Mas… serĂĄ?
đ A histĂłria nem sempre foi contada assim.
Antes de virar monstro, Medusa era uma mulher. Uma sacerdotisa de Atena, bela e respeitada, atĂ© ser violentada por Poseidon dentro do templo da prĂłpria deusa. Em vez de puni-lo, Atena transforma Medusa — nĂŁo em vĂtima, mas em vilĂŁ.
A partir daĂ, ela ganha o poder de petrificar com o olhar.
Mas quem de fato congelou? Ela — ou todos os que a temeram sem compreendĂȘ-la?
đ Medusa Ă© o medo que paralisa. E tambĂ©m o espelho que devolve.
NĂŁo Ă© Ă toa que sua imagem causa desconforto.
Medusa assusta porque carrega o peso do que evitamos ver: a injustiça transformada em fĂșria, o trauma virando defesa, o rosto feminino que grita e incomoda.
Ela é o arquétipo do que não se encaixa.
Do que nĂŁo se cala.
Do que nos obriga a encarar — ou virar pedra.
đȘ Talvez seja por isso que tantas narrativas, antigas e modernas, optam por matĂĄ-la logo.
Melhor cortar a cabeça do que sustentar o olhar.
đ E se o monstro fosse metĂĄfora?
Medusa virou sĂmbolo em vĂĄrias frentes:
-
No feminismo, como a mulher demonizada por expressar raiva.
-
Na psicanĂĄlise, como aquilo que nĂŁo queremos ver — mas que nos paralisa por dentro.
-
Na arte, como o belo que também fere, o feio que também protege.
đĄ A força de Medusa nĂŁo estĂĄ apenas no olhar petrificante.
Estå no fato de que ela também olha de volta.
E isso, para muitos, Ă© insuportĂĄvel.
đ± Hoje, Medusa tem perfil nas redes. E segue causando.
Pense nos posts que geram silĂȘncio.
Nos comentårios que expÔem o incÎmodo.
Nas pessoas que nĂŁo se encaixam no molde — e sĂŁo chamadas de “exageradas”, “intensas”, “desnecessĂĄrias”.
Medusa estĂĄ ali.
Serpenteando nos espaços onde a verdade não é bem-vinda.
đ NĂŁo Ă© fĂĄcil olhar para ela — porque, ao fazer isso, talvez a gente encare tambĂ©m nossos prĂłprios medos.
Nossas vergonhas.
Nossas sombras mal resolvidas.
𧩠E se, no fim, ela fosse só mais uma mulher que ninguém quis escutar?
Talvez a grande tragédia de Medusa seja essa:
Ter sido contada sempre pelo olhar dos outros.
Dos deuses, dos herĂłis, dos escultores, dos escritores.
Talvez agora seja hora de ouvir a versĂŁo dela.
De reconhecer que Ă s vezes, o que chamamos de “monstro” Ă© sĂł alguĂ©m que cansou de ser quebrado e aprendeu a devolver o golpe com o olhar.
đ Medusa ainda vive.
Nos silĂȘncios.
Nos gritos ignorados.
Nos olhares desviados.
E também nas pequenas coragens do cotidiano, quando alguém finalmente ousa encarar o que sempre evitou.
đ️ Porque talvez a pedra nĂŁo seja o problema.
O problema Ă© nunca ter olhado de verdade.
Nenhum comentĂĄrio:
Postar um comentĂĄrio