Declus

Tentando tapar os buracos na minha cabeça...

sexta-feira, setembro 19, 2025

Post Extra — Armas e Verdades

 

Epígrafe:
"Nem toda ideia precisa virar bandeira. Nem toda frase precisa ser guerra."

Vivemos numa era em que a necessidade de ter opinião sobre tudo virou quase um mandamento. Não importa se você leu a pesquisa inteira ou só o título, se tem experiência prática ou apenas “ouviu falar”: o importante parece ser escolher um lado e defendê-lo como se fosse uma batalha decisiva.

O problema é que, nesse campo de guerra simbólico, as espadas raramente cortam o “inimigo” — acabam nos ferindo uns aos outros. Discutimos sem ouvir, atacamos sem refletir, defendemos sem pensar. O resultado? Ruído, desgaste, egos inflados e uma falsa sensação de vitória em debates que, na prática, não levam a lugar algum.

Talvez a raiz esteja em confundir opinião com verdade. Como se cada frase dita precisasse ser arma, estandarte ou sentença final. Mas não há espaço para diálogo quando todos acreditam já ter a resposta definitiva.

Conviver em harmonia não exige abrir mão do pensamento crítico, mas aprender a guardar nossas armas — e, principalmente, nossas “verdades”. Nem sempre é preciso disparar. Às vezes, basta ler, refletir, respirar… e seguir em frente.

Errata Ética:
Não é porque você tem uma opinião que ela precisa ser publicada, defendida ou transformada em bandeira. Às vezes, o silêncio é o maior ato de lucidez coletiva.


🌌 O Efeito Doppler e o Universo Que Vai Embora

 
As galáxias estão fugindo. Literalmente.

Quando olhamos para o espectro da luz que elas emitem, vemos um deslocamento para o vermelho — o famoso redshift. É o Efeito Doppler em escala cósmica: a mesma lógica que faz a sirene de uma ambulância soar diferente quando se afasta, mas agora aplicado ao universo inteiro.

Isso significa que o cosmos está em expansão. Cada estrela, cada aglomerado de galáxias, cada fiapo de poeira cósmica se afasta de nós em um ritmo cada vez mais acelerado. O espaço se estica como um elástico que nunca para de ceder.

E aí, olhando daqui, não dá pra evitar o pensamento:
“As galáxias estão se afastando da gente… sinceramente, eu também estaria, se conhecesse os humanos.”

Porque não é só no céu que isso acontece.
Na vida também há distâncias que aumentam: amizades que se esticam até romper, lugares que ficaram longe demais para voltar, anos que se acumulam como luz vermelha indo embora. O tempo tem seu próprio Doppler.

Mas talvez o verdadeiro mistério não esteja no que foge — e sim no que resiste. Naquele afeto que insiste em permanecer, na memória que se recusa a se perder, na pessoa que ainda fica ao seu lado mesmo quando tudo parece se afastar.

O universo pode expandir o quanto quiser.
Afinal, a gente aprende que a distância não mede tudo — porque há coisas que, mesmo longe, continuam incrivelmente próximas.

📌 Epígrafe:
“O universo se expande. Mas não mais rápido que certas ausências.”

quinta-feira, setembro 18, 2025

✍️ Post Extra — O travessão é da IA ou do vernáculo esquecido?

Epígrafe

“Às vezes, não é a IA que escreve como humano — é o humano que desaprendeu a escrever como humano.”

Dizem que dá pra saber quando um texto foi escrito por inteligência artificial. O grande indício? O uso do travessão no meio da frase. Pois é — parece que o travessão virou a nova "pegada digital" das máquinas.

Mas calma: o pobre travessão não nasceu nos laboratórios de IA. Ele está lá nas boas e velhas regras de pontuação da língua portuguesa, servindo pra indicar diálogo, intercalações e até interrupções dramáticas. Nós é que fomos largando ele de lado, substituindo por vírgulas, reticências e até aquele indefensável “hífen disfarçado”.

E não é só o travessão que denuncia. Outras marcas que hoje parecem "coisa de robô" são, na verdade, só ecos do vernáculo que a gente esqueceu:

  • O uso correto de dois-pontos (que deveriam abrir explicações, e não apenas listas de compras);

  • A vírgula antes do "mas", que parece frescura, mas está certa;

  • O ponto e vírgula, que já foi respeitado e hoje vive exilado;

  • O itálico, que substituímos por aspas porque o botão do Word era mais fácil.

No fim das contas, talvez não seja a IA que esteja escrevendo como humanos. Somos nós que, preguiçosos ou apressados, fomos deixando de lado ferramentas da própria língua.

Então, se de repente você ler um texto meu com muitos travessões, não se assuste. Pode ser IA, pode ser coincidência, ou pode ser apenas eu tentando redescobrir o vernáculo — palavra que, aliás, já basta sozinha pra desmascarar qualquer impostor.

PS — se você é do time “ponto final em todas as frases”, tudo bem. Eu só queria o direito de dramatizar uma vírgula de vez em quando.

PS2 (ou adendo tardio) — Pedi para a IA gerar uma versão mais curta do texto para postar, e tive que corrigir um erro de Português dela. Ou seja: ainda estou vivo. 🧠

∞ Riemann: A Ansiedade Que Gerou o Infinito

Bernhard Riemann não parecia destinado à grandiosidade.

Na infância, sofria colapsos nervosos, falava pouco, evitava os olhos dos outros. A timidez e a ansiedade eram quase tão constantes quanto sua respiração. Mas, dentro do silêncio, havia uma mente acesa. Incandescente.

Foi desse fogo contido que nasceram algumas das ideias mais revolucionárias da matemática.
A integral de Riemann redefiniu a forma como calculamos áreas e volumes.
A geometria riemanniana serviu de alicerce para que Einstein explicasse a curvatura do espaço-tempo.
E a função zeta — aquela que ainda hoje mantém matemáticos acordados — segue como um enigma que pulsa no coração da teoria dos números.

Riemann não gritava. Não precisava. Suas ideias atravessaram séculos sem nunca levantar a voz.

E aí vem a pergunta: quantos Riemanns estamos ignorando hoje? Quantas mentes ansiosas, retraídas, colapsando em silêncio, guardam dentro de si visões capazes de mudar o mundo — mas não encontram espaço para ser ouvidas?

Talvez a lição seja essa: o silêncio não é ausência. É uma forma de linguagem.
E, às vezes, o pensamento mais profundo do século pode nascer justamente de quem nunca ousou interromper uma conversa.

📌 Epígrafe:
“Riemann não falava alto, mas suas ideias ainda ecoam no universo.”

quarta-feira, setembro 17, 2025

🌌 Entropia: A Bagunça é Natural (Mas Tá Acelerada)

 

A entropia é destino certo.
Do universo à sua gaveta de meias, tudo caminha, cedo ou tarde, para a desordem.

Na física, ela mede os estados possíveis de um sistema: quantas maneiras diferentes as coisas podem se embaralhar. Na vida, mede a quantidade de notificações que você ignora, o sono atrasado, as abas abertas no navegador e a sensação de que a cabeça já virou depósito de caixa de papelão.

Vivemos num mundo em que a informação cresce numa velocidade que nosso cérebro não acompanha. O resultado? F.O.M.O. (fear of missing out), ansiedade digital e aquela bagunça interna que parece novidade, mas o cosmos já previa desde o Big Bang.

E talvez seja isso o mais libertador: perceber que o caos não é exceção, mas regra. Que a gaveta desarrumada, os planos que não saem do papel e a vida que insiste em escapar da agenda não são falhas — são termodinâmica pura.

No fim, resistir à entropia é como etiquetar um armário que já explodiu por dentro. Mas, ainda assim, vale a tentativa. Porque talvez a beleza não esteja em vencer a bagunça, mas em dançar com ela.

📌 Epígrafe:
"A bagunça não é falha do sistema. É o sistema funcionando como deveria."
— Termodinâmica, provavelmente

terça-feira, setembro 16, 2025

📐 Post Extra — Bhaskara, a Vingança

Epígrafe:
"A vida adulta é a prova de que todo professor de matemática estava certo."


“Disseram que eu nunca ia usar a fórmula de Bhaskara.”
Pois bem… hoje, estudando Taxa Interna de Retorno, lá estava ela.
Sim, a velha conhecida da escola, o terror dos adolescentes, agora me ajudando a calcular investimentos como quem não quer nada.

E aí percebi: quase toda matemática escolar volta para nos assombrar na vida adulta.

👉 A regra de 3 reaparece em cada concurso, desconto ou receita de bolo.
👉 Os logaritmos que jurávamos ter enterrado ressurgem nos juros compostos e até no pH da água.
👉 PA e PG estão escondidas nos parcelamentos de loja e nas projeções da aposentadoria.
👉 Estatística? Basta abrir qualquer planilha de trabalho, relatório de desempenho ou pesquisa eleitoral.

O meme do “quando vou usar isso?” tem uma resposta cruelmente simples:
➡️ em algum momento, quando você menos esperar, e provavelmente com um carnê ou edital na mão.

Moral da história: se a vida é uma equação complicada, estudar Bhaskara talvez não resolva tudo… mas pelo menos te ajuda a calcular quando o problema começa a dar prejuízo.


📌 Adendo tardio (ou errata para os incautos de plantão):
Bhaskara, matemático indiano do século XII, não inventou a fórmula que leva seu nome nos livros brasileiros. A equação quadrática já era conhecida há milênios na Babilônia e foi desenvolvida muito antes dele. O título “fórmula de Bhaskara” é, na verdade, uma invenção local — um erro histórico que se propagou em gerações de educadores e livros didáticos no Brasil. Ou seja: se alguém vier corrigir, respire fundo, sorria e diga: “Sim, eu sei. Mas o fantasma é nosso e atende por esse nome.”


🌙 Post Extra — Elas Também Programaram a Lua (e Muito Mais)

 
“Quando mulheres são invisibilizadas, não é a ciência que vence — é a ignorância.”

Margaret Hamilton não pilotou a Apollo 11, mas sem ela o módulo lunar provavelmente teria dado com a cara no chão. A pilha de códigos que ela escreveu era maior do que ela mesma — literalmente. Na famosa foto, está ao lado da montanha de papéis que ajudaram a humanidade a pousar na Lua.

Décadas depois, Katie Bouman liderou o time que criou o algoritmo que nos deu a primeira imagem de um buraco negro. Lembra dela, sorridente em frente ao computador? Aquela não era só a foto de uma jovem cientista realizada, mas um símbolo de um futuro possível. E nesse mesmo projeto estava a astrofísica brasileira Lia Medeiros, ajudando a transformar matemática e radiotelescópios em uma janela para o abismo cósmico.

Mesmo assim, os números continuam a nos envergonhar: apenas 69 mulheres ganharam o Nobel em toda a história. Um número ridiculamente pequeno diante da imensidão da contribuição feminina para a ciência. Não é exagero dizer que muitas precisaram de um escudo extra: sobreviver em um ambiente dominado por homens, onde ainda ecoa a piada cruel de que, para ganhar um Nobel, é preciso ter um pênis.

O que isso revela? Que talento e dedicação não bastam. É preciso também lutar contra séculos de exclusão e preconceito. Enquanto a ciência insiste em se vender como universal, ainda carrega um viés muito humano: o patriarcado.

Mas talvez cada menina que se inspira em Margaret, Katie ou Lia seja parte da solução. Cada uma que resiste à invisibilidade e insiste em ocupar laboratórios, telescópios e quadros-negros. Não é só sobre “abrir portas”, é sobre arrancar as portas dos eixos.

Porque a ciência é muito maior — e mais bonita — quando ela tem rosto de mulher.

Epígrafe
“Se a Lua tem fases e o universo tem buracos negros, por que a ciência ainda insiste em ser tão monocromática?”

🌱 Post Extra — Zona de Conforto (ou pelo menos tentando chegar nela)

  📌 Epígrafe: “ Fortis fortuna adiuvat ” — A sorte favorece os corajosos. (tatuagem inscrita nas costas de John Wick ) Sempre ouvi que “...