:
O texto acima foi encontrado anos depois, amassado numa caixa esquecida. No rodapé, uma assinatura quase irônica, como um bilhete para ninguém:

Ass.: Menino-café.

🏃‍♂️ Post Extra — O Quarto Lugar

 
📌 Epígrafe

“Nem sempre é sobre subir no pódio. Às vezes, é sobre não desistir da corrida.”


Toda vez que assisto a uma competição que termina em pódio, minha atenção vai direto para o quarto lugar. Talvez seja o coração de concurseiro falando: sempre buscando a vaga, sempre tentando ficar entre os que “entram”.

Mas pensa comigo: esse atleta treinou tanto quanto os medalhistas, deu o mesmo suor, suportou as mesmas dores, enfrentou as mesmas renúncias. E, no final, ficou a centímetros — ou segundos — de ser lembrado.

É duro. A maioria dos esportes só celebra os três primeiros. Do quarto em diante, a narrativa vira silêncio. E esse silêncio dói.

Ainda assim, gosto de imaginar que, para alguns desses “quartos colocados”, o resultado seja motivo de orgulho. Que, mesmo com tudo contra, eles pensem: “Nossa, cheguei até aqui.” Porque, no fim das contas, a linha de chegada não conta apenas a posição: ela conta também a história de cada um que correu.

E não é isso a vida? Nem sempre conseguimos a vaga, o troféu, a medalha. Às vezes ficamos ali, no quase. E isso pode ser devastador… ou pode ser combustível. Depende de como escolhemos olhar.

Este texto é para você que já falhou, mas ainda pensa em tentar de novo. Para você que desistiu, mas sente a chama voltando. Para você que está cansado, mas ainda carrega no peito a lembrança de por que começou.

✨ A vida é feita de eternas tentativas. Não se mede só pelo ouro, prata ou bronze. Se mede também por cada recomeço, cada insistência, cada chegada — mesmo que seja em quarto lugar.

📌 Pensamento Final
As corridas de rua entenderam bem isso: no pódio só sobem três, mas todos que cruzam a linha recebem uma medalha. Não é pelo “o importante é participar”. É pelo “nós reconhecemos o quanto você lutou para chegar até aqui — e isso também merece ser celebrado”.

Então siga. Continue lutando.
O quarto lugar também é vitória.

🌳O Sussurro das Árvores e a Internet Subterrânea da Floresta

 
Elas não falam. Não gesticulam. Não mandam e-mail.

Mas as árvores conversam.

Por baixo da terra, longe dos olhos apressados, existe uma rede subterrânea de fungos que conecta raízes e compartilha vida. É a chamada rede micelial — um sistema de comunicação e troca de nutrientes tão sofisticado que já ganhou o apelido de “internet da floresta”.

Uma árvore doente pode receber ajuda de suas vizinhas. Uma árvore ameaçada por pragas pode “avisar” as outras para se prepararem. A floresta, quando vista por dentro, funciona menos como um conjunto de indivíduos e mais como uma comunidade silenciosa, onde a sobrevivência depende de escuta e cooperação.

O livro A Vida Secreta das Árvores mostra que há ali um tipo de sociedade que não se sustenta pela competição, mas pela interdependência. O mais forte não é o que cresce mais alto, mas o que se conecta melhor por baixo da terra.

E talvez seja isso que tenhamos esquecido como humanos: que a verdadeira força não está em quem grita mais alto, mas em quem sabe ouvir os sinais sutis do outro.

As árvores sussurram, e nós raramente prestamos atenção. Mas, se aprendêssemos com elas, talvez descobríssemos que a vida é menos sobre vencer sozinho e mais sobre sustentar — e ser sustentado — em silêncio.

📌 Epígrafe:
“As árvores não gritam. Mas conversam — e cuidam. Em silêncio.”

sexta-feira, setembro 19, 2025

☕ Três Goles de Café — O que é entalpia?

 ☕ Primeiro gole:

Entalpia é um jeito chique de dizer “energia contida em um sistema”, especialmente quando há calor envolvido. É a régua que mede quanto de energia entra e sai num processo.

Segundo gole:
Na prática, aparece quando a química esquenta ou esfria: uma reação que libera calor (exotérmica) ou suga calor (endotérmica) está mexendo com entalpia. Pense numa fogueira ou num sorvete derretendo — a energia não some, só muda de bolso.

Terceiro gole:
Na vida, também lidamos com entalpias invisíveis: relações que aquecem, outras que drenam energia. O problema é que, diferente da química, não dá pra usar uma fórmula exata. Só o velho termômetro da experiência.

📜 Epígrafe:
“Somos todos sistemas abertos, trocando calor com o mundo.”

Post Extra — Armas e Verdades

 

Epígrafe:
"Nem toda ideia precisa virar bandeira. Nem toda frase precisa ser guerra."

Vivemos numa era em que a necessidade de ter opinião sobre tudo virou quase um mandamento. Não importa se você leu a pesquisa inteira ou só o título, se tem experiência prática ou apenas “ouviu falar”: o importante parece ser escolher um lado e defendê-lo como se fosse uma batalha decisiva.

O problema é que, nesse campo de guerra simbólico, as espadas raramente cortam o “inimigo” — acabam nos ferindo uns aos outros. Discutimos sem ouvir, atacamos sem refletir, defendemos sem pensar. O resultado? Ruído, desgaste, egos inflados e uma falsa sensação de vitória em debates que, na prática, não levam a lugar algum.

Talvez a raiz esteja em confundir opinião com verdade. Como se cada frase dita precisasse ser arma, estandarte ou sentença final. Mas não há espaço para diálogo quando todos acreditam já ter a resposta definitiva.

Conviver em harmonia não exige abrir mão do pensamento crítico, mas aprender a guardar nossas armas — e, principalmente, nossas “verdades”. Nem sempre é preciso disparar. Às vezes, basta ler, refletir, respirar… e seguir em frente.

Errata Ética:
Não é porque você tem uma opinião que ela precisa ser publicada, defendida ou transformada em bandeira. Às vezes, o silêncio é o maior ato de lucidez coletiva.


🌌 O Efeito Doppler e o Universo Que Vai Embora

 
As galáxias estão fugindo. Literalmente.

Quando olhamos para o espectro da luz que elas emitem, vemos um deslocamento para o vermelho — o famoso redshift. É o Efeito Doppler em escala cósmica: a mesma lógica que faz a sirene de uma ambulância soar diferente quando se afasta, mas agora aplicado ao universo inteiro.

Isso significa que o cosmos está em expansão. Cada estrela, cada aglomerado de galáxias, cada fiapo de poeira cósmica se afasta de nós em um ritmo cada vez mais acelerado. O espaço se estica como um elástico que nunca para de ceder.

E aí, olhando daqui, não dá pra evitar o pensamento:
“As galáxias estão se afastando da gente… sinceramente, eu também estaria, se conhecesse os humanos.”

Porque não é só no céu que isso acontece.
Na vida também há distâncias que aumentam: amizades que se esticam até romper, lugares que ficaram longe demais para voltar, anos que se acumulam como luz vermelha indo embora. O tempo tem seu próprio Doppler.

Mas talvez o verdadeiro mistério não esteja no que foge — e sim no que resiste. Naquele afeto que insiste em permanecer, na memória que se recusa a se perder, na pessoa que ainda fica ao seu lado mesmo quando tudo parece se afastar.

O universo pode expandir o quanto quiser.
Afinal, a gente aprende que a distância não mede tudo — porque há coisas que, mesmo longe, continuam incrivelmente próximas.

📌 Epígrafe:
“O universo se expande. Mas não mais rápido que certas ausências.”

quinta-feira, setembro 18, 2025

✍️ Post Extra — O travessão é da IA ou do vernáculo esquecido?

Epígrafe

“Às vezes, não é a IA que escreve como humano — é o humano que desaprendeu a escrever como humano.”

Dizem que dá pra saber quando um texto foi escrito por inteligência artificial. O grande indício? O uso do travessão no meio da frase. Pois é — parece que o travessão virou a nova "pegada digital" das máquinas.

Mas calma: o pobre travessão não nasceu nos laboratórios de IA. Ele está lá nas boas e velhas regras de pontuação da língua portuguesa, servindo pra indicar diálogo, intercalações e até interrupções dramáticas. Nós é que fomos largando ele de lado, substituindo por vírgulas, reticências e até aquele indefensável “hífen disfarçado”.

E não é só o travessão que denuncia. Outras marcas que hoje parecem "coisa de robô" são, na verdade, só ecos do vernáculo que a gente esqueceu:

  • O uso correto de dois-pontos (que deveriam abrir explicações, e não apenas listas de compras);

  • A vírgula antes do "mas", que parece frescura, mas está certa;

  • O ponto e vírgula, que já foi respeitado e hoje vive exilado;

  • O itálico, que substituímos por aspas porque o botão do Word era mais fácil.

No fim das contas, talvez não seja a IA que esteja escrevendo como humanos. Somos nós que, preguiçosos ou apressados, fomos deixando de lado ferramentas da própria língua.

Então, se de repente você ler um texto meu com muitos travessões, não se assuste. Pode ser IA, pode ser coincidência, ou pode ser apenas eu tentando redescobrir o vernáculo — palavra que, aliás, já basta sozinha pra desmascarar qualquer impostor.

PS — se você é do time “ponto final em todas as frases”, tudo bem. Eu só queria o direito de dramatizar uma vírgula de vez em quando.

PS2 (ou adendo tardio) — Pedi para a IA gerar uma versão mais curta do texto para postar, e tive que corrigir um erro de Português dela. Ou seja: ainda estou vivo. 🧠

🎧 O Eremitismo Mental Produtivo (A Arte de Ligar o Botão Fd-$)

  Epígrafe: "O mundo é como uma notificação irritante: você precisa silenciá-lo para conseguir ler o que está escrito dentro de si....