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sexta-feira, junho 27, 2025

Medusa e o Medo de Encarar Verdades

 đŸ Quando pensamos em Medusa, vem logo a imagem clĂĄssica: uma mulher de rosto furioso, com serpentes no lugar do cabelo, capaz de transformar em pedra quem ousar olhar diretamente para ela. Um monstro, dizem. Uma ameaça.

Mas… serĂĄ?

📖 A história nem sempre foi contada assim.
Antes de virar monstro, Medusa era uma mulher. Uma sacerdotisa de Atena, bela e respeitada, atĂ© ser violentada por Poseidon dentro do templo da prĂłpria deusa. Em vez de puni-lo, Atena transforma Medusa — nĂŁo em vĂ­tima, mas em vilĂŁ.
A partir daĂ­, ela ganha o poder de petrificar com o olhar.
Mas quem de fato congelou? Ela — ou todos os que a temeram sem compreendĂȘ-la?


🔍 Medusa Ă© o medo que paralisa. E tambĂ©m o espelho que devolve.

NĂŁo Ă© Ă  toa que sua imagem causa desconforto.
Medusa assusta porque carrega o peso do que evitamos ver: a injustiça transformada em fĂșria, o trauma virando defesa, o rosto feminino que grita e incomoda.
Ela é o arquétipo do que não se encaixa.
Do que nĂŁo se cala.
Do que nos obriga a encarar — ou virar pedra.

đŸȘž Talvez seja por isso que tantas narrativas, antigas e modernas, optam por matĂĄ-la logo.
Melhor cortar a cabeça do que sustentar o olhar.


🎭 E se o monstro fosse metáfora?

Medusa virou sĂ­mbolo em vĂĄrias frentes:

  • No feminismo, como a mulher demonizada por expressar raiva.

  • Na psicanĂĄlise, como aquilo que nĂŁo queremos ver — mas que nos paralisa por dentro.

  • Na arte, como o belo que tambĂ©m fere, o feio que tambĂ©m protege.

💡 A força de Medusa não está apenas no olhar petrificante.
Estå no fato de que ela também olha de volta.
E isso, para muitos, Ă© insuportĂĄvel.


đŸ“± Hoje, Medusa tem perfil nas redes. E segue causando.

Pense nos posts que geram silĂȘncio.
Nos comentårios que expÔem o incÎmodo.
Nas pessoas que nĂŁo se encaixam no molde — e sĂŁo chamadas de “exageradas”, “intensas”, “desnecessĂĄrias”.
Medusa estĂĄ ali.
Serpenteando nos espaços onde a verdade não é bem-vinda.

🔄 NĂŁo Ă© fĂĄcil olhar para ela — porque, ao fazer isso, talvez a gente encare tambĂ©m nossos prĂłprios medos.
Nossas vergonhas.
Nossas sombras mal resolvidas.


đŸ§© E se, no fim, ela fosse sĂł mais uma mulher que ninguĂ©m quis escutar?

Talvez a grande tragédia de Medusa seja essa:
Ter sido contada sempre pelo olhar dos outros.
Dos deuses, dos herĂłis, dos escultores, dos escritores.
Talvez agora seja hora de ouvir a versĂŁo dela.
De reconhecer que Ă s vezes, o que chamamos de “monstro” Ă© sĂł alguĂ©m que cansou de ser quebrado e aprendeu a devolver o golpe com o olhar.


📎 Medusa ainda vive.
Nos silĂȘncios.
Nos gritos ignorados.
Nos olhares desviados.
E também nas pequenas coragens do cotidiano, quando alguém finalmente ousa encarar o que sempre evitou.

👁️ Porque talvez a pedra nĂŁo seja o problema.
O problema Ă© nunca ter olhado de verdade.

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