A Origem da Dor Moral
A palavra "Escrúpulo" não é apenas um conceito moral; ela tem origem no chão batido. Vem do latim scrupulus: uma pequena pedra afiada.
Nos tempos romanos, um legionário em marcha interminável sentia a scrupulus na sandália. Ele tinha uma escolha: seguir em frente, pisando na dor e arriscando uma ferida, ou parar para tirar a pedra, enfrentando a bronca do centurião e o atraso. O escrúpulo, então, era o incômodo físico que forçava uma pausa e uma decisão ética.
Enquanto isso, os poderosos — em seus cavalos ou liteiras — não sabiam o que era esse tormento.
O Privilégio da Indiferença
Talvez seja por isso que nasceu a ideia de que gente no topo "não tem escrúpulos". Não necessariamente por serem demônios da maldade, mas por estarem blindados contra a dor moral de uma escolha difícil. Eles não pisam no chão, não sentem a pedra.
O escrúpulo é o nosso sistema de alerta interno. É aquele pequeno desconforto que diz: "Se você fizer isso, vai machucar alguém (inclusive você)." É a pedra minúscula que a boa pessoa decide parar para tirar do caminho, e que a pessoa perigosa decide ignorar, pisando em cima dela.
Nossas decisões mais éticas não nascem de grandes sermões filosóficos; elas nascem dos incômodos mais pequenos.
A diferença entre uma boa pessoa e uma perigosa é essa: a vontade de parar e se sujar, em vez de seguir marchando com a consciência em dor.
Quem não sente nenhum desconforto nas escolhas que faz... talvez já tenha deixado de caminhar.
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