A cara-metade, a alma gêmea, a tampa da panela (ou da frigideira esquecida no fundo do armário)?
Crescemos cercados dessas metáforas como se o amor fosse um quebra-cabeça, e cada um estivesse condenado a procurar pela peça que falta.
Mas talvez o amor seja menos sobre encaixe perfeito e mais sobre dois absurdos tentando funcionar juntos. Porque, sejamos honestos: ninguém é tão redondo assim. Somos todos cheios de rachaduras, arestas, manias. O que chamam de “compatibilidade” pode ser, no fundo, só uma boa negociação entre as nossas loucuras.
A ideia da metade da laranja soa romântica, mas também carrega uma armadilha: a de acreditar que somos incompletos sozinhos. E não somos. Pelo contrário: só quando aprendemos a ser inteiros é que conseguimos realmente dividir algo com alguém. Metade + metade não dá um inteiro. Dá duas metades carentes tentando se completar em vão.
O problema é que a cultura nos treina a esperar esse encaixe mágico. Filmes, músicas, novelas, apps de namoro — todos vendem a fantasia de que “lá fora” existe alguém feito sob medida para nós. Quando, na prática, o que existe são encontros improváveis entre pessoas reais, cheias de falhas e histórias inacabadas.
No fim, talvez a questão não seja achar a tampa perfeita para a panela, mas aprender a cozinhar com o que se tem — às vezes até queimando a borda, mas rindo junto no processo.
E é nesse ponto que a metáfora azeda dá lugar a algo mais honesto: o amor como parceria, não como salvação. O encontro de dois inteiros que sabem caminhar sozinhos, mas escolhem — e isso é essencial — caminhar juntos.
✨ Epígrafe
“Amar não é completar-se. É transbordar ao lado de quem também já aprendeu a ser inteiro.”
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