Declus

Tentando tapar os buracos na minha cabeça...

quarta-feira, setembro 17, 2025

🌌 Entropia: A Bagunça é Natural (Mas Tá Acelerada)

 

A entropia é destino certo.
Do universo à sua gaveta de meias, tudo caminha, cedo ou tarde, para a desordem.

Na física, ela mede os estados possíveis de um sistema: quantas maneiras diferentes as coisas podem se embaralhar. Na vida, mede a quantidade de notificações que você ignora, o sono atrasado, as abas abertas no navegador e a sensação de que a cabeça já virou depósito de caixa de papelão.

Vivemos num mundo em que a informação cresce numa velocidade que nosso cérebro não acompanha. O resultado? F.O.M.O. (fear of missing out), ansiedade digital e aquela bagunça interna que parece novidade, mas o cosmos já previa desde o Big Bang.

E talvez seja isso o mais libertador: perceber que o caos não é exceção, mas regra. Que a gaveta desarrumada, os planos que não saem do papel e a vida que insiste em escapar da agenda não são falhas — são termodinâmica pura.

No fim, resistir à entropia é como etiquetar um armário que já explodiu por dentro. Mas, ainda assim, vale a tentativa. Porque talvez a beleza não esteja em vencer a bagunça, mas em dançar com ela.

📌 Epígrafe:
"A bagunça não é falha do sistema. É o sistema funcionando como deveria."
— Termodinâmica, provavelmente

terça-feira, setembro 16, 2025

📐 Post Extra — Bhaskara, a Vingança

Epígrafe:
"A vida adulta é a prova de que todo professor de matemática estava certo."


“Disseram que eu nunca ia usar a fórmula de Bhaskara.”
Pois bem… hoje, estudando Taxa Interna de Retorno, lá estava ela.
Sim, a velha conhecida da escola, o terror dos adolescentes, agora me ajudando a calcular investimentos como quem não quer nada.

E aí percebi: quase toda matemática escolar volta para nos assombrar na vida adulta.

👉 A regra de 3 reaparece em cada concurso, desconto ou receita de bolo.
👉 Os logaritmos que jurávamos ter enterrado ressurgem nos juros compostos e até no pH da água.
👉 PA e PG estão escondidas nos parcelamentos de loja e nas projeções da aposentadoria.
👉 Estatística? Basta abrir qualquer planilha de trabalho, relatório de desempenho ou pesquisa eleitoral.

O meme do “quando vou usar isso?” tem uma resposta cruelmente simples:
➡️ em algum momento, quando você menos esperar, e provavelmente com um carnê ou edital na mão.

Moral da história: se a vida é uma equação complicada, estudar Bhaskara talvez não resolva tudo… mas pelo menos te ajuda a calcular quando o problema começa a dar prejuízo.


📌 Adendo tardio (ou errata para os incautos de plantão):
Bhaskara, matemático indiano do século XII, não inventou a fórmula que leva seu nome nos livros brasileiros. A equação quadrática já era conhecida há milênios na Babilônia e foi desenvolvida muito antes dele. O título “fórmula de Bhaskara” é, na verdade, uma invenção local — um erro histórico que se propagou em gerações de educadores e livros didáticos no Brasil. Ou seja: se alguém vier corrigir, respire fundo, sorria e diga: “Sim, eu sei. Mas o fantasma é nosso e atende por esse nome.”


🌙 Post Extra — Elas Também Programaram a Lua (e Muito Mais)

 
“Quando mulheres são invisibilizadas, não é a ciência que vence — é a ignorância.”

Margaret Hamilton não pilotou a Apollo 11, mas sem ela o módulo lunar provavelmente teria dado com a cara no chão. A pilha de códigos que ela escreveu era maior do que ela mesma — literalmente. Na famosa foto, está ao lado da montanha de papéis que ajudaram a humanidade a pousar na Lua.

Décadas depois, Katie Bouman liderou o time que criou o algoritmo que nos deu a primeira imagem de um buraco negro. Lembra dela, sorridente em frente ao computador? Aquela não era só a foto de uma jovem cientista realizada, mas um símbolo de um futuro possível. E nesse mesmo projeto estava a astrofísica brasileira Lia Medeiros, ajudando a transformar matemática e radiotelescópios em uma janela para o abismo cósmico.

Mesmo assim, os números continuam a nos envergonhar: apenas 69 mulheres ganharam o Nobel em toda a história. Um número ridiculamente pequeno diante da imensidão da contribuição feminina para a ciência. Não é exagero dizer que muitas precisaram de um escudo extra: sobreviver em um ambiente dominado por homens, onde ainda ecoa a piada cruel de que, para ganhar um Nobel, é preciso ter um pênis.

O que isso revela? Que talento e dedicação não bastam. É preciso também lutar contra séculos de exclusão e preconceito. Enquanto a ciência insiste em se vender como universal, ainda carrega um viés muito humano: o patriarcado.

Mas talvez cada menina que se inspira em Margaret, Katie ou Lia seja parte da solução. Cada uma que resiste à invisibilidade e insiste em ocupar laboratórios, telescópios e quadros-negros. Não é só sobre “abrir portas”, é sobre arrancar as portas dos eixos.

Porque a ciência é muito maior — e mais bonita — quando ela tem rosto de mulher.

Epígrafe
“Se a Lua tem fases e o universo tem buracos negros, por que a ciência ainda insiste em ser tão monocromática?”

✨No Que Crê Quem Não Crê?

 
Dizem que sem fé, não há moral.

Mas será mesmo?

E quem não acredita em divindades, céu ou retribuição eterna — por que ainda insiste em ser justo, empático ou bom?

A resposta talvez esteja menos na crença e mais na escolha. Há quem se oriente pelo medo do inferno. Há quem se guie pela promessa do paraíso. Mas também há quem não espere nada além deste chão — e, mesmo assim, construa uma vida decente. Éticas que nascem fora dos templos, não como negação, mas como criação.

O ateu que ajuda sem esperar recompensa. O agnóstico que respeita o outro por simples empatia. O “não sei bem o que sou” que, ainda assim, entende que a vida compartilhada pede cuidado. Essas pessoas mostram que a moral pode ser independente da fé, que a bondade não precisa de vigilância divina, e que seguir o caminho certo não depende de uma plateia cósmica.

No fim, talvez essa seja a espiritualidade sem dogma: uma prática silenciosa, cotidiana, sem o peso da eternidade — mas com o valor imediato da vida que pulsa aqui e agora.

📌 Epígrafe:
“Não sei se existe algo além. Mas aqui, neste plano, eu ainda posso escolher não ser um babaca.”

segunda-feira, setembro 15, 2025

🧠 Reflexo Filosófico — A maldição de poder escolher (Sartre e o buffet infinito da vida)

 
"Estamos condenados à liberdade."

Jean-Paul Sartre

Você acorda. Pode levantar agora ou ficar mais 5 minutos. Pode tomar café ou só fingir que almoça mais tarde. Pode mudar de carreira, de cidade, de vida. Pode, pode, pode. E é exatamente isso que te paralisa.

Sartre não via a liberdade como um presente — mas como uma condenação.
Somos livres, sim... mas não no sentido libertador que a autoajuda vende. Somos livres no sentido de que não há manual, não há desculpa e não há ninguém pra culpar. Somos os autores — e responsáveis — por tudo que escolhemos. Inclusive pelo que deixamos passar.

Na visão existencialista, até não escolher é uma escolha.
E cada uma delas define quem somos. Não há essência pronta, identidade fixa, vocação impressa no DNA. Há apenas atos. Escolhas. Caminhos tomados (e não tomados).

E isso, convenhamos, dá um pouco de pavor.

Num mundo com 800 mil possibilidades por minuto, escolher significa abrir mão. É o peso do “e se”, do “será que era por ali?”, do “devia ter aceitado aquele estágio esquisito em 2012”.

Sartre não queria nos assustar, mas nos acordar.
A liberdade só é condenação se a gente foge dela.

🚀 Se o Futuro Chegar, Ele Vai Mesmo Assustar?

 
Imagine alguém acordando no ano 3001. Um salto de mil anos.

Surreal, certo?

Mas aí vem a pergunta: o que realmente assustaria essa pessoa?
Uma porta que fala? Uma máquina que ouve? Uma casa que lembra a hora do remédio? Difícil dizer. Afinal, já convivemos com assistentes de voz, celulares que entendem comandos e geladeiras que avisam quando o leite acabou. Talvez o choque não fosse tão grande assim.

Essa é a provocação lançada em 3001: A Odisseia Final (Arthur C. Clarke), onde Frank Poole é resgatado do espaço depois de mil anos e descobre um mundo que, surpreendentemente, não é tão assustador quanto poderia parecer. O espanto maior não está nos objetos que falam ou se movem sozinhos, mas no fato de eles entenderem o que queremos.

É curioso pensar nisso: a ficção científica, aquela que antes nos fazia sonhar com mundos distantes, agora já se confunde com a realidade. Carros que dirigem sozinhos, inteligência artificial que escreve, algoritmos que aprendem — o futuro já não tem mais a cara de um amanhã inalcançável. Ele está aqui, no nosso cotidiano, tão natural que até o espanto foi domesticado.

O tempo, afinal, não nos leva tão longe quanto pensávamos.
E talvez o que nos assuste menos seja a tecnologia em si, e mais a pergunta silenciosa que ela traz: será que estamos prontos para sermos entendidos?

📌 Epígrafe:
“Não me assustaria se uma porta falasse comigo.
O que me assusta é que ela me entenda.” — Frank Poole 

domingo, setembro 14, 2025

✍️ Post Extra — Quando os Extremos Apagam a Luz

 
Epígrafe:

“Nem na escuridão total, nem no clarão absoluto se enxerga com clareza.”


Há uma metáfora que me persegue: você não enxerga tanto no escuro quanto com uma luz muito brilhante no rosto. É nesse ponto que penso nos extremos — políticos, religiosos, ideológicos. Ambos cegam. E ambos afastam da temperança, esse lugar discreto onde a convivência é possível.

A teoria da ferradura já tentou explicar isso: que os extremos se tocam em sua radicalidade. Não sou fã da metáfora, mas reconheço um fundo de verdade. Quando a busca pelo “absoluto” se sobrepõe à vida, o resultado costuma ser a mesma sombra de sempre: intolerância, exclusão, violência.


Quando matar não resolve

Existe uma pergunta provocativa: se você mata um assassino, o número de assassinos no mundo permanece estável?
O paradoxo é simples: violência só recicla a violência. É o círculo que nunca se fecha, a lógica que não se sustenta.

Do outro lado, há o ditado alemão que diz: “Se há dez pessoas numa mesa, um nazista chega e se senta, e nenhuma pessoa se levanta, então existem onze nazistas à mesa.”
Aqui, a provocação é outra: silêncio diante do extremo não é neutralidade — é cumplicidade.

É nesse campo delicado que caminhamos: entre a ação violenta, que perpetua a barbárie, e a omissão confortável, que a legitima.


A banalidade do extremo

O filósofo Hannah Arendt chamou de “banalidade do mal” aquele processo em que atrocidades se tornam rotina, normalizadas, burocráticas até. Hoje, parece que vivemos outra banalização: a do extremo. O assassinato, o ódio, a eliminação do outro como solução viraram notícia repetida — até cansar.

Seja na figura do inimigo político, do adversário religioso ou do povo reduzido a estatística, o “extermínio” deixou de ser inimaginável e passou a ser uma hipótese de mesa de bar. E isso, talvez, seja o maior sintoma de decadência moral da nossa era.


Um sonho antigo, ainda válido

Lembro da infância, dos concursos de Miss. A plateia ria quando as candidatas diziam: “Eu desejo a paz mundial”. Ingenuidade, dizíamos. Hoje, sinto falta daquela ingenuidade. Não porque acreditasse numa paz total, mas porque ainda havia espaço para sonhá-la em público, sem cinismo.

A UNESCO chama de “educação para a prevenção do extremismo” esse esforço de cultivar diálogo, respeito e equidade como antídotos contra o ódio. Outras iniciativas falam de “cultura da paz”. Pode soar burocrático. Mas talvez seja só uma forma institucional de traduzir o desejo simples das candidatas de miss: um dia sem guerras, um dia sem mortes, um dia sem manchetes sangrando.


Entre a utopia e o esforço cotidiano

A paz mundial é possível? Provavelmente não da forma absoluta, sem falhas. Mas talvez seja menos sobre alcançar um ponto final e mais sobre manter o processo em movimento.

Ela depende de coisas simples e difíceis ao mesmo tempo:

  • Educação, que ensina a questionar antes de odiar.

  • Justiça social, que dá dignidade antes que a violência ocupe o vazio.

  • Coragem ética, que levanta da mesa quando o nazista senta.

  • Espaços de diálogo, que tratam o outro como humano, mesmo na discordância.

Não é utopia sonhar com isso. Utopia é acreditar que a violência resolve.


O silêncio que eu gostaria de ouvir

No fim, o que mais desejo é um dia de notícias “sem importância”. Um dia sem bombas, sem massacres, sem extremismos aplaudidos como bravura. Que possamos, como os reis distraídos do passado, escrever em nossos diários: “Nada importante aconteceu hoje.”

Porque, às vezes, nada acontecendo é exatamente a coisa mais importante que poderia acontecer.


📌 Conclusão:
Os extremos sempre parecerão mais sedutores que o caminho do meio. Eles oferecem a ilusão de clareza: ou luz ofuscante, ou sombra absoluta. Mas viver é justamente o contrário: aceitar o crepúsculo, a nuance, a negociação. Talvez nunca cheguemos à paz total — mas podemos cultivar menos extremos. E isso, no mundo de hoje, já seria uma revolução.


🏟️ A Política do Pão e Circo e Por Que Não Gosto de MMA

  Epígrafe: "O instinto nos força a treinar para a guerra, mas a evolução nos obriga a torcer pela paz." Do Roteiro ao Sangue Rea...