Declus

Tentando tapar os buracos na minha cabeça...

domingo, maio 18, 2025

Candido, de Voltaire


Cândido, de Voltaire: Ironia, Filosofia e uma Jornada contra o Otimismo Cego

Escrito em 1759 por Voltaire, Cândido ou o Otimismo é uma das obras mais afiadas e acessíveis do Iluminismo francês. Envolto em sátira, o livro é uma crítica feroz às filosofias do “tudo está no melhor dos mundos possíveis” – especialmente direcionada ao otimismo metafísico de Leibniz, representado na obra pelo hilário (e desastroso) personagem Pangloss.

💡 Contexto histórico: o século XVIII foi marcado pelo surgimento do pensamento iluminista, que desafiava tradições religiosas, a autoridade monárquica e buscava explicar o mundo por meio da razão. Voltaire foi um dos expoentes dessa mudança.

A história acompanha o jovem Cândido, um rapaz ingênuo que, após ser expulso do castelo onde vivia, embarca em uma jornada absurda que o leva por guerras, terremotos, naufrágios, perseguições religiosas e até pela fictícia utopia de Eldorado.

Durante sua trajetória, o protagonista vê o sofrimento humano em larga escala e, gradualmente, passa a questionar os ensinamentos de Pangloss – que insiste, mesmo diante das maiores desgraças, que “tudo acontece para o melhor”.

Uma resposta afiada ao mundo real

Segundo relatos, Voltaire teria escrito Cândido em apenas três dias, impulsionado por sua indignação frente a eventos como o terremoto de Lisboa de 1755, que matou dezenas de milhares de pessoas e chocou a Europa. O desastre inspirou o autor a confrontar a ideia de um mundo regido por um “bem maior” inexplicável.

🔥 A ironia cortante da obra não poupou nem a Igreja, nem os nobres, nem os filósofos – e isso custou caro: o livro foi banido, queimado em praças públicas e teve sua venda proibida em vários países. Naturalmente, virou um sucesso.

No fim, Voltaire oferece uma alternativa pragmática à filosofia vazia do otimismo: “Devemos cultivar o nosso jardim.” Essa frase, que encerra o livro, pode ser lida como um convite à ação prática, ao trabalho produtivo e à responsabilidade individual.

Por que ler hoje?

  • Porque ainda vivemos cercados por discursos superficiais que tentam justificar o sofrimento com explicações genéricas.
  • Porque o humor de Voltaire segue atual: ácido, direto e surpreendentemente leve.
  • Porque precisamos, de vez em quando, rir para não enlouquecer diante da estupidez humana.

Se você busca uma leitura breve, provocadora e deliciosamente irônica, Cândido continua sendo uma ótima escolha – mesmo mais de dois séculos depois de sua publicação.

🖋️ Este post faz parte da minha missão de abrir buracos no cérebro por meio de livros, filmes e ideias tortas. Não é só uma resenha, é uma escavação. E sim, ainda acredito que rir é um jeito muito digno de resistir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Medusa e o Medo de Encarar Verdades

 🐍 Quando pensamos em Medusa, vem logo a imagem clássica: uma mulher de rosto furioso, com serpentes no lugar do cabelo, capaz de transform...