O Presságio com Penas
O Corvo não é só um pássaro. É uma entidade. É um presságio, um poema gótico com penas. Na cultura ocidental, ele já foi mensageiro dos deuses, símbolo de morte e, claro, o protagonista eterno de O Corvo, de Edgar Allan Poe — onde virou sinônimo de luto, loucura e repetição.
No Brasil, não temos corvos na natureza para nos dar esse susto poético. Mas o nosso panteão de bichos misteriosos é igualmente inquietante. Temos urutaus (o pássaro fantasma da noite), corujas (a sabedoria que assombra) e — como acabei de descobrir — rolinhas que emitem sons tão sinistros que fariam um filme de terror repensar a trilha sonora.
O Inquietante Canto do Meio-Dia
O que me assustou recentemente foi esse som abafado do dia. Não era a escuridão da noite a serviço do medo, mas o silêncio opressor do sol.
A gente espera o mistério nas sombras, que a coruja pouse no muro à meia-noite e que o vento uive na janela. Mas o que nos arrepia de verdade é o som inesperado que rasga a normalidade do dia. É a rolinha que, com seu canto grave e cavernoso, parece estar sussurrando um segredo antigo sob um céu azul e inocente.
Por que esses animais nos assustam, mesmo sem querer?
Porque eles quebram a nossa expectativa. O corvo, o urutau, a rolinha... eles nos lembram que há mistérios e linguagens operando logo abaixo da superfície da nossa rotina.
No fim, descobri que o silêncio da noite nem sempre é o mais inquietante. Às vezes, é o canto abafado do dia — aquele que só precisa de um eco certo ao meio-dia — que nos arrepia e nos lembra que a vida é muito mais estranha do que a gente gostaria que fosse.
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