Declus

Tentando tapar os buracos na minha cabeça...

sexta-feira, novembro 21, 2025

⛓️ A Gaiola de Ouro da Liberdade Vendida (O Medo de Ser Erich Fromm)

Epígrafe: "Ser plenamente humano é ser plenamente livre." — Erich Fromm

O Mito da Liberdade Como Recompensa

Nós crescemos sob o mantra de que a liberdade é a maior das conquistas: a liberdade política, a liberdade de expressão, a liberdade de consumo. No entanto, o pensador Erich Fromm (e muitos existencialistas) nos confronta com uma verdade incômoda: a liberdade não é um prêmio; é um fardo.

Fromm, em sua obra clássica O Medo à Liberdade, argumenta que quando atingimos a autonomia, somos tomados por uma angústia existencial tão grande que a maioria de nós prefere, inconscientemente, fugir dela.

O ser plenamente humano é ser plenamente livre, mas essa plenitude exige a coragem de ser autêntico — e é aí que a maioria de nós falha.

Liberdade Vendida vs. Liberdade Real

Para entender por que fugimos, precisamos distinguir o que é a liberdade no marketing e o que ela realmente significa na filosofia.

Tipo de LiberdadeLiberdade Vendida (Negativa)Liberdade Real (Positiva - Fromm)
O que é?Liberdade DE (de restrições).Liberdade PARA (para criar, ser).
Exemplo:Livre para escolher entre 30 marcas de pão; livre da censura.Livre para decidir o seu próprio valor; livre para criar a sua própria moral.
Exigência:Passividade, consumo e conformidade.Responsabilidade radical e ação autêntica.
Resultado:Uma sensação cômoda de autonomia que te deixa no piloto automático.A angústia da escolha que te obriga a ser autor da sua vida.

A Liberdade Vendida é a liberdade que o sistema lhe dá. Ela é segura porque é delimitada. Ela permite que você escolha um produto, um partido, um hobby — mas dentro de um menu pré-aprovado. Essa liberdade nos acalma, mas nos mantém escravos da conformidade.

O Preço de Sartre e a Condenação

O filósofo Jean-Paul Sartre foi mais radical: ele disse que estamos condenados a ser livres.

Se não há Deus ou propósito predefinido, cada uma de nossas escolhas define o que é ser "humano". Se você é livre, não há manual de instruções, não há desculpa, não há "destino" a culpar (como vimos no post anterior de Hume, a razão não pode ser a desculpa).

O medo de Fromm é o medo de Sartre: o terror de que, se somos totalmente livres, somos totalmente responsáveis por quem nos tornamos.

O Medo de Ser Autêntico

A fuga da liberdade acontece quando abrimos mão da nossa autenticidade e nos escondemos:

  1. Na Conformidade: Você adota as opiniões do grupo (o exato oposto da "Síndrome do Intelectual Sem Foco"). Você se torna a média, e isso é seguro.

  2. Na Destrutividade: Você tenta anular o mundo exterior para se sentir no controle (destruindo a liberdade alheia).

  3. Na Autoridade: Você se submete a uma ideologia, religião ou líder forte. Você transfere o fardo da escolha para a "autoridade" e, finalmente, pode relaxar.

Ser plenamente livre, como diz Fromm, é ser plenamente humano: é assumir a totalidade do seu ser, com todos os riscos e angústias. É fazer a escolha mais difícil de todas: a de ser você mesmo, e não o personagem que os outros esperam.

🕶️ O Complexo de Deus Necessário (Por Que Amamos e Odiamos Satoru Gojo)

 


AVISO DE SPOILER: O texto abaixo aborda o destino de Satoru Gojo no mangá de Jujutsu Kaisen.

Epígrafe: "O problema de ser o mais forte é que você é forçado a viver em uma realidade que só existe para você."

O Enigma da Perfeição Irritante

Satoru Gojo é o enigma de Jujutsu Kaisen. Ele é a personificação do Poder Absoluto e, por isso mesmo, o maior catalisador de adoração e antipatia entre os fãs.

A aversão por ele é amplamente justificada: o Complexo de Deus, a atitude debochada em momentos sérios e o poder avassalador que torna as lutas previsíveis. Mas a nossa apreciação (a sua e a minha) nasce de uma lente mais rara: a Alteridade.

Não podemos ter empatia por Gojo, pois jamais estaremos em seu lugar. Mas podemos exercer a alteridade: reconhecer que a sua realidade é fundamentalmente outra.

A Defesa da Arrogância (Uma Questão de Realismo)

O principal motivo para a antipatia é a arrogância. Gojo não tem medo de se autoproclamar o mais forte.

Mas o que é arrogância para nós é realismo para ele. Quando se tem os Seis Olhos (Rikugan) e o Ilimitado (Mukagen), o mundo é percebido de uma maneira que ninguém mais consegue. Sua existência é a de um ponto de ruptura na lógica do universo Jujutsu.

  • O Comportamento: Seu senso de humor sarcástico e a atitude despreocupada são, na verdade, um mecanismo de defesa. Gojo carrega o peso de ser o único capaz de proteger o mundo; o deboche é a única forma de evitar o burnout existencial. Sua frieza calculista é o preço de seu poder; ele não pode se dar ao luxo do desespero.

  • O Juízo de Valor: O fã comum julga Gojo pela régua de um shounen clichê (onde o herói deve ser humilde e esforçado). Mas Gojo não é o esforçado; ele é o ápice genético, o acidente cósmico. Julgá-lo por não ser humilde é como julgar um raio por não ser apenas uma lâmpada.

O Problema do Overpowered (OP)

O poder excessivo de Gojo era o problema e, ao mesmo tempo, o motor da narrativa.

Sua presença ou ausência define os riscos da história. Enquanto ele está por perto, a ameaça é mitigada. Quando ele é selado (o momento de virada do mangá), o mundo desmorona. O autor, Gege Akutami, não podia contar uma história de alta tensão com Gojo permanentemente em campo. Ele era a cheat code que precisava ser removida.

O Desfecho Controversíssimo e Necessário

E aqui chegamos ao grande spoiler e ponto de controvérsia: a morte de Gojo pelas mãos de Sukuna, executada por uma técnica que "cortou o espaço" ao invés de focar no feiticeiro em si.

Houve quem chamasse de "birra do autor" por Gojo ser popular demais. Mas o desfecho era uma necessidade narrativa e lógica:

  1. A Escala de Poder: Não existia uma técnica comum que pudesse derrotar o Mukagen de Gojo. Para matar o OP, era preciso uma solução igualmente OP e metafísica (cortar o tecido da realidade).

  2. A Validação de Sukuna: A morte de Gojo valida, de forma brutal, a ameaça de Sukuna. O antagonista só se torna o rei absoluto se derrotar o único ser que poderia pará-lo.

O desfecho de Gojo é triste, controverso e indigesto, mas é a medida exata de seu poder. Sua história termina onde o mangá precisava que terminasse para que todos os outros personagens tivessem espaço para brilhar e lutar pelo futuro.

No fim, Gojo nos ensinou sobre a alteridade do poder: aceitar que a nossa régua de normalidade não se aplica àqueles que tocam a perfeição.

quinta-feira, novembro 20, 2025

🧠 O Advogado das Paixões (A Ilusão da Racionalidade Segundo David Hume)

 Epígrafe: "A razão é, e deve ser, escrava das paixões." — David Hume

O Mito da Decisão Lógica

Nós fomos ensinados a valorizar a Razão como o juiz supremo, o motor frio e lógico que deve nos guiar. A Paixão (o afeto, o desejo, o impulso) é vista como a força caótica a ser contida.

O filósofo escocês David Hume jogou essa estrutura pela janela. Ele não disse apenas que a razão é escrava das paixões; ele disse que ela deve ser escrava.

O que Hume chama de "paixões" não são apenas ataques de raiva ou luxúria. São toda a nossa motivação: nossos desejos fundamentais, nossas ambições, nossos valores morais e, sobretudo, as nossas vontades.

O cerne da tese é brutal: Nós não usamos a razão para decidir o que queremos; usamos a razão para justificar o que já decidimos querer.

A Razão Como Advogada de Defesa

Se você prestar atenção nas suas grandes decisões, perceberá que a paixão sempre dá o pontapé inicial. A razão entra em cena depois, apenas para fazer o marketing da escolha:

  • Comportamento de Consumo: Você vê um objeto que deseja (a Paixão). Você o compra (o Ato). A Razão, então, trabalha horas extras para justificar a despesa: "Eu precisava dessa ferramenta para o trabalho," ou "Foi um investimento de longo prazo," ou "Eu mereço."

  • Escolhas de Carreira: A Paixão te move para a estabilidade (concurso) ou para o risco (empreender). A Razão, então, monta a planilha de custos e benefícios para provar que o caminho escolhido é o mais sensato.

A razão não gera a vontade de passar na SEFAZ SP; ela apenas calcula a rota, o número de questões por dia e a estratégia para o 28/02. O desejo de uma vida melhor (a Paixão) é quem apertou o botão "iniciar estudo" há 10 anos.

O Perigo da Ilusão Racional

O maior perigo em negar Hume é a hipocrisia.

Quando tentamos convencer a nós mesmos e aos outros de que agimos puramente pela lógica, transformamos nossas paixões (nossos verdadeiros motores) em um inimigo a ser escondido. Isso nos impede de entender por que realmente fazemos as coisas.

A vida não é um silogismo; é um desejo em movimento. E o sábio é aquele que admite que a Paixão é o capitão do navio (ela define o destino), e a Razão é o navegador (ela traça a rota mais segura para chegar lá).

A aceitação da escravidão, nesse caso, é a própria libertação.

📚 A Síndrome do Intelectual Sem Foco (O Vasto Mar de Opiniões Rasas)

 Epígrafe: "A verdadeira inteligência reside na humildade de calar sobre aquilo que você só leu na manchete."

A Cultura da Opinião Obrigatória

Vivemos na era da informação instantânea, mas, paradoxalmente, sofremos do que podemos chamar de Síndrome do Intelectual Sem Foco (SISF).

A SISF é a obsessão cultural por ter uma opinião forte sobre qualquer assunto que surja na rodada, seja ele a política asiática, o último avanço em IA ou a crise econômica do Quênia.

O cenário é sempre o mesmo: a sala de reunião ou a rodada de amigos, onde todos emitem seus vereditos com a mesma eloquência e, crucialmente, com a mesma falta de conhecimento profundo. A pressão de não ser o único a dizer "Não sei" é insuportável.

O Conhecimento Nível Manchete

A Internet, ao invés de nos tornar mais sábios, nos tornou mestres em conhecimento nível manchete.

Nós trocamos a profundidade pela amplitude. Buscamos resumos rápidos, threads de Twitter e podcasts de 15 minutos para montar uma fachada de domínio sobre o tema. Nosso cérebro se enche de soundbites e fatos isolados, mas o esqueleto do conhecimento (a história, o contexto, as metodologias) permanece vazio.

A gente não entende o porquê; apenas repete o quê. E essa facilidade de acesso à informação nos rouba a humildade necessária para a construção do saber.

O Peso de Ser Silencioso

No jogo social da SISF, o silêncio é a fraqueza.

Se você está em uma discussão acalorada sobre juros e inflação e ousa dizer "Eu não tenho profundidade nesse assunto, prefiro ouvir," você corre o risco de ser visto como ignorante, ou pior, como "alheio" ao mundo.

Somos forçados a emitir uma opinião rasa, rapidamente construída a partir do último link lido, apenas para manter nosso status de "cidadão bem-informado". O objetivo não é mais a verdade ou a compreensão; é a performance intelectual. É a validação do grupo.

A Revolução do "Não Sei"

O antídoto para a Síndrome do Intelectual Sem Foco é a humildade radical.

O verdadeiro intelectual moderno não é o que opina sobre tudo; é o que tem a coragem de calar sobre 90% dos assuntos para poder mergulhar fundo e, com integridade, defender os 10% que realmente domina.

  • Rejeite a Obrigação: Livre-se da pressão social de ter um veredito para cada crise do planeta.

  • Corte a Superfície: Troque o consumo de 10 manchetes pelo consumo de 1 livro sobre um tema que você ama.

  • Redefina o Status: A verdadeira marca de uma mente poderosa não é a quantidade de opiniões, mas a qualidade do silêncio que precede o saber.

Em um mundo de informação infinita, a profundidade é a nova rebeldia, e o "Não Sei" é a frase mais honesta e inteligente que você pode pronunciar.

⚠️ Errata: Uma Nota Sobre a Ciência (Ou a Falta Dela)

Aviso Importante: A Síndrome do Intelectual Sem Foco (SISF) não é, e gostaria de reforçar que NÃO É, um termo médico ou psicológico reconhecido pelo DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais).

Não sou médico, nem psiquiatra. Sou apenas um observador muito sarcástico. O termo foi cunhado por pura falta de opção e preguiça de pesquisar o nome em latim ou grego que, com certeza, já existe para descrever a nossa obsessão em ter opinião sobre o que não sabemos.

Por enquanto, a SISF é apenas uma descrição amigável. 


🤖 A Síndrome do Autopiloto Existencial (A Vida Virou um Check-list e o Eu Sumiu)

Epígrafe: "Nós vivemos para o check-list, e não para a vida. E quando a lista acaba, percebemos que não sabemos mais quem somos."

O Ritmo Implacável da Vida Adulta

A vida adulta é vendida como a liberdade de fazer suas próprias escolhas. Mas, na prática, ela rapidamente se transforma em uma máquina de cumprir tarefas.

Acordar, trabalhar, pagar contas, ir à academia, cuidar da casa, responder e-mails, comprar mantimentos, "ter qualidade de vida" (que também virou um item da lista). É um ciclo sem fim que podemos chamar de Síndrome do Autopiloto Existencial.

Nós nos tornamos um conjunto eficiente de funções, perdendo o contato com o "piloto": o eu que ria alto, que tinha sonhos aleatórios, que se perdia em um hobby sem culpa. A vida vira um grande check-list, e, ironicamente, o item "ser você mesmo" nunca entra na lista de prioridades.

O Fazer pelo Fazer (e a Ausência de Ser)

O perigo do autopiloto é que ele é silencioso. Não há um grande drama. Há apenas uma lenta e gradual erosão da alma.

Você está sempre ocupado, sempre produtivo, sempre "em dia" com as responsabilidades. Mas, no fundo, a pergunta "por que estou fazendo tudo isso?" fica sem resposta.

  • O Trabalho: Você é eficiente, mas a paixão (se ela um dia existiu) sumiu. É só mais um item para riscar.

  • As Contas: São pagas religiosamente, mas você não sabe mais para que serve o dinheiro, além de sustentar o ciclo do autopiloto.

  • Os Hobbies: Viraram mais uma performance, mais uma coisa para "encaixar" na agenda lotada, perdendo a leveza do prazer genuíno.

A gente confunde "fazer" com "viver". E a consequência é que, quando o check-list termina (se é que ele um dia termina), a gente se olha no espelho e pergunta: "Quem é essa pessoa que eu me tornei?"

O Despertar do Piloto (O Retorno do Eu)

O antídoto para a Síndrome do Autopiloto Existencial não é largar tudo e ir para a Tailândia (embora a ideia seja tentadora). É um processo de desaceleração consciente e reconexão deliberada.

  • A Pausa Intencional: Crie momentos de vazio, de não-fazer. Permita-se o luxo da solidão, sem culpa.

  • A Pergunta Radical: Pergunte-se, sem julgamento: "O que eu realmente quero fazer AGORA, que não esteja na minha lista de obrigações ou expectativas alheias?"

  • O Reencontro com o Eu Esquecido: Volte a fazer algo que você amava, não por produtividade, mas por puro prazer. Leia um livro que não seja técnico. Ouça uma música sem fazer mais nada. Olhe para o céu sem o celular na mão.

Viver no automático é seguro, mas é também uma forma de não viver. É hora de desligar o piloto automático, pegar o volante de novo e lembrar quem é a pessoa que está no comando.

🔥 O Efeito Armarinhos Fernando (O Viés da Disponibilidade e a Maldição do Incidente Repetido)

 
Epígrafe: "O nosso cérebro odeia estatística e ama uma boa história. Principalmente se essa história já foi contada três vezes."

O Gatilho Perfeito: Um Incêndio e Três Memórias

Você já teve aquele momento de certeza absoluta que não faz sentido? Recentemente, o noticiário sobre um incêndio no centro de São Bernardo do Campo (SBC) fez a minha mente disparar uma associação automática: "Aposto que foi no Armarinhos Fernando."

Claro, não foi. Mas a minha reação imediata era o que importava. Por que diabos, em um universo de milhares de lojas, o meu cérebro escolheu justamente essa rede?

A resposta estava na memória: na última década, essa rede de varejo foi palco de pelo menos três grandes incêndios amplamente noticiados em depósitos e lojas. A conclusão não era inocente: meu viés pulou imediatamente de "acidente" para a narrativa mais sensacionalista de "golpe no seguro", ignorando a probabilidade de que a causa fosse a quantidade e o tipo de material inflamável que a loja vende.

O Efeito Armarinhos Fernando

Essa associação mental automática tem um nome no mundo da psicologia: a Heurística da Disponibilidade.

Não é um Efeito Mandela Torto (onde a memória é falsa), mas um atalho mental: nós somos levados a julgar a probabilidade de um evento pela facilidade com que conseguimos nos lembrar de exemplos dele.

  • Eventos Memoráveis: Três grandes incêndios em uma rede de lojas em um período curto? Isso é dramático, noticiado e fácil de lembrar.

  • A Associação: Quando surge um novo incêndio na área, o cérebro não faz uma análise estatística complexa. Ele simplesmente puxa o exemplo mais disponível na sua memória: Armarinhos Fernando.

O cérebro é preguiçoso e confia no que é mais fácil de ser evocado. O Efeito Armarinhos Fernando transforma eventos raros e dramáticos em regras, distorcendo a nossa percepção de risco e de realidade.

Casos Semelhantes (A Maldição da Repetição)

O "Viés da Disponibilidade" é universal e se manifesta sempre que a mídia amplifica eventos negativos ou sensacionais:

  • Acidentes Aéreos vs. Acidentes de Carro: Você tem um medo desproporcional de voar após a notícia de um acidente aéreo, mesmo sabendo que a chance de morrer no trajeto de carro para o aeroporto é muito maior. O avião que cai é dramático e disponível na memória.

  • O "Bug" da Empresa: Se uma Empresa X sofre dois escândalos de corrupção em cinco anos, o cérebro conclui que toda a empresa é corrupta, dificultando que você acredite em qualquer notícia positiva sobre ela.

A Lição da Injustiça Cognitiva

O nosso cérebro não busca a justiça estatística; busca a coerência narrativa.

É mais fácil, e dá mais satisfação, concluir que o incêndio é resultado de um plano maligno ("golpe no seguro") do que aceitar a verdade entediante de que a probabilidade de tragédia aumenta com a má gestão de estoque.

O Efeito Armarinhos Fernando é o lembrete de que a nossa percepção da realidade é uma curadoria de manchetes que a nossa mente, preguiçosa, transforma em causa e efeito.

terça-feira, novembro 18, 2025

🎯 A Síndrome do Edital Após 12 Anos (Onde o Foco é Tudo, Exceto a Ex-Namorada)

 
Epígrafe: "O edital é o Big Bang de uma nova vida. Não importa se você está pronto; importa se você escolhe lutar a partir de agora."

A Realidade Inadiável

Depois de uma década de espera, o boato virou realidade: o Edital da SEFAZ SP está confirmado para 25/11/2025, com a temida FCC na banca e a estrutura de 2013, nos esperando para três provas nos dias 28/02 e 01/03/2026.

E a primeira reação? A mais honesta de todas: "Não me sinto preparado."

Ninguém que espera por uma prova dessa magnitude, que leva anos para sair, se sente plenamente pronto. A mente do concurseiro se enche de todas as desculpas acumuladas — as horas perdidas em distrações, os relacionamentos que engessaram o foco, a tentação de apenas "seguir a vida" — e compara sua trajetória com a dos "mais preparados".

Não importa a sua posição de largada. Você pode ser aquele que luta por um upgrade (o seu "Kant Fiscal") ou o que luta com a faca nos dentes por uma estabilidade que nunca teve. O que importa é que a pressão é a mesma: o fracasso não é apenas uma nota baixa, mas a permanência em uma vida insatisfatória (ou o adiamento de um sonho de uma década).

A Batalha de 20.000 Questões

O medo é inevitável. A ansiedade é um motor. Mas a disciplina do concurseiro nos ensina a única coisa que realmente importa agora: o poder da meta diária, inegociável.

A mente do concurseiro precisa de métricas concretas. Eu, por exemplo, estabeleci uma meta audaciosa de 20.000 questões resolvidas até o dia da prova, mas, com a data batendo na porta, ainda estou na marca das 1.500. Se a sua meta for parecida, a conta é impiedosa.

Temos 102 dias até a primeira prova (28/02/2026), e isso significa que a nossa nova ofensiva diária é de cerca de 182 questões por dia (com pouca folga para erros).

É um número assustador? Sim. Mas é concreto. O segredo para não "ficar mal antes da prova" é este:

  1. Ignore o Olimpo da Fluência: Não compare seu conhecimento com o daqueles que parecem ter nascido para a SEFAZ. Sua luta é individual. Seu ponto de partida é o seu.

  2. O Foco está no Processo, Não no Resultado: Sua meta não é passar; sua meta é fazer as 182 questões de hoje. Se você fizer isso por 102 dias, você terá feito o máximo que poderia fazer. O resultado é consequência.

  3. A Prova é um Investimento: O conhecimento adquirido sobre Tributário, Contabilidade de Custos e legislação específica não serve apenas para a SEFAZ SP. É um passaporte para qualquer fisco do país. Cada hora investida é uma valorização do seu capital intelectual.

Para o Concurseiro na Luta

Para todos nós que encaramos essa reta final, a regra é a mesma:

  • Aceite o Sentimento de Não-Preparo: Não sentir-se pronto é normal. O preparado é aquele que continua estudando apesar do medo.

  • Enquadre a Escolha: Lembre-se, você escolheu lutar. A sua disciplina agora é o seu maior ato de amor-próprio e responsabilidade.

  • Corte as Distrações (Incluindo o Drama): Um edital de 12 anos não perdoa desvios de rota. O café, o drama, os problemas alheios... tudo isso deve ser adiado. Sua vida pessoal é irrelevante até 01/03/2026.

Você não precisa de garantias, precisa de foco. Lute até o dia 28/02/2026 com a certeza de que, dando 100% de si, você terá honrado a espera de uma década. E isso, por si só, já é uma vitória inegociável.

🎧 O Eremitismo Mental Produtivo (A Arte de Ligar o Botão Fd-$)

  Epígrafe: "O mundo é como uma notificação irritante: você precisa silenciá-lo para conseguir ler o que está escrito dentro de si....