A ideia é simples: alguém afirma que tem um dragão na garagem. Você vai verificar, mas não vê nada. O dono garante que ele é invisível. Você tenta ouvir — silêncio. Ele explica que o dragão não faz som. Tenta jogar farinha no chão para ver as pegadas — mas o dragão, claro, não deixa rastros. Cada teste falha, e cada falha é justificada por uma nova exceção.
O que sobra, no fim, não é um dragão, mas a crença no dragão. Uma crença que se fortalece justamente porque é impossível de refutar.
Esse pequeno conto de garagem é, na verdade, uma parábola sobre nós mesmos. Sobre como aceitamos dragões invisíveis em forma de teorias da conspiração, correntes de WhatsApp, conselhos milagrosos, curas instantâneas e certezas absolutas. E o mais curioso: muitas vezes acreditamos não porque tenhamos provas, mas porque a ideia nos dá conforto.
O dragão de Sagan vive nas mesmas sombras onde habitam os “demônios” do livro — o autoengano, o viés de confirmação, a necessidade quase visceral de ter explicações rápidas para o que não entendemos.
E é aí que entra a beleza da ciência, não como colecionadora de verdades eternas, mas como um convite à humildade: testar, questionar, duvidar. Saber que a ausência de prova não é prova da ausência, mas também não é justificativa para acreditar em qualquer coisa.
No fundo, todos nós carregamos dragões na cabeça. O que Sagan nos pede não é para exterminá-los — mas para aprender a reconhecê-los, rir de alguns, e manter outros em quarentena, até que o teste do tempo nos diga se eram realidade... ou só fumaça em forma de crença.
✨ Epígrafe:
“Dragões invisíveis são fáceis de criar. Difícil é criar coragem para perguntar se eles realmente estão lá.”
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