"A ignorância é o único fenômeno que realmente está em alta — e esse, a gente detecta a olho nu."
O Perigo da Percepção Distorcida
De vez em quando surge a velha conversa, cheia de certezas: "Por que será que tem tanto autismo hoje em dia? Será que é por causa das vacinas?"
Pois é. Ironias à parte, o que realmente "aumentou" não foi o fenômeno em si, mas a nossa capacidade de diagnosticar.
A medicina evoluiu, o entendimento sobre o espectro se ampliou, e o que antes era rotulado de "tio doidinho" — como aquele parente que, em retrospecto, a família hoje reconhece como autista — agora é visto como parte da diversidade humana. É triste perceber o quanto gerações inteiras passaram despercebidas, invisíveis por pura falta de conhecimento.
O mesmo acontece com o câncer, com doenças autoimunes, com quase tudo. Não é que o universo esteja mais cruel — é que a gente está enxergando melhor.
O Olhar para o Cosmos
Curiosamente, esse princípio da "lente melhor" vale também para o próprio universo.
Pega o caso dos objetos interestelares: até pouco tempo atrás, nenhum havia sido detectado. Agora, já temos o 3i Atlas, o terceiro a cruzar nosso sistema solar, detectado pelo sistema de monitoramento ATLAS (financiado pela NASA, que, vale lembrar, não faz travesseiros).
Mas basta aparecer a palavra "interestelar" para alguém perguntar se é uma nave alienígena. "Ah, mas porque agora tem aparecido tantos objetos, não é porque estão vindo pra cá nos observar?"
Não, amiguinho. Não é. É só a ciência fazendo o que sempre fez: melhorar sua lente. Antes dos anos 2000, quase não tínhamos exoplanetas confirmados. Hoje, são milhares. E não é porque os alienígenas começaram a se mudar em massa para cá — é porque aprendemos a olhar direito.
O Clubinho e a Complexidade
A verdade é que quanto mais enxergamos, mais percebemos o quanto não sabíamos. E isso incomoda.
É mais fácil e mais cômodo chamar o autismo de conspiração da vacina, a complexidade do universo de invasão alienígena, ou o avanço científico de farsa global. É um jeito de "pertencer ao clubinho" (como discutimos antes aqui), onde o mundo é simples e os "sábios" são os que negam o óbvio.
No fim, a recusa em aceitar a complexidade da realidade é o maior motor da ignorância. Como diria Arthur C. Clarke:
“Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia.”
E talvez o que ainda falte não seja fé ou imaginação, mas um pouco mais de leitura e a humildade de admitir que a ciência, na verdade, só está nos dando mais luz.

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