Declus

Tentando tapar os buracos na minha cabeça...

segunda-feira, agosto 25, 2025

📌 Post Extra — A Garotinha Ruiva e a Paty Pimentinha

 O amor ideal sempre parece morar longe. A gente inventa um rosto, projeta uma vida, constrói uma fantasia perfeita. É a garotinha ruiva do Charlie Brown: sempre no horizonte, sempre brilhando, mas nunca perto o suficiente para ser alcançada.

E, nesse processo, esquecemos de notar as Patys Pimentinhas que cruzam o nosso caminho. Elas não são idealizadas: reclamam, brigam, riem alto, cutucam a ferida… mas também estão ali quando você mais precisa. De um jeito torto e verdadeiro, são presença constante.

Charlie Brown sonhava com a ruiva. Mas era a Paty quem dividia o recreio, a bronca, a amizade, a mão estendida. Quantas vezes na vida não fazemos igual? Quantas vezes não corremos atrás da promessa inalcançável enquanto ignoramos a ternura que já existe ao nosso lado?

Talvez o grande segredo seja aceitar que o amor não precisa ter cara de comercial de TV. Ele pode ser feito de piadas ruins, de silêncios que não incomodam, de cumplicidade inesperada. Pode ser bagunçado, contraditório, meio implicante. Mas, ainda assim, ser amor — talvez até mais real do que qualquer idealização.

E no fundo, acho que o Charlie Brown sempre soube disso. Mesmo que continuasse olhando para longe, era na risada da Paty que ele encontrava o chão.

💭 Porque amar não é encontrar a perfeição. É perceber que o coração escolhe, às vezes sem pedir licença, justamente aquela pessoa que a gente nunca imaginou — mas que, de repente, parece caber em todas as frestas da vida.


Epígrafe
“Você pegou na minha mão, Minduim! Seu capeta!” 🧡

🧠 Reflexo Filosófico — Amor líquido, vínculos descartáveis (Bauman e a ansiedade do afeto)

 "O amor líquido escorre por entre os dedos."

Zygmunt Bauman

Você jura que está conectado. Troca emojis. Envia reels. Faz planos para o fim de semana. Mas basta uma vírgula mal interpretada e… sumiu.
Era amor? Ou era só conexão instável?

Bauman descreveu com precisão cirúrgica o cenário afetivo da modernidade líquida — uma época em que os vínculos são frágeis, provisórios, desprovidos de raiz. Ninguém mais se afunda com alguém. Apenas flutua junto, até a corrente mudar.

Amar, hoje, é navegar no Tinder com o dedo nervoso, encontrar alguém, se encantar, se assustar, desaparecer, reaparecer... E repetir o processo com outra bio. A velocidade da vida digital exige que tudo seja fácil, rápido, adaptável. Até os sentimentos.

O problema? Intimidade não tem atalho. E vínculos reais não cabem em notificações push.

Bauman não era moralista. Ele só mostrava como, ao fugir do desconforto da profundidade, acabamos presos numa superfície interminável — onde amar vira um risco que ninguém quer correr, mas todo mundo sonha secretamente viver.

No fim, o amor líquido não é falta de amor. É excesso de medo.

LinkedIn: o Olimpo do Networking Sem Alma

 
No Olimpo digital, Deus é CEO.

Anjos são gestores.
E o inferno tem uma placa de neon que pisca: “gratidão pela conexão 🙏”.

O LinkedIn é o templo onde o culto à produtividade encontra sua liturgia própria. Ali, os perfis são mais caprichados do que qualquer bio no Instagram: cada curso, cada certificação, cada workshop online vira medalha de guerra — e a timeline parece um mural de vitórias corporativas eternas.

Mas por trás do sorriso em fundo azul e da enxurrada de “cases de sucesso”, fica a pergunta incômoda: estamos realmente ali para trabalhar, ou para sermos vistos?

A lógica do LinkedIn é quase religiosa. A meritocracia é dogma, os certificados são relíquias, e os posts motivacionais funcionam como sermões: frases curtas, impactantes, muitas vezes ilustradas com uma imagem de alguém no topo de uma montanha. A mensagem subliminar é sempre a mesma: “se você não chegou lá, é porque não tentou o suficiente”.

Claro, existe valor em celebrar conquistas. Mas há também uma espécie de arqueologia do corporativês: camadas e camadas de palavras que soam importantes, mas dizem pouco. “Sinergia”, “resiliência”, “mindset exponencial”, “networking estratégico”… um idioma que, traduzido, poderia caber numa frase simples: “olha como eu sou útil, me contrata, me valida”.

A ironia é que, enquanto lá se busca emprego com afeto forçado, no Tinder talvez haja mais autenticidade: menos PowerPoint, mais pele. Já pensou se trocássemos os papéis? Procurar amor no LinkedIn e vaga no Tinder? Quem sabe desse certo: no mínimo, a sinceridade salvaria tempo.

No fim, o LinkedIn talvez seja isso mesmo: uma vitrine. Uma feira de talentos, inseguranças e ambições. Mas se todo Olimpo é também teatro, que ao menos aprendamos a rir do nosso papel nele. Afinal, até os deuses corporativos precisam descer para tomar café.

domingo, agosto 24, 2025

O TikTok Descobriu o Xamã que Mora em Você

 
O ser humano sempre buscou ritual. Desde pinturas rupestres até procissões religiosas, precisamos de símbolos, gestos e narrativas que deem forma ao invisível. A diferença é que, em 2025, o altar pode ser uma ring light e o templo, um feed infinito.

No TikTok, a espiritualidade virou espetáculo portátil: danças com cristais na mão, vídeos de astrologia em cortes rápidos, rituais de limpeza energética embalados em filtros neon e sinos tibetanos em câmera lenta. O sagrado foi editado em 15 segundos, com trilha sonora e hashtags.

A crítica óbvia seria dizer que isso é superficialidade — uma caricatura de tradições milenares. Mas talvez haja algo mais profundo acontecendo: um retorno ao ritual como performance pública. Não importa se é para invocar energia, atrair sorte ou simplesmente acumular likes; o gesto em si já cria sentido, ainda que efêmero.

É claro, a fronteira entre espiritualidade e entretenimento fica borrada. Estamos rezando, dançando ou só encenando? Talvez um pouco de tudo. Como diria Clifford Geertz, antropólogo das culturas, os rituais são maneiras de dizer ao mundo quem somos. No TikTok, dizemos isso com coreografias sincronizadas e frases de autoajuda embutidas em trend.

E aí surge a pergunta: estamos caminhando para uma “Idiocracy espiritual”, onde cada crença vira meme, ou para um espaço mais democrático, onde qualquer um pode brincar de xamã? Talvez ambas as coisas.

Seja como for, a busca continua. O palco mudou, os filtros mudaram, mas o instinto de ritualizar segue intacto. No fim, entre um signo explicado em 30 segundos e uma coreografia com palo santo, talvez só estejamos atualizando uma necessidade tão antiga quanto a fogueira: criar sentido juntos, mesmo que seja com dancinhas.

sábado, agosto 23, 2025

Camus e o Café Requentado da Rotina

 
Albert Camus dizia que o maior problema filosófico de todos é o suicídio. Em outras palavras: diante do absurdo da vida, por que insistimos em levantar da cama?

Talvez a resposta esteja no despertador das 6h, no ônibus lotado, no café requentado que já perdeu o aroma mas ainda aquece. É nesse cenário nada heroico que o absurdo se revela: vivemos uma rotina repetida, uma vida que parece não levar a lugar nenhum — e ainda assim seguimos.

Para Camus, o absurdo nasce justamente desse atrito: de um lado, nossa vontade infinita de sentido; do outro, um universo que insiste em ficar em silêncio. Não há manual, não há resposta final. Só o eco vazio das mesmas tarefas que recomeçam todo dia.

Mas — e aqui está a virada — o absurdo não é motivo para desistir. Pelo contrário, é o convite para viver apesar de tudo. É rir diante do café frio, é encontrar poesia no tédio, é desafiar o destino simplesmente levantando da cama e repetindo o ritual.

Se Sísifo empurrava a pedra montanha acima, nós empurramos planilhas, boletos e xícaras de café requentado. E, como dizia Camus, precisamos imaginar Sísifo feliz — porque o sorriso, mesmo pequeno, é a nossa forma de revolta.

No fim, talvez o café velho seja perfeito: não é delicioso, mas é suficiente para nos lembrar de que estamos vivos.

sexta-feira, agosto 22, 2025

☕ Três Goles de Café — O que é Amor Líquido?

 ☕ Primeiro gole: é um termo criado por Zygmunt Bauman para descrever relações modernas: intensas, mas frágeis.

☕ Segundo gole: na “modernidade líquida”, vínculos se desfazem com a mesma facilidade com que se formam. A fluidez vira superficialidade.

☕ Terceiro gole: não é só sobre romance — também vale para amizades, empregos, lugares. Nada parece durar porque tudo é fácil de substituir.

Epígrafe:
"No amor líquido, a conexão é rápida. O apego, nem tanto."

Schopenhauer, o Amor e a Gaiola Invisível

 
Arthur Schopenhauer, o filósofo do pessimismo, provavelmente não teria um perfil no Tinder. Mas se tivesse, sua bio seria algo como:

A vida oscila entre a dor e o tédio. Swipe por sua conta e risco.”

Para ele, o amor não era uma poesia bonita nem uma escolha racional. Era, na verdade, um truque da natureza — uma armadilha biológica para nos fazer acreditar que estamos buscando felicidade, quando na verdade estamos apenas servindo ao instinto da espécie.

O desejo seria, assim, uma gaiola invisível.
Você entra achando que é liberdade, mas logo percebe as barras: ciúme, frustração, promessas quebradas, ilusões que se repetem.
Cada "match" é menos sobre você e mais sobre a vontade cega da vida (a famosa Vontade, em Schopenhauer) querendo continuar existindo.

E é aí que o filósofo dá aquele tapa filosófico:
👉 O amor romântico é só a ilusão de que “dessa vez vai”.
Na prática, é um empurrão para a reprodução, pintado com frases bonitas e playlists no Spotify.

Mas calma — Schopenhauer não era apenas destruidor de corações. Ao enxergar o amor como ilusão, ele também nos lembrava de algo libertador: talvez não seja culpa sua se dói tanto. Talvez a dor de amar e desamar seja só o preço de estar vivo num corpo que insiste em desejar.

No fim, podemos até rir: se o filósofo tivesse visto a dinâmica do Tinder, talvez apenas confirmasse sua tese — não importa quantos swipes você dê, a gaiola sempre está lá. Só muda a cor da grade.

🏟️ A Política do Pão e Circo e Por Que Não Gosto de MMA

  Epígrafe: "O instinto nos força a treinar para a guerra, mas a evolução nos obriga a torcer pela paz." Do Roteiro ao Sangue Rea...