No mito grego, Tântalo foi condenado a um suplício peculiar: preso em um lago, com frutas ao alcance das mãos, mas incapaz de beber ou comer. A água recuava sempre que tentava beber. As frutas se afastavam sempre que esticava os dedos.
A punição era simples e cruel: desejar para sempre o que jamais poderia ter.
Tântalo encarna um tipo de sofrimento que parece muito moderno. Vivemos cercados de imagens, produtos e promessas — e, no entanto, o que queremos parece sempre um pouco além da borda. Um aumento de salário que nunca é suficiente. Um relacionamento que quase nos preenche. Um projeto que sempre fica para “quando sobrar tempo”.
Talvez por isso o mito ainda fale tanto com a gente: ele não é só sobre castigo divino, mas sobre o motor da nossa insatisfação. Afinal, não é essa distância — entre o que temos e o que sonhamos — que mantém a roda girando?
Ou será que estamos apenas repetindo, em versão 4K, o mesmo gesto de Tântalo: com a boca na água e a fome intacta?
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