O Diploma Fast-Food
Vivemos na era da informação instantânea e, inevitavelmente, da especialização de fast-food. Basta um documentário de duas horas, a leitura de um best-seller de autoajuda ou um curso online intensivo para que a pessoa se sinta apta a dar palestras, reestruturar empresas ou diagnosticar o trauma alheio.
Chamo isso de Síndrome do Especialista de Quatro Semanas.
O sintoma é simples: a pessoa adquire um vocabulário técnico de alto impacto (palavras como "framework", "mindset", "disrupção" ou "validação emocional") e, subitamente, acredita ter dominado a totalidade de uma disciplina complexa.
O conhecimento não é mais uma jornada; é um download.
A Inconveniente Profundidade
O problema não é o aprendizado rápido; é a ilusão de domínio.
A superficialidade é confortável. Ela permite que a gente se sinta inteligente e capaz sem ter que enfrentar a inconveniente profundidade. O Especialista de Quatro Semanas não quer saber os porquês da teoria, ele quer o manual de como fazer para vender, curar, ou enriquecer rápido.
Ele não busca o conhecimento, busca a performance do conhecimento.
E é aí que mora a ironia: quanto mais complexo o assunto, mais fácil é se disfarçar de gênio. É mais fácil dar uma palestra sobre a "Disrupção Quântica do Mindset Financeiro" do que, digamos, consertar um vazamento debaixo da pia. A complexidade real exige humildade; a complexidade inventada, só vocabulário.
A Tragédia do Microfone Aberto
A tragédia do Especialista de Quatro Semanas é que ele, munido de seu diploma online, entra na roda de conversa com a autoridade de quem dedicou uma vida ao estudo.
E ele não escuta. Ele não debate. Ele profetiza.
Ele leu um livro sobre estoicismo e agora invalida o sofrimento alheio.
Ele fez um curso de design e agora recusa qualquer tipografia que não seja a dele.
Ele viu um documentário sobre nutrição e agora declara guerra ao seu pão.
No fim, a internet e a facilidade do acesso à informação criaram um paradoxo: nunca tivemos tanta oportunidade de aprender, mas raramente estivemos tão apegados a versões rasas e simplificadas da realidade.
Talvez o verdadeiro sinal de inteligência não seja a capacidade de citar jargões, mas a humildade de dizer "eu não sei".
Afinal, a sabedoria é a jornada, não o download. E a vida, felizmente ou infelizmente, exige muito mais do que quatro semanas de dedicação.

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